Topo

Página Cinco

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Marina Colasanti: 'Eu fui amamentada com livros'

Colunista do UOL

05/11/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Na 102ª edição do podcast da Página Cinco:

- Papo com Marina Colasanti, que acaba de lançar "Vozes de Batalha" (Tusquets).

- A 4ª edição da Flima.

- Curso sobre biografias com Ruy Castro.

- "A Casa de Letea", de Mauro Maciel (Bestiário), e "Ana Não Sabe Nadar", de Ticiana Werneck, nos lançamentos.

Destaques do papo com Marina:

Gabriella e Henrique esquecidos

O Brasil esqueceu dessa mulher maravilhosa, dessa cantora lírica inigualável, assim como esqueceu do meu tio Henrique Lage... O Brasil tem razão para esquecer Henrique Lage, porque lhe deve uma fortuna incomensurável.

Mulher de amores

Naquela época, uma mulher dos palcos era considerada puta pelo resto da sociedade. Gabriella teve muitos amantes, nunca escondeu nenhum deles, vivia abertamente os seus amores... Era uma mulher muito livre. Livre demais para o seu tempo.

Saudade

A maior saudade é a da mansão do Parque Lage e da vida familiar que se vivia ali.

Miséria

No começo se falou que a pandemia deu visão aos invisíveis. Invisíveis para quem, cara pálida? Eu vejo a miséria nas ruas, nos moradores de rua. Eu vejo a miséria dos governos, deixando crescer e crescer e mais crescer as favelas. As favelas não são um lugar bonito para se viver. Quando cheguei ao Rio, o maior feito de um político era colocar uma bica d'água ao pé da favela. Assim nasceu aquela música: "Lata d'água na cabeça/ lá vai Maria". Maria se cansava, ao contrário do que diz a música. Maria se cansava muito levando duas ou três latas cheias de água morro acima.

Educação X desgoverno

A educação é a única ferramenta que pode nos tirar do buraco em que fomos metidos. Mas a educação está uma droga, a ciência está uma droga, a saúde está uma droga. E o governo é um desgoverno, conforme apresentado na CPI da Covid.

Amamentada com livros

Eu fui amamentada com livros. Minha mãe e minhas babás não nos contavam histórias, liam para nós com os livros no colo. Então, a primeira palavra que me chegou foi a escrita. E a palavra oral é muito diferente da escrita. A palavra escrita implica uma sofisticação, a composição exata de uma frase. A palavra oral é muito diferente, se improvisa, inclui gírias. Eu nunca fui educada com a palavra oral.

Brasil e o cheiro da selva

Quando cheguei ao Brasil, tinha heróis de Salgari e Kipling na cabeça. Tinha o cheiro da selva, que havia aprendido nos livros, dentro do nariz. Na primeira noite que passei no Parque Lage, abri as janelas para que entrasse o ar daquela selva misteriosa. Eu cheirei e reconheci o cheiro que eu havia lido em tantos livros. Pensei: então o cheiro do Brasil é esse.

Grandioso no pequeno

Eu não sou pessoa do grandioso. Eu encontro o grandioso no pequeno. Sei que a mínima formiga tem tanta vida quanto as constelações... A vida, para mim, é um dom supremo.

Poesia essencial

Ler poesia é essencial. Porque a poesia não fala através das palavras, fala por trás das palavras. Cada um entende a poesia como quiser. Cada um responde à poesia de acordo com as suas emoções naquele momento.

Balanço da carreira

Avalio que estou pronta para ir-me embora.

A foto de Marina Colasanti usada na arte do podcast foi feita por Alessandra Colasanti.

O podcast do Página Cinco está disponível no Spotify, na Apple Podcasts, no Deezer, no SoundCloud e no Youtube.

Você pode me acompanhar também por essas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.