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7 motivos para ler José Saramago (inclui cachorrinhos)

O escritor José Saramago com Camões, um de seus cachorros. - Arquivo
O escritor José Saramago com Camões, um de seus cachorros. Imagem: Arquivo

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

14/11/2022 04h00

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O nascimento de José Saramago completa cem anos nesta quarta, dia 16. Muito já foi dito sobre a obra do autor de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", "O Ano da Morte de Ricardo Reis" e "História do Cerco de Lisboa" por aqui. Há duas semanas, por exemplo, bati um longo papo com o pesquisador Pedro Fernandes sobre o trabalho do escritor. Agora, listo sete motivos para que todos leiam Saramago:

- Premiado em 1998, o português é o único escritor de nossa língua a receber o Nobel de Literatura. A medalha por si só não seria argumento para esta breve lista. Não faria campanha para darem chance ao insosso Patrick Modiano ou ao bajulado Winston Churchill, por exemplo, também galardoados pela Academia Sueca. Saramago, porém, está entre os nobelizados donos de uma obra de fato magnífica. Então, leiam o cara não só por causa do Nobel, mas também por isso.

- Anotei num livro: Saramago trata o texto da mesma forma como devemos tratar uma porção de torresmo. Ele tempera com sal, o humor, e depois rega tudo com limão, a ironia, o que faz toda a diferença. Gosto de humor e de ironia, traços dos que mais me agradam mesmo nas narrativas pesadas do autor. Sim, também gosto de torresmo, e provavelmente estava com fome naquele momento da leitura.

- A península que se descola do continente e vaga pelo mar. A morte que pausa seu trabalho para que durante algum tempo ninguém morra em determinado país. Um surto de cegueira que paulatinamente acomete toda uma nação. Saramago sabia usar os elementos da fantasia para investigar (e fustigar) os temas que lhe interessavam.

- Sim, dá trabalho se familiarizar com a linguagem do português. É preciso atenção e certo traquejo para não se perder em parágrafos longuíssimos com pontuações pouco usuais e vozes a se alternar sem muito alarde. Em todo caso, não se amedrontem. Parte da fama de difícil a ele imputada é discurso de quem tem preguiça de encarar qualquer literatura que não venha mastigada. Somos muito bem recompensados por Saramago após sacarmos qual é a dele.

- "Os cães são sonhadores incorrigíveis, chegamos a sonhar de olhos abertos", lemos em certo momento do terno "As Intermitências da Morte". Os cães passeiam pela obra do autor. São elementos importantes de histórias como "A Caverna", "A Jangada de Pedra" e "Ensaio Sobre a Cegueira". Sempre me alegram esses camaradas pelas leituras. Certa vez, Saramago disse encontrar "nos cachorros mais humanidade que nos homens". É compreensível.

- Como bem disse Pedro Fernandes no episódio do podcast que mencionei no início da coluna, Saramago nos faz enxergar o mundo com outros olhos (aliás, aproveitem aquele papo para pescar dicas de quais livros do português ler primeiro). Por meio de suas narrativas, o autor leva o leitor a refletir sobre questões históricas, humanas, sociais e políticas - vale reparar na maneira como espezinha governos.

- "Sem democracia não pode haver direitos humanos, mas sem direitos humanos também não haverá democracia. Estamos numa situação em que se fala muito de democracia e nada de direitos humanos. Creio que essas são as duas grandes batalhas para este século. E se não nos lançarmos nelas, o século será um desastre". A citação de Saramago é do início do milênio e segue tão atual quanto necessária. De muitos modos o trabalho do autor contribui com essa batalha em defesa da democracia e dos diretos humanos.

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