A 'vida dupla' do polêmico Nick Kyrgios, finalista em Wimbledon

Wimbledon, Reino Unido, 7 Jul 2022 (AFP) - Enquanto a maioria de seus colegas do circuito vive para o tênis, Nick Kyrgios construiu um muro entre o jogador e o homem comum. Mas quando o segundo vence a batalha contra o primeiro na quadra, o caos costuma ficar bem próximo.

"Nenhum de vocês realmente me conhece. Vocês não passam um tempo comigo, vocês não enxergam o que acontece dentro da quadra", afirmou o australiano de 27 anos, que deveria ser o adversário de Rafael Nadal nesta sexta-feira nas semifinais de Wimbledon, mas que avançou diretamente para a final devido ao abandono do espanhol por causa de uma lesão.

"Eu realmente tento separar os momentos: fora de quadra eu passo meu tempo com minha equipe, minha namorada, então quando eu entro na quadra, eu me coloco em modo de jogo", explicou.

O problema é que fora das quadras, seu modo de vida não parece o de um atleta de alto nível, o que segundo outros jogadores o impediu de ter um currículo mais brilhante.

Em sua primeira participação em Wimbledon, em 2014, torneio para o qual foi convidado, chegou até as quartas de final, após ter eliminado Nadal nas oitavas.

Mas desde então ele só esteve presente em outra ocasião nas quartas de final de um Grand Slam (o Aberto da Austrália de 2015) e só neste ano de 2022 conseguiu chegar à semifinal de um 'major'. No domingo, ele disputará sua primeira final de Grand Slam e luta para conquistar o título mais importante de sua carreira.

- Do pub para a quadra -"Houve uma vez em que eles vieram me buscar em um pub às 4 da manhã para jogar contra o Nadal na segunda rodada (de Wimbledon). Foi necessário que meu agente viesse e me tirasse do pub às 4 para ir para a quadra Central...", confessa.

Ele perdeu aquela famosa partida em quatro sets, com dois tie-breaks. Foi em 2019, ano em que, como recorda, teve pensamentos suicidas.

Embora pareça ter deixado esse período sombrio para trás, nas quadras continua dando a sensação de ser uma panela de pressão prestes a explodir. Como aconteceu em sua partida da terceira rodada contra Stefanos Tsitsipas, quando ele transformou o jogo em um "circo", nas palavras do grego ao final do jogo. Tsitsipas classificou o australiano de "valentão" com um "lado demoníaco".

As críticas se intensificaram depois dessa partida, mas não é algo que vá fazer Kyrgios mudar.

"Isso me faz morrer de rir. Nós brincamos sobre isso com minha equipe. É hilário. Eu leio as coisas quando acordo e dou risadas", diz ele.

Uma de suas defesas consiste em dizer ao árbitro que ele é a estrela pela qual as pessoas vão assistir ao jogo. Mas desde então ele baixou o tom nas rodadas seguintes.

- Sem treinador -"Me sinto bem, sereno, maduro... sou abençoado. Me sinto bem comigo mesmo", declarou.

Nick Kyrgios não tem treinador porque "não gostaria de colocar esse peso nos ombros de ninguém" e porque "ninguém conhece meu tênis tão bem quanto eu", mas é acompanhado por seu fisioterapeuta, "um de seus melhores amigos", e seu agente, que é seu "melhor amigo" e "a melhor namorada possível".

Ele sente esse novo bem-estar, como disse no final da partida das oitavas de final contra Brandon Nakashima: "É provavelmente a primeira vez na minha carreira que, mesmo não jogando muito bem, consegui dizer a mim mesmo 'Uau, olha até onde você chegou. Você está em Wimbledon e está tendo um bom desempenho mentalmente'. Foi bom".

No caminho certo (embora tenha de comparecer a um tribunal de Canberra no início de agosto por agressão), o australiano, que aguça sua mentalidade competitiva jogando basquete em casa "com caras que são uns cachorros", ainda não assimilou todos os códigos do tênis, e menos ainda os do tão tradicional All England Lawn Tennis Club, que exige um uniforme para jogar quase inteiramente branco.

E sua entrada na quadra com tênis vermelhos de basquete, que ele substituiu por um branco pouco antes de jogar?

"Eu faço o que vejo", disse ele. "Não estou acima das regras, eu gosto de usar meus Jordans. Se me disserem algo da próxima vez eu os usarei na cor branca", disse ele.

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