Topo

Página Cinco

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Entre patrulhamentos e a força da coletividade

Tradutor, Ariana Harwicz, Socorro Acioli, Franklin Carvalho e Schneider Carpeggiani na Festa Literária Internacional de Praia do Forte - Waldyr Lantyer
Tradutor, Ariana Harwicz, Socorro Acioli, Franklin Carvalho e Schneider Carpeggiani na Festa Literária Internacional de Praia do Forte Imagem: Waldyr Lantyer

Rodrigo Casarin

Colunista do UOL

06/08/2022 15h04

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

"Não há crimes nos livros. Há crimes na vida".

A fala da argentina Ariana Harwicz, autora de bordoadas como "Morra, Amor" e "Degenerado" (Instante), lembra o evidente: a ficção é o espaço ideal para se trabalhar questões a serem evitadas e combatidas no mundo real. É importante reforçar esse papel da arte em tempos de tantas confusões e gritarias sobre o que, para alguns, deve ou não estar - e como pode estar - dentro de uma obra literária.

Ariana é uma das convidadas da 3ª edição da FliPF, a Festa Literária Internacional de Praia do Forte, que vai até amanhã, dia 7 de agosto. Ontem, dividiu a mesa "Do Amor e Outros Demônios" com os brasileiros Franklin Carvalho, autor de "Eu, Que Não Amo Ninguém" (Reformatório), e Socorro Acioli, que assina o romance "A Cabeça do Santo" (Companhia das Letras). A mediação foi de Schneider Carpeggiani, que também faz o meio de campo do papo entre Alex Simões, Maria Dolores Rodriguez e Ondjaki - escuto os quatro de orelhada enquanto batuco estas palavras.

Em sua participação, Ariana ainda recordou da surpresa ao saber que quatro de seus livros sairiam no Brasil. Contou ser comum editores de outros países lançarem um ou dois de seus romances e aguardarem a repercussão. Observam se a autora não será "cancelada" por trabalhar com personagens como um réu acusado de pedofilia e uma mãe com repúdio do filho há pouco parido. A vigilância constante que existe sobretudo nas redes sociais foi outro ponto tocado ao mencionar "estranhas democracias" onde se cobram que todos pensem iguais.

Entre o horror possível nos livros e as atitudes bem-vindas na vida, pouco antes da mesa de Ariana com Socorro e Franklin estiveram no palco da FliPF Giovana Madalosso, autora de "Suíte Tóquio" (Todavia), a slammer Roberta Estrela D'Alva e a pesquisadora e crítica literária Milena Britto, integrante da curadoria da Flip deste ano. Num papo mediado por Tom Correia, chamou a atenção como as três olharam para o meio artístico para salientar a força que a coletividade pode ter.

Milena comentou a construção da primeira Flip com três mentes diferentes à frente da curadoria. Giovana, que em junho coordenou um movimento de fotos de escritoras, trouxe a alegria de uma autora com diversos livros publicados ao lhe dizer finalmente se sentir uma escritora graças ao momento em meio às colegas. Já Roberta reforçou: a caminhada de duas décadas junto de coletivos serviu para, paulatinamente, construir uma base de confiança que lhe segura sempre que alguma dúvida sobre o próprio trabalho ronda a sua cabeça.

Questões importantes. Caminhos possíveis.

Viajei para Praia do Forte a convite da FliPF.

Você pode me acompanhar também pelas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e Spotify.