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Italo quer dar o troco no WSL Finals: "Vou entrar para vencer um por um"

Marcello De Vico

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

06/09/2022 04h00

Quarto colocado do ranking masculino do Mundial de Surfe, Italo Ferreira chega para as finais em Trestles leve e solto — a primeira chamada será na quinta-feira (8). Ele é o único entre os cinco surfistas classificados para a decisão que não só já levantou o caneco de campeão mundial, em 2019, como também pode dizer em alto e bom som que tem um ouro olímpico em sua casa.

Desta forma, o potiguar de Baía Formosa joga a responsabilidade do título para os adversários, em especial Filipe Toledo, líder do ranking e apontado como grande favorito ao mundial de 2022. Mas que fique claro: isso não quer dizer que Italo 'está de brincadeira', como ele mesmo diz em entrevista exclusiva ao UOL Esporte concedida dias antes da viagem para a Califórnia.

Questionado se prefere entrar nas finais sem qualquer tipo de pressão, como ocorrerá nas águas de Trestles, Italo defende que a responsabilidade está com os demais finalistas — além do líder do ranking Filipinho, a disputa ainda contará com os australianos Jack Robinson (2º) e Ethan Ewing (3º) e o japonês Kanoa Igarashi (5º), algoz de Gabriel Medina nos Jogos de Tóquio.

"Não faz muita diferença [entrar ou não pressionado] porque quem quer vencer o primeiro título são esses outros caras. Eu tenho o meu, mas estou aqui também, não estou de brincadeira", afirma o surfista de 28 anos, que chega para a decisão com 'sangue nos olhos'.

"Quero entrar para vencer um por um e descontar o que rolou durante algumas baterias que competi com esses caras que 'ficou por aqui'", brinca. "Mas agora tenho a chance de descontar", diz.

Italo Ferreira durante a etapa de Teahupo'o, em 2022 - Damien Poullenot/World Surf League via Getty Images - Damien Poullenot/World Surf League via Getty Images
Imagem: Damien Poullenot/World Surf League via Getty Images

Italo não entrou em detalhes, mas ele foi eliminado por três dos quatro surfistas classificados para as finais. Em Portugal, ele perdeu a semi para Filipinho, e logo na etapa seguinte parou nas quartas de final após ser superado por Jack Robinson. O potiguar voltou a ser superado por Filipe Toledo em El Salvador, nas semifinais, e ficou no meio do caminho em Jeffreys Bay após ser derrotado por Kanoa nas quartas.

Para ser campeão, Italo terá de superar todos os adversários, a começar por Kanoa, quinto colocado. Se vencer, terá Ethan, Jack e, por fim, Filipinho, na única bateria da final que será definida no melhor de três. Será que o troco virá de forma completa? "Não tem muito o que falar e nem pensar, e sim entrar naquele momento e fazer valer a pena", acrescenta.

"Eu esqueci um pouco de surfar"

Italo Ferreira e Filipe Toledo - Matt Roberts/Getty Images - Matt Roberts/Getty Images
Italo Ferreira e Filipe Toledo
Imagem: Matt Roberts/Getty Images

As derrotas para Filipinho em Portugal e El Salvador certamente não foram as que mais tiraram o sono de Italo Ferreira. Em 2021, em Trestles, os dois decidiram em bateria única quem brigaria pelo título com Gabriel Medina logo na sequência, e deu Filipinho.

Em uma bateria de poucas ondas, Italo somou só quatro notas e acabou derrotado por mais de três pontos de diferença: 15.97 a 12.44. Um ano depois, ele consegue enxergar com mais clareza tudo que aconteceu na água.

"Eu fiz uma análise boa quando terminou o ano, que eu perdi para o Filipe e o Gabriel acabou vencendo, uma análise gigantesca de tudo", afirma.

"Eu surfo bem essa onda [Trestles], tanto para a esquerda como para a direita... O ano que perdi para o Filipe acabei pegando duas ou três ondas, e isso não sou eu numa bateria. Eu foquei em tentar pegar só duas ondas muito boas da série e elas não vieram", analisa.

"Eu esqueci um pouco de surfar, de pegar as ondas, de fazer o que sei fazer, de não precisar pegar uma onda da série para fazer uma nota 8, 9. Com uma onda fechando eu consigo fazer uma nota muito boa com uma manobra aérea ou algo do tipo. Acho que minha estratégia foi um pouco errada naquele momento", completa.

O Filipe, no final, é o cara a ser batido nesse campeonato, até porque é o número 1, e sei que será um adversário duro. Ele está tentando o seu primeiro título e isso no final das contas acaba pesando nas costas dele dependendo do momento e de como vão estar as ondas, então acho que vai ser uma oportunidade muito boa.

Veja outras trechos da entrevista:

Sem fazer finais desde as Olimpíadas

Acho muito positivo o que está acontecendo porque faz três anos que estou disputando o título. 2018 não valeu de nada porque ganhei 3 etapas e nem disputei o título. Nesse ano o Kelly ganhou, o Griffin, e eles estão fora do WSL Finals. Então vencer hoje não significa nada, a não ser chegar no Finals e vencer, que é o que realmente importa nesse formato. Acho muito positivo o que está acontecendo. Enquanto eu estiver disputando o título, tenho muita chance de vencer. São momentos da nossa carreira. As coisas acontecem na hora certa. Tenho essa oportunidade de ir para o Finals, ano que vem tem mais um Circuito Mundial e Olimpíadas logo em seguida. Então é pensar que posso disputar título todos os próximos anos e ter chance de cravar mais títulos. Enquanto estiver disputando títulos, é porque estou batendo de frente com os caras.

Ondas gigantes

Eu não adoro, eu me arrisco. Eu tenho medo, mas quero ver até onde consigo ir. É adrenalina. Sou movido a adrenalina e desafios. Eu não gosto de onda grande e tenho muito medo. Só que me arrisco a ir porque quero saber até onde chegar. O pensamento é meio louco, mas tenho vontade de ir a Nazaré num próximo swell, algum muito grande, e aproveitar para pegar uma onda maior que eu peguei, acho que tinham uns 40 e poucos pés, estava muito grande. Quero pegar ondas maiores que essa... Se você perguntar se eu gosto, eu não gosto. Mas são desafios que a gente coloca que às vezes é legal se arriscar.

Correria pós-Olimpíadas

Acalmou um pouco, mas a gente tem uma rotina boa ainda. Mas é legal, levo numa boa, sei que faz parte do trabalho. Na maioria das vezes eu tento ficar um pouco mais reservado, pensando um pouco mais em mim mesmo, em só treinar, surfar, que é o que eu gosto de fazer. Hoje em dia poucas coisas chegam para mim, e isso é bom para o atleta para não ficar com a mente tão cheia de coisa e pensando em outras coisas. Eu falei para ela [assessora] antes das Olimpíadas: 'ó, eu vou ganhar as Olimpíadas, mas eu só vou dar entrevista na primeira semana e depois você me deixa um mês sem falar com ninguém, porque eu quero aproveitar meu momento, ficar surfando, esquecer de todo o resto. Eu sou assim. Gosto de ficar um pouco mais na minha.