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Ginasta olímpico não judeu no centro de debate sobre casamento civil em Israel

03/08/2021 15h54

Tel Aviv, 3 Ago 2021 (AFP) - O ginasta Artem Dolgopyat, medalhista de ouro em Tóquio, foi celebrado ao retornar a Israel nesta terça-feira (3), mas também se viu no centro de um debate sobre sua impossibilidade de se casar porque o Estado o considera não judeu.

Artem Dolgopyat, de 24 anos, tornou-se um herói ao vencer a final dos exercícios de solo no domingo. O último ouro conquistado por Israel havia sido em 2004, no windsurf.

"Você fez história em azul e branco", disse o primeiro-ministro Naftali Bennett, referindo-se às cores da bandeira israelense.

Mas os primeiros momentos de euforia nacional rapidamente deram lugar a um debate, já que Artem, israelense nascido na Ucrânia - de pai judeu e mãe não judia - não pode se casar porque seu país não o considera judeu.

Em Israel é necessário ter uma mãe judia para alguém ser considerado judeu ou ser convertido ao judaísmo.

Mais de um milhão de imigrantes da ex-URSS chegaram a Israel, dos quais cerca de 300.000 não são judeus segundo a tradição religiosa ortodoxa.

Em um país onde apenas os casamentos religiosos e os casamentos da mesma confissão são reconhecidos, é necessário se converter ou realizar o casamento civil no exterior e ter a certidão de casamento reconhecida assim que retornar ao país.

"Os cidadãos de Israel, seja qual for o seu local de nascimento, não devem passar por um processo longo e humilhante (...) para ter o direito de se casar", criticou no Twitter o ministro do Turismo Yoel Razvozov, ex-judoca que representou Israel no Jogos Olímpicos de Atenas em 2004.

- Todos devem poder se casar como quiserem -A questão do casamento civil frequentemente retorna ao centro do debate em Israel, onde apenas um tribunal rabínico pode celebrar um casamento entre judeus.

No entanto, Artem não quer se tornar o símbolo dessa causa social.

Na terça-feira, ao chegar ao aeroporto Ben Gurion de Tel Aviv - onde foi recebido com um tapete vermelho e banho de champanhe - ele disse à AFP que não queria se manifestar sobre o assunto, considerando-o "pessoal".

Sua namorada, Maria Sakovitch, com quem vive há três anos em Israel, disse que o casamento não era sua prioridade. A saúde de seu parceiro "é mais importante", explicou a jovem que lamentou não poder ir a Tóquio para apoiá-lo, devido às restrições relacionadas à covid-19.

"O Estado não permite que ele se case", lamentou Angela Bilen, mãe do ginasta, em uma entrevista à rádio israelense 103 FM. "Para isso, ele deve ir para o exterior, mas não pode porque precisa treinar sem parar", disse ela.

A chefe do Partido Trabalhista, Merav Michaeli, também ministra do governo misto de Naftali Bennett - formado por ministros de esquerda, centro e direita - disse que "chegou a hora em que todos devem poder se casar como quiserem".

Para Orly Erez Likhovski, advogada do Centro Israelense de Ação Religiosa, uma ONG que promove o pluralismo religioso em Israel, as regras atuais para o casamento "constituem uma grave violação dos direitos dos israelenses".

Mas dada a composição do atual governo, com o partido de extrema direita Yamina do primeiro-ministro - apoiado no Parlamento pela formação islâmica Raam - é improvável que a lei seja alterada em um "futuro próximo", lamentou.

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