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"Vestido da década de 1950 comprado em brechó virou look do meu casamento"

Maria Paula Letti em seu casamento com o cropped, que teve como origem o vestido da Givenchy comprado em brechó nos EUA - Luiza Ferraz
Maria Paula Letti em seu casamento com o cropped, que teve como origem o vestido da Givenchy comprado em brechó nos EUA Imagem: Luiza Ferraz

Maria Paula Letti, em depoimento a Natália Eiras

Colaboração para Nossa

10/01/2022 04h00

Maria Paula Letti

Maria Paula Letti

Profissão

Jornalista

Minha roupa com história

Cropped usado no meu casamento feito à partir de vestido Givenchy dos anos 1950

Quando viajo, gosto muito de olhar brechós. Ir naqueles grandões, porque sempre há algo interessante. Em 2012, estava em Austin, no Texas, nos EUA, para cobrir o festival SXSW, e quis visitar um bairro da cidade conhecido pelos brechós. Estava em uma fase de comprar vestidos de festas, porque estava indo a muitos casamentos e formaturas.

Nesse dia, comprei três peças: um preto com bordado colorido, um azul royal cheio de canutilhos e ombreira e um vestido Givenchy off-white, da década de 1950.

O último era uma modelagem anos 1930, tubinho e tinha um bordado belíssimo, com flores e borboletas, furta-cor. A vendedora me contou que foi um dos primeiros vestidos vendidos pela marca e adorei a história -além do preço, já que paguei menos de 100 dólares em um Givenchy. Levando em consideração a grife e a cotação de 2012, foi uma pechincha.

Paula em registro feito no casamento com a peça da Givenchy customizada - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Maria Paula em registro feito no casamento com a peça da Givenchy customizada
Imagem: Arquivo Pessoal

Na época estava noiva de um namorado com quem estava há 10 anos, mas não comprei o vestido pensando em usá-lo no casamento. Comprei-o esperando vesti-lo para uma festa super glamorosa, como a de um Oscar, para a qual, infelizmente, nunca fui convidada (risos).

Eu achava o vestido tão bonito, ele brilhava bastante o que me deixava deslumbrava. Estava muito ansiosa em estreá-lo. Porém, aconteceram vários eventos e nunca achava que ele combinava com a ocasião. Os outros dois que comprei no mesmo dia eu usei muito em casamentos, mas o Givenchy branco eu evitava porque achava que seria desrespeitoso. Nunca fui convidada para uma festa que estivesse à altura dele (risos).

Terminei com o meu noivo da época e, no fim das contas, o vestido ficou encostado no meu armário por três anos. Toda estação eu faço uma limpa no meu guarda-roupa. Nessas ocasiões, eu o colocava no corpo para ver se deveria doá-lo, mas não conseguia me desfazer dele. Ele tinha esse caimento clássico que achava atemporal. Pensava: "Já que não vou usá-lo, vou guardá-lo para a minha filha."

Uma nova vida para o vestido

Detalhes do verso do cropped usado por Paula para o seu casamento, em 2015 - Luiza Ferraz - Luiza Ferraz
Detalhes do verso do cropped usado por Maria Paula para o seu casamento, em 2015
Imagem: Luiza Ferraz

Em 2014, conheci o meu marido. Ficamos noivos na virada do ano para 2015 e decidimos que casaríamos naquele mesmo ano, em outubro. Queria que meu vestido de noiva fosse feito pela Karen Raissa, estilista gaúcha que sempre gostei muito. Ela curte rituais e roupas com afeto.

Como eu ia casar no Rio de Janeiro, com a vista para a Baía da Guanabara, queria um vestido leve, com a cara da cidade, mas não tão tradicional. Foi quando lembrei do vestido branco da Givenchy. Eu o levei na primeira vez que me encontrei com Karen para discutir meu look de casamento. Não queria fazer algo do zero, mas reaproveitá-lo, dar um jeito de usá-lo.

Karen avaliou o vestido e disse que conseguiríamos usá-lo com tranquilidade. Pediu para a bordadeira reforçar o bordado da peça e desenhou o meu vestido tendo a peça como base. Foi assim que ela o transformou no cropped que usei combinado com uma saia de seda leve e rodada.

Não fiquei com remorso por cortar aquele vestido e transformá-lo em um top porque pensei que, finalmente, ia usá-lo em uma ocasião especial. Por mais que o modelo dele fosse atemporal, eu não o estava usando. E, quando o vi desenhado em um papel como um cropped, ele começou a fazer sentido para mim.

Ele, de fato, ia ser relevante na minha história, ia estar nas fotografias do casamento, ia ser importante para mim."

Luiza ao lado do pai, durante o seu casamento - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Maria Paula ao lado do pai, durante o seu casamento
Imagem: Arquivo Pessoal

Fiz poucas provas de vestido, já que a Karen estava no sul e eu no Rio. Então, foi emocionante colocá-lo pela primeira vez. Há aquele costume de se usar algo velho, algo novo, algo emprestado e algo azul no casamento. O cropped foi o "algo velho" do ritual. Karen me deu, para representar o "novo", um par de brincos e me emprestou a presilha para prender o véu. O azul ficou por conta de um coração azul que ela bordou no forro do cropped no dia do casamento.

E vestir aquele vestido Givenchy daquela forma, transformado, fez com que eu me sentisse reconhecida, principalmente por eu ter essa trajetória de reaproveitar, reciclar e reutilizar minhas peças.

Muitos vestidos de noivas ficam encostados nos armários das pessoas, sem utilidade. O cropped e a saia que usei no casamento, por sua vez, foram usados na minha lua de mel e depois disso."

Enquanto o vestido branco da Givenchy ficava guardado, ele, como cropped, já foi ao Marrocos, em jantar de amigos e festas de aniversários. Agora, ele está em uma pausa porque acabei de ter minha filha, mas, logo mais, volto a desfilá-lo."