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OPINIÃO

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Dom Quixote, Macabéa e outros personagens inesquecíveis da literatura

Tieta, de Jorge Amado, pelos traços de Floriano Teixeira. - Reprodução
Tieta, de Jorge Amado, pelos traços de Floriano Teixeira. Imagem: Reprodução

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

03/11/2022 04h00

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De bate-pronto, quem vem à cabeça é Dom Quixote, o cavaleiro da triste figura. Ali pelos meus 20 anos que perambulei pela Mancha para acompanhar lutas contra dragões disfarçados de moinhos de vento e bravas tentativas para edificar Dulcineia, a idealizada de Toboso. E Quixote não vem só. Estão no monumento de Cervantes outros dois dos personagens mais marcantes de minha caminhada literária: Rocinante, o pangaré transformado num imponente cavalo, e o baixote Sancho Pança, nomeado escudeiro de Quixote.

Conecto esses dois últimos com outros de meus personagens mais queridos. Dentre os animais, ninguém supera Baleia, a vira-lata de "Vidas Secas" que parte da vida sofrida para encontrar um mundo cheio de preás gordos. Famoso pelo estilo direto, às vezes duro, é de Graciliano Ramos uma das cenas mais tristes, bonitas e marcantes da literatura.

Sancho, por sua vez, me faz pensar em certa admiração que tenho também por coadjuvantes. De "Harry Potter", nunca fui muito com a cara do protagonista com cicatriz de raio na testa. Do trio principal preferia tanto Rony quanto Hermione. Mas são outros os meus personagens favoritos da saga juvenil: Dumbledore, Sirius Black e, em primeiro lugar, o desengonçado Hagrid, com quem sempre me identifiquei.

Indo alguns anos mais para trás na memória de leitor, encontro o difuso gosto pela "Turma da Mônica". Personagem que mais me marcou do pessoal do Mauricio de Sousa? Não tenha a menor ideia. Cascão, talvez. Ou Franjinha. Chico Bento, quem sabe. Da infância, então, fico mesmo com o Menino Maluquinho, de Ziraldo, como grande representante. Projetava muito do que gostaria de viver nas molecagens do camarada com panela na cabeça.

Repasso os amigos que fiz pelos livros por conta da edição deste ano da Festa Literária Internacional do Pelourinho, que já começou e irá até domingo, dia 6, no Centro Histórico de Salvador. Realizada graças a uma parceria entre o Sesc e a Fundação Jorge Amado, neste ano a organização da Flipelô escolheu homenagear os personagens mais célebres do escritor que criou um time de peso para a nossa literatura: Gabriela, Dona Flor, Tieta, o Gato Malhado, Antônio Balduíno, Pedro Archanjo...

"O personagem é quem faz o romance! Quando é o autor que faz o romance, o romance não presta. Pelo menos no meu caso. Sou incapaz de contar uma história...", dizia Amado. Dele carrego lembranças principalmente de dois caras bem distintos: do bom de copo e ruim de morrer Quincas, de "A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua", e de Pedro Bala, um dos moleques de "Capitães da Areia". Há, diga-se, uma exposição rolando na Fundação sobre os personagens do escritor (aqui informações tanto sobre a mostra quanto a respeito da edição deste ano da Flipelô).

Ainda teria uma lista longa de gente literária que vive em minhas memórias. De Clarice Lispector são três quase obviedades: Mineirinho, G. H. e, claro, Macabéa. De Conceição Evaristo, Ponciá Vicêncio. Olhando para outras latinas, lembro a sagaz M, de "Kramp", de María José Ferrada. E Cormac McCarthy ainda me espanta com o juiz Holden, de "Meridiano de Sangue". Todos têm lugar nessa seleção memorável que só tende a aumentar.

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