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Crise das livrarias: Saraiva de portas fechadas e dados preocupantes

A notícia foi dada pelo Globo: a Saraiva decidiu (ou precisou) mandar funcionários embora e fechar todas as suas lojas físicas para focar apenas no mercado online. Pegou muita gente de surpresa. Diversos leitores sequer sabiam que a livraria ainda existia. Não faziam ideia de que as últimas cinco lojas da outrora grande rede estavam em cantos de São Paulo e em Campo Grande.

É um novo episódio de uma morte que se arrasta há quase uma década. Pessoas pra caramba ficaram e ainda ficarão na mão ao longo dessa agonia. Destaco as editoras que jamais receberam por seus livros consignados e os trabalhadores que seguem enroscados na justiça em busca de seus direitos.

A pindaíba da Saraiva é irmã da derrocada da Cultura. São Quincas Berro D'Água que morrem e, depois, morrem mais um pouco. Escrevi sobre essa crise das grandes redes aqui. Não se preocupem, as livrarias não irão acabar. Certos modelos, no entanto, precisam ser revistos, algo que se aplica a todos os campos do varejo.

Livrarias seguirão existindo, mas não que seja uma missão fácil para seus donos. Outra notícia da semana passada merece atenção. Esta saiu no Publishnews, portal dedicado à cobertura do mercado editorial. Segundo dados do mais recente Anuário Nacional de Livrarias, feito pela Associação Nacional de Livrarias, o Brasil conta com 2.972 lojas do tipo - a apuração foi finalizada no meio do ano.

Um dado bom: em 2022, cerca de 100 livrarias foram abertas pelo país. Um dado ruim: desde 2013, o número dessas lojas caiu 1,8%. Alguns dados muito preocupantes: há 1.814 livrarias no Sudeste, 561 no Sul, 334 no Nordeste, 165 no Centro-Oeste e apenas 98 na região Norte.

Quando olhamos para os estados, o contraste é ainda maior. São Paulo conta com 1.167 livrarias, Minas Gerais, com 353, e o Rio Grande do Sul, com 293. Na outra ponta, Rondônia e Tocantins são atendidos por 10, o Acre, por 7, e o Amapá por míseras (e bravas) 4 livrarias. Não direi que há concentração demais de lojas de um lado, mas sem dúvidas faltam livrarias (ou condições para quem alguém se interesse em investir em livrarias) do outro.

O tipo de livrarias existentes também merece ser observado. São 1.047 de interesse geral e literatura, 914 focadas em livros infantis, juvenis e quadrinhos (o debate sobre a questionável decisão de atrelar HQs ao público jovem fica para outra hora) e 693 religiosas, área na qual agrupo as evangélicas, católicas, espíritas e de outras crenças. Com boa distância, completam a relação as 158 livrarias dedicadas aos livros técnicos e científicos, 102 sebos, 52 especializadas em didáticos e 46 focadas em idiomas.

Sublinho um dos dados: 693 livrarias especializadas em livros de religiões de diferentes matizes. Ou seja, 23% das livrarias do país focam em livros encarados de forma dogmática por boa parte de seus consumidores. É um debate espinhoso, reconheço, até por isso que tantos o evitam, contudo, a qualidade do que se lê e a forma como se lê deveriam ser preocupações mais presentes nas discussões do setor.

Não me parece absurdo supor que é preciso ampliar a quantidade de leitores interessados em múltiplas vertentes da literatura, não apenas em buscar certas respostas, para garantir que boas livrarias consigam se manter firmes e se espalhem pelo país.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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