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OPINIÃO

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Desaprendeu a rir? Livros para desenferrujar o sorriso

Pintura de Jacob Cornelisz. - Reprodução
Pintura de Jacob Cornelisz. Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

28/06/2021 10h05

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Devia ter uns 10 anos quando aproveitei os caraminguás dados pelos meus pais para comprar um livro do "Casseta e Planeta" numa Bienal de São Paulo. Provavelmente o volume estava num daqueles saldões de apostas encalhadas, então o erro não deve ter custado tão caro. Aê aê aê aê. Ê ê ê ê. Ô ô ô ô ô ô ôooo. O que seria do axé sem as vogais!? Sim, era esse o nível das piadas. Um horror, um horror.

Sempre que me pedem sugestões de livros engraçados, é essa coisa tosca que me vem à cabeça. Uma pena. Demoro um bom tanto para lembrar de títulos que realmente renderam risadas ou bons sorrisos no meu imaginário. São reações tão raras quanto desejáveis nesses dias tenebrosos.

Em março do ano passado ainda engatinhávamos na pandemia mas já dizíamos não aguentar mais esta situação na qual chafurdamos. Escrevi sobre esse assunto destacando a antologia "O Melhor do Humor Brasileiro", organizada pelo Flávio Moreira da Costa (Companhia das Letras). Aproveitei para pescar diversas ótimas citações de Millôr Fernandes, um mestre.

Para esta volta ao tema, mandei uma mensagem pro escritor Henrique Rodrigues e perguntei o que ele tinha para indicar. Romancista, poeta, autor de livros infantis, Henrique estudou a verve cômica de Millôr na universidade e agora prepara um livro de contos de humor. Para ele, quem está atrás de algo nessa linha pode procurar por um exemplar de "História do Brasil Pelo Método Confuso", de Mendes Fradique, publicado em 1922. "Trata-se de uma sátira hilária da nossa história. Na leitura, fazemos um passeio pela República Velha com o inteligente olhar do humorista", diz.

Nunca ouviu falar no Mendes Fradique? Pois eu também não conhecia.

Depois que a coleção de bobagens do "Casseta e Planeta" sai da minha cabeça, começo a recordar de alguns bons livros. "Nu, De Botas", do Antonio Prata (Companhia das Letras), "Se Não Entenderes Eu Conto de Novo, Pá" e "A Dor, o Sofrimento e a Morte Entram Num Bar", ambos do português Ricardo Araújo Pereira (Tinta da China), valem muito a pena. "Se Deus Me Chamar Não Vou", da Mariana Salomão Carrara (Nós), tem a graça de uma garotinha sagaz. "Tudo Pode Ser Roubado", da Giovana Madalosso (Todavia), ganha pelas cenas.

O sorriso no imaginário que mencionei há pouco aparece fácil durante leituras como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do Machadão, e "A Jangada de Pedra", do Saramago - os narradores se destacam nos dois casos. "Dom Quixote", com suas passagens eternas, é divertidíssimo. Ariano Suassuna tem uma obra pronta para nos fazer gargalhar mesmo em tempos tão difíceis. Hilda Hilst, Murilo Rubião e Stanislaw Ponte Preta, além do óbvio Luis Fernando Verissimo, são outros que podem dar uma força para desenferrujar o sorriso.

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