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Mãe e namorada acusam UPA por morte de judoca em Rio Claro; hospital nega

Matheus Amarante, judoca que morreu aos 23 anos - Reprodução/Instagram
Matheus Amarante, judoca que morreu aos 23 anos Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/10/2022 04h00

O judoca Matheus Amarante, de 23 anos, morreu na última segunda-feira (10) por insuficiência respiratória aguda após retornar da 84ª edição dos Jogos Abertos, realizada em São Sebastião. A mãe e a namorada do atleta acusam a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Cervezão, em Rio Claro (SP), de não ter oferecido o tratamento adequado ao judoca

Elas relataram ao UOL Esporte que a unidade não possuía oxigênio e nenhum dos medicamentos receitados ao atleta, que deu entrada no local reclamando de falta de ar. Matheus precisou ser intubado e acabou sofrendo uma parada cardíaca. A Fundação Municipal de Saúde da cidade nega as alegações.

Matheus Amarante chegou em casa na madrugada da última segunda-feira (10), por volta de 1h30 da madrugada, com dificuldade para respirar. Ele passou o final de semana em São Sebastião para acompanhar a equipe de judô de Rio Claro nos Jogos Abertos. Embora tenha se classificado para o evento, o atleta apenas integrou a comissão técnica e não chegou a competir por estar se recuperando de uma lesão no ciático.

Matheus tinha bronquite alérgica desde a infância e fazia tratamento contínuo com um pneumologista, mas encontrou no esporte uma alternativa para melhorar sua condição e diminuir as crises respiratórias. Seu treinador, Diego Sanches, relatou ao UOL que o judoca estava bem e que não chegou a passar mal ou a reclamar de qualquer desconforto durante a estadia na cidade. "Estava tudo muito bem com ele, tanto na arquibancada quanto no alojamento", contou o sensei.

No entanto, o jovem atleta começou a sentir falta de ar no domingo à noite, durante a viagem de volta, e mandou mensagem à namorada dizendo que não conseguia respirar e que precisaria ir ao hospital. Após retornar a Rio Claro no início da madrugada, ele foi até a UPA do Cervezão acompanhado dos pais e de Louisy Bonaldo, com quem namorava havia dois anos e meio.

A namorada diz que ele estava com pressão alta e batimentos cardíacos elevados, além de estar fazendo uso de bombinha respiratória. Ela e a sogra, Virginia Amarante, afirmam que Matheus "estava mal", mas não a ponto de precisar ser internado e que a "incompetência" da unidade teria sido fatal. A Fundação Municipal, em contato com a reportagem, alega que o judoca deu entrada na Unidade do Cervezão em "estado grave" e que foi imediatamente encaminhado para a emergência.

"Vi os vídeos dele brincando e zoando com os amigos antes de vir pra casa. Se o tivessem colocado no oxigênio na hora que chegamos, hoje ele estaria aqui comigo contando como foi sua viagem", criticou Virginia. Ela também aponta que o tratamento médico dado a ele no local teria afetado seu coração.

"Meu menino morreu só por não ter tido aquela maldita inalação e aquele oxigênio. Como eu queria ter uma única chance de poder voltar no tempo e ter levado ele em outro hospital", afirmou Virgínia Amarante. A nora corroborou a acusação. "Era para ele estar aqui comigo. Fizeram pouco caso do meu namorado. Era para ele estar vivo, nunca vi um hospital não ter medicamento", reforçou Louisy.

Mãe diz que precisou comprar remédio em farmácia

Matheus Amarante, judoca que morreu aos 23 anos, em seu último torneio - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Matheus Amarante, judoca que morreu aos 23 anos, em seu último torneio
Imagem: Reprodução/Instagram

A mãe e a namorada também relatam que ficaram esperando até o atleta ser atendido e que ele passou por duas consultas na unidade. Virginia ainda diz que a UPA não possuía brometo de ipratrópio para inalação, um dos medicamentos receitados a Matheus, e que ela precisou ir a uma farmácia para comprar o remédio. Ela, no entanto, não conseguiu voltar a tempo. "Meu menino, tão forte, tão cheio de vida e com sonhos planejados, estava morto", disse.

Louisy conta que, durante a ausência da sogra, Matheus precisou ser transferido para a sala de internação, mas que ele "foi andando" até o local. Depois disso, ela diz que foi informada pelos médicos que ele havia sido intubado por não estar conseguindo respirar e que sofreu uma parada cardíaca. Os profissionais teriam dito que o judoca chegou a ser reanimado, mas que acabou não resistindo posteriormente.

A Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro, por sua vez, enfatiza que "não procede a informação de que faltaram medicamentos, oxigênio, ou qualquer outro item necessário" ao atendimento de Matheus.

"Todos os medicamentos necessários foram administrados e a unidade conta com tanque de oxigênio para abastecer os leitos. Todos os procedimentos para reversão do quadro foram realizados, o que infelizmente não foi possível", acrescentou, em nota, a administração pública.

A fundação ressalta que "não tem autorização dos familiares para expor o prontuário médico" do paciente. Além disso, salienta que "não recebeu reclamações de familiares quanto ao atendimento recebido pelo paciente". Já a mãe rebate que não pensou em prestar queixa quando foi informada do óbito, mas diz que agora tomará medidas e condena o que chama de "falta de humanidade e pouco caso" com seu filho. "Nunca conseguirei seguir em frente", encerrou Virginia.

Matheus Amarante era atleta, professor de judô e estava quase se formando em Educação Física. Ele chegou a viajar a cinco países diferentes para competir no esporte. Seu último torneio foi o 1º Intercâmbio de judô da Academia da Força Aérea Brasileira (AFA), disputado em abril, no qual ele se sagrou medalhista de ouro nas categorias individual e por equipe.