Topo

Página Cinco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Olavo de Carvalho sabia qual era o mínimo para fazer muita gente de idiota

Guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho morreu há poucas horas - Vivi-Zanatta/Folhapres
Guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho morreu há poucas horas Imagem: Vivi-Zanatta/Folhapres

Colunista do UOL

25/01/2022 11h57Atualizada em 26/01/2022 10h20

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Olavo de Carvalho está morto.

Guru do bolsonarismo, Olavo foi um dos pilares da ascensão da extrema direita no país. Tornou-se famoso. Angariou milhares de seguidores bitolados em sua visão torpe de mundo. Era difícil de crer que ele mesmo acreditava em muitas das bobagens que pregava. Parece claro que tenha se transformado num meme humano para alcançar muita gente na internet, só é de se desconfiar do quanto se perdeu no personagem que criou para si.

Antes disso, Olavo soube ser mais ardiloso. Escreveu para veículos como a revista Bravo! e o jornal Folha de S. Paulo. Seus livros (especialmente "O Imbecil Coletivo" e "O Mínimo que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota", publicados pela Record) estiveram na linha de frente da falange de obras com o pensamento de extrema direita que invadiu nossas livrarias nas duas primeiras décadas deste século.

Olavo formou muitos seguidores que hoje pregam para milhares de pessoas pela internet. Na parte literária, há traços em comum entre esses críticos e influenciadores olavistas. Preferem o comodismo algo covarde de falar sobretudo dos clássicos, daqueles livros que têm o caminho crítico e de recepção já traçados. Mostram desprezo e fazem chacota com a literatura contemporânea, ainda que ocasionalmente elejam um escolhido para defender. Olham para o poeta Bruno Tolentino, autor de "As Horas de Katharina" e que morreu em 2007, como a maior preciosidade das últimas décadas da literatura brasileira.

Com um culto desmedido às pompas e tradições, são pessoas que têm a própria ideologia como chave primordial para encarar qualquer leitura. É irônico, pois com frequência atribuem esse traço a leitores que julgam ser "comunistas". Essa, aliás, parece ser uma característica bastante presente na extrema direita olavista: acusar os outros de praticarem exatamente aquilo que fazem ou planejam.

Quando escrevi sobre "O Imbecil Coletivo", entendi por que Olavo tinha potencial para encontrar tantos seguidores. Em textos que portavam ou pelo menos fingiam alguma erudição, mostrava uma visão de mundo racista, homofóbica, maniqueísta, elitista e autoritária. Artigos que fariam (e fizeram) bem àqueles que se orgulhavam ou se orgulham de também carregar esses traços. Para coroar, ainda se apresentava como uma possível salvação num ambiente em que a intelectualidade, com toda sua complexidade reduzida a um amontoado só, estaria completamente podre.

Muita gente comprou as ideias do guru. Acreditou que seguir Olavo era mesmo fazer parte de uma congregação de iluminados que salvariam o país, depois o mundo, de ameaças tão concretas quanto os fetos utilizados na fabricação da Pepsi.

Alguém utilizar a roupagem intelectual para pregar grandes cretinices pode ser perigoso, como a história ensina a quem quer ou pode aprender. Já foram muitas as ideias estapafúrdias e criminosas defendidas por charlatões disfarçados de pensadores respeitáveis. É só olhar para Brasília e depois para os grupos de Whatsapp em que pessoas seguem pregando idiotices que encontraremos o que Olavo de Carvalho nos legou.

Errata: diferente do informado antes, Olavo colaborou com a revista Bravo!, não com a Cult.

Você pode me acompanhar também pelas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e Spotify.