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Vídeo-arbitragem: justiça para o vencedor, assassino da emoção para o perdedor

29/03/2017 16h07

Madri, 29 Mar 2017 (AFP) - O recurso de vídeo-arbitragem (VAR) utilizado na quarta-feira (28), no duelo amistoso entre a Espanha e a França, permitiu ampliar o debate sobre a tecnologia no futebol, mas dividiu as duas seleções: justiça, para "La Roja", enquanto os Bleus questionaram a perda da emoção.

"A vídeo-arbitragem fez justiça", garantiu o treinador espanhol Julen Lopetegui após o término da partida, apoiado pelo técnico francês Didier Deschamps.

"Se permite corrigir erros, como foi o caso, mesmo que seja prejuízo para nós, como foi o caso, acho bom para a equidade esportiva", afirmou Deschamps.

O alemão Felix Zwayer consultou o assistente para anular o gol de Antoine Griezmann, porque o zagueiro Layvin Kurzawa estava impedido no início da jogada. O bandeirinha não viu a posição irregular.

Depois, voltou a recorrer ao VAR para validar o segundo gol espanhol, cancelando o impedimento de Gerard Deulofeu marcado pelo auxiliar.

"A tecnologia ajuda o futebol. As medidas que ajudam o futebol são importantes. Hoje foi bom para nós, mas também vai ser bom quando for contra nós. É algo muito bom", falou o zagueiro espanhol Sergio Ramos.

Mas, se as imagens não deixam dúvidas para solucionar jogadas problemáticas, exitem pessoas que julgam que a assistência de vídeo tiraria emoção e sentimento do futebol.

- A polêmica continua -Alguns temem que a alegria de um gol seja diluída quando o juiz tenha que tomar uma decisão com o recurso, que como no caso da partida teste, aconteceu 50 segundos depois de Griezmann balançar as redes.

No primeiro momento, os jogadores comemoraram muito e na sequência tiveram que trocar o sorriso pela decepção.

"Não desestabiliza, mas incomoda porque você tem que esperar para comemorar um gol", comentou o atacante francês, enquanto para seu companheiro Kevin Gameiro opinou que "tira um pouco a beleza do jogo".

Os quase 80.000 espectadores do Stade de France mergulharam em momentos de incerteza, já que não puderam assistir ao replay e tiveram que intuir a decisão pelos gestos do árbitro. O juiz fez o sinal de uma televisão e levou as mãos à orelha, para indicar que estava recorrendo ao VAR.

"Tem suspense por um momento, com decisões para saber se é ou não é. É necessário", considerou o barcelonense Gerard Piqué, insistindo que "certamente vai melhorar, eu vejo isso claramente".

O presidente da Liga espanhola, Javier Tebas, se mostrou igualmente convencido com a tecnologia de vídeo e avaliou que a VAR "é imparável".

"O que é preciso analisar muitas vezes é o bem jurídico a proteger. Se o bem jurídico é a equidade da competição, que não haja injustiças, erros no campo, o VAR será bem-vindo", acrescentou Tebas em coletiva de imprensa.

O primeiro recurso de tecnologia utilizado foi para ver se a bola ultrapassou ou não a linha de gol, que foi decisivo em uma partida da Copa do Mundo de 2014. Mas este sistema é imediato e não está sujeito à interpretação, como o caso do vídeo.

- "Jogo mais honesto" -"Os partidários do vídeo saíram reforçados, porque as decisões foram corretas e rápidas, mas eu gostaria de ver isso em situações complicadas, onde as imagens estão sujeitas à interpretação", lembrou o ex-árbitro francês Bruno Derrien.

O Ifab, organismo que gerencia as regras do futebol, autorizou a experiência com vídeo durante dois anos, em março de 2016. O recurso pode ser utilizado em quatro casos: depois de gol marcado, situação de pênalti, cartão vermelho direto ou para corrigir erros de identidade na punição de um jogador.

"Com o sucesso de Paris, a instalação do VAR vai ser inevitável", falou o ex-árbitro espanhol Rafael Guerrero, ao jornal Marca. O juiz aposentado considera que o recurso "vai continuar gerando polêmicas" em algumas jogadas, como no Mundial de Clubes de 2016.

Na ocasião, o árbitro deu gol de Cristiano Ronaldo, depois anulou por impedimento e finalmente validou outra vez.

São "pequenos contra-tempos ligados à falta de treinamento dos árbitros", avaliou o presidente da Fifa, Gianni Infantino, no início de Março. O mandatário espera usar o sistema na Copa do Mundo da Rússia, em 2018.

"Tecnicamente, foi um teste realizado pela Federação Francesa, em acordo com a Ifab, e não um teste da Fifa", indicou o secretário da federação internacional, Zvonimir Boban, à AFP.

"Estamos muito felizes que saiu bem. Vão haver outros e pode ser que não sejam tão positivos. Mas demonstrou outra vez que a utilização do vídeo vai deixar o jogo mais honesto e esse é o objetivo final", acrescentou o ex-jogador croata.

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