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Após montar seleção em torneio sem vento, vela do Brasil busca "clone de Londres-2012"

Bruno Doro

Em São Paulo

04/03/2010 14h00

FORA DA EQUIPE, HERDEIRO DE SCHEIDT PROMETE ATÉ VENDER SANDUÍCHE NA RUA

  • Divulgação

    Quando Robert Scheidt anunciou a troca da classe Laser, na qual foi nove vezes campeão mundial, pela Star, elegeu como um de seus herdeiros Bruno Fontes. O catarinense não sentiu a responsabilidade e virou, nos quatro anos seguintes, o grande nome da classe no país.

    Chegou a ficar entre os 11 melhores do mundo para a Isaf e, neste ano, foi o quinto colocado na Semana de Miami, uma das principais competições do calendário mundial. Mesmo assim, perdeu a vaga na equipe olímpica. Pensou em deixar a vela, mas desistiu.

    “Nem que eu tenha de vender sanduíche na rua, arrumar um bico, vou continuar batalhando. É o que me move, o que me faz acordar todo dia. Fui para uma Olimpíada, mas ainda quero conquistar uma medalha. Sei que é possível”, diz o velejador.

    Caso tivesse chegado à equipe, Fontes teria alguns privilégios. Receberia uma ajuda de custo da Confederação e teria as despesas pagas pela entidade para a disputa das principais competições no exterior.

    “A equipe olímpica é o principal patrocinador de todos os velejadores. Sem isso, fica muito complicado. Tanto que, depois do que aconteceu, só sei que vou ao Mundial (em agosto na Inglaterra)”, diz. “E para piorar ainda mais, só tenho um patrocinador, a Unimed. Perdi os demais apoios no ano passado. Vai ser um ano bem complicado”.

    Apesar do clima de pessimismo do catarinense, a Confederação não deve abandoná-lo. A equipe olímpica anunciou, em Brasília, o patrocínio do Bradesco. Com o novo apoio, a entidade pode apoiar um segundo atleta em determinadas classes. Uma delas é a Laser. "O Bruninho terminou a seletiva de cabeça quente, mas avisei que iríamos conversar com ele depois. É possível que ele também receba algum tipo de apoio", disse o superintendente da entidade, Ricardo Baggio.

A equipe permanente de vela olímpica do Brasil foi formada, em 2010, em um torneio disputado em um lago, sem ondas e com ventos fracos e inconstantes. Os escolhidos vão viajar para competir em regatas com vento, na maioria das vezes, forte, encarando ondas e todos os desafios causados pela velejada no mar.

Para que, em 2011 e 2012, as reclamações que surgiram nesse ano, quando a seletiva foi disputada em Brasília, não se repitam, a Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM) já procura condições semelhantes às de Weymouth, na Inglaterra. O local será a sede das regatas das Olimpíadas de 2012, em Londres.

“Sabíamos que Brasília era um local difícil, mas foi o único local que se candidatou para receber a seletiva. Como não é um ano de Olimpíada, a CBVM tem como tradição aceitar candidatos para o evento. E só tivemos a resposta de Brasília”, explicou Ricardo Baggio, superintendente da entidade.

“Para o ano que vem, a situação será diferente. Em 2011 já está definida a realização em Florianópolis e, em 2012, para fechar a equipe que vai para as Olimpíadas, o objetivo é realizar em um local com as mesmas condições de Weymouth”, completou. Segundo apurou o UOL Esporte, a cidade favorita para receber o evento em 2012 é Búzios, no Rio de Janeiro.

Apesar dos planos para o futuro, a entidade não poderá apagar os problemas deste ano. O saldo foi de reclamações dos atletas e dois velejadores ranqueados entre os 20 primeiros do mundo pela Isaf (Federação Internacional de Vela) fora do time. Até mesmo Lars Grael, dono de duas medalhas olímpicas, que morou em Brasília e foi um dos entusiastas para levar a competição para o Lago Paranoá, reclamou.

“A comissão técnica, determinada em cumprir com a quantidade de regatas programadas, abandonou a preferência pela qualidade das mesmas. Tivemos regatas com menos de 0,3 milhas náuticas de perna. Pernas percorridas em 4 minutos e até mesmo regatas disputadas bizarramente sob calmaria e noturnas”, escreveu em seu blog.

Dono da quarta colocação do ranking mundial, Lars não ficou com a vaga no time, que agora é de seu irmão mais velho, Torben Grael. Mesmo assim, ele considerou o resultado normal. “Ainda assim, acho que a seletiva da equipe olímpica foi justa e selecionou os melhores em cada classe”.

Com outros barcos, as reclamações também aconteceram. “Na minha classe, a 470, não pudemos disputar regatas em formato trapezoidal, pelo tamanho da raia. E isso tirou uma das características da classe, que é a velejada em través”, explicou a medalhista de bronze em Pequim, Fernanda Oliveira, que conquistou a vaga.

A grande vítima do torneio, e um dos maiores críticos, foi o laserista Bruno Fontes. Ele é o 16º do ranking mundial da classe e terminou em quinto lugar na Semana Olímpica de Miami, a primeira etapa da Copa do Mundo de vela. Não perdia uma competição no Brasil há quatro anos. E acabou fora do time – a vaga foi dada ao atleta com os melhores resultados no Brasileiro da classe e no evento de Brasília.

“O erro foi a escolha de Brasília. Forçaram a barra em algumas regatas. Mas eu não perdi por causa disso. Perdi na água e tenho que erguer a cabeça”, afirmou o velejador – o novo titular da equipe é Eduardo Couto, que já foi campeão mundial de Laser Radial. “O Eduardo é um excelente velejador, mas ele também teve problemas. As condições eram tão difíceis que quem venceu foi um garoto (Rodrigo Mendonça) que nem mesmo disputou o Brasileiro”.