Restaurantes no Brasil e em área de conflito: chefs da África para conhecer

O paladar é uma porta de entrada para a cultura, uma tradição passada através de gerações e uma expressão vívida das riquezas de uma nação. Na vanguarda dessa narrativa culinária, estão os chefs africanos, cujas criações estão desencadeando uma revolução saborosa na cena gastronômica global.

De norte a sul, leste a oeste, os cozinheiros do continente africano unem o resgate das raízes africanas e a inovação, e trazem à tona ingredientes autênticos que há muito tempo foram subestimados.

Entre eles está a chef beninense Valérie Vinakpon, proprietária do restaurante Saveurs du Benin (Sabores do Benin, em tradução livre). A chef tem feito um esforço incrível para registrar as memórias culinárias do país. Entre os seus principais pratos está o "telibo sauce égoussi aux gombos", ou seja, quiabos ao molho de egusi (sementes) e telibo (massa de inhame).

Quiabos ao molho de egusi (sementes) e telibo (massa de inhame) da chef beninense Valérie Vinakpon, proprietária do restaurante Saveurs du Benin (Sabores do Benin, em tradução livre).
Quiabos ao molho de egusi (sementes) e telibo (massa de inhame) da chef beninense Valérie Vinakpon, proprietária do restaurante Saveurs du Benin (Sabores do Benin, em tradução livre). Imagem: Origens / UOL

Valérie é uma das convidadas da série "Origens - Um chef brasileiro no Benin", na qual o chef João Diamante narra a sua jornada pelo continente africano em busca de entender melhor como a culinária de lá está relacionada com a história do Brasil.

Abaixo você confere a seleção feita pelo professor de tecnologia em gastronomia Jorge da Hora com outros chefs de cozinha que transformam pratos em obras de arte, preservam tradições e redefinem o papel do continente africano na cultura gastronômica mundial, inclusive no Brasil, como a camaronesa Melanito Biyouha e Pitchou, do Congo.

Melanito Biyouha, camaronesa chef do Biyou'Z, em São Paulo.
Melanito Biyouha, camaronesa chef do Biyou'Z, em São Paulo. Imagem: Mathilde Missioneiro / Folhapress


Melanito Biyouha | Camarões

A chef de cozinha e artista camaronesa chegou ao Brasil e notou a presença significativa da comunidade africana no país. Ela viu a oportunidade de abrir um restaurante para atender, não apenas seus compatriotas, mas também a diversificada população de africanos de várias regiões do continente que aqui residem.

Continua após a publicidade

Com dedicação, pesquisou as tradições culinárias de nações como Angola, Nigéria, Senegal, Gana e República dos Camarões, entre outras. Com uma ampla gama de sabores, cores e aromas, fundou o restaurante Biyou'Z Afro. Entre seus pratos-chefe dela está o 'attieke', um cuscuz de mandioca servido com peixe frito, vinagrete, refogado de tomate e ovo cozido.

Mamadou Sène | Senegal

O chef senegalês Mamadou Sène.
O chef senegalês Mamadou Sène. Imagem: Lenara Petenuzzo / Divulgação

A cozinha do chef carrega a sua trajetória multicultural. O curso de cozinha e hotelaria da École Hotelière de Dakar abriu as portas para o mundo, quando recebeu uma bolsa de estudos em Chambéry, na França. De volta para sua cidade-natal, Mamadou tornou-se chef da rede de hotéis Club Mediterranée, onde pode conhecer países como Marrocos, Emirados Árabes, Itália e Taiti.

Por meio da gastronomia, ele conheceu mais de 20 países e, de todos, escolheu o Brasil para morar. Entre as receitas criadas por ele estão o gratin de legumes, a salada de frutas tailandesa, a batata dauphine, o bolinho de lentilha e a salada de couscous.

Selassie Atadika | Gana

Em Gana, a chef Selassie Atadika criou a ?Midunu?, plataforma que conecta comida, cultura e comunidade local.
Em Gana, a chef Selassie Atadika criou a ?Midunu?, plataforma que conecta comida, cultura e comunidade local. Imagem: Reprodução / Redes Sociais

Finalista, em 2019, do Basque Culinary World Prize e considerada pela EAT Foundation and Culinary Institute of America como uma das 50 chefs mais inovadoras do mundo, Selassie Atadika criou a 'Midunu', plataforma que conecta comida, cultura e comunidade local.

Continua após a publicidade

Ela também atua como um "laboratório experimental" criando conceitos gastronômicos inovadores com ingredientes locais do continente africano. Um dos principais projetos são os eventos nômades que produz, com refeições mensais em diferentes locais de Acra, capital do país, com a oferta de menus tradicionais.

Pitchou Luhata Luambo | Congo

Pitchou Luambo, do restaurante Congolinaria, em São Paulo
Pitchou Luambo, do restaurante Congolinaria, em São Paulo Imagem: Fernando Moraes/UOL

Além de chef, o congolês é advogado, ator, produtor cultural e professor de francês. Além disso, é defensor dos direitos humanos com uma longa trajetória de ativismo na África, onde defendia vítimas de violência sexual e denunciava estupros perpetrados por grupos armados no leste da República do Congo.

Atualmente ele reside no Brasil, onde é refugiado político. Aqui, ele lidera a cozinha do Congolinária, um estabelecimento de comida africana vegana localizado no bairro da Penha e no Sumaré. No espaço, oferece pratos típicos da República Democrática do Congo com ingredientes naturais em vez de produtos industrializados. O "kururu" é um dos principais pratos do chef, um caruru que acompanha shimeji salteado com tomate, cuscuz de mandioca (cuscuz do Congolinária ) e banana da terra frita.

Chef Ahmed Jama | Somália

Embora não seja tão internacionalmente conhecido, é um chef somali que fundou o restaurante "Safari" em Mogadíscio. Ele foi reconhecido por sua dedicação em oferecer culinária de alta qualidade em uma região afetada por conflitos.

Continua após a publicidade

Chef Pierre Thiam | Senegal

O chef senegalês é reconhecido internacionalmente por sua cozinha africana contemporânea e pelo trabalho de divulgação da culinária da África ocidental. Pierre também é o chefe-executivo do premiado restaurante Nok by Alara em Lagos, Nigéria, e o chef de assinatura do cinco estrelas Pullman Hotel em Dakar, Senegal. É também autor de três livros de receitas, como o 'Yolele! Receitas do Coração do Senegal' (2008), e já ganhou inúmeros prêmios e elogios por sua culinária.

*

Acarajé ou akará? Só tem feijoada no Brasil? E quem são os "brasileiros-africanos" do Benin? Pela primeira vez na África, o chef João Diamante mergulha entre passado, presente e futuro da história e do sabor brasileiro. Assista agora "Origens - Um chef brasileiro no Benin":

Assista

Deixe seu comentário

Só para assinantes