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'Como pessoa, tenho minhas restrições', disse Senna sobre Piquet

Ayrton Senna em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1986 - Reprodução
Ayrton Senna em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1986 Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

01/07/2022 13h40

Após a divulgação de declarações racistas e homofóbicas de Nelson Piquet sobre Lewis Hamilton, uma entrevista em que Ayrton Senna fala sobre o ex-piloto voltou a circular nas redes sociais. Em sua participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1986, Senna ressaltou as qualidades do rival como piloto, mas afirmou que tinha restrições em relação a Piquet.

"O Piquet é um excelente piloto, já demonstrou isso várias vezes, é bicampeão do mundo [o tricampeonato viria em 1987]. Como pessoa, eu tenho as minhas restrições porque não tenho relacionamento com ele, nunca tive. O pouco que tive foi muito restrito e também não foi dos melhores".

"Eu diria que a gente talvez só tenha uma coisa em comum, que é ser piloto de Fórmula 1 e gostar de automóveis de corrida. Fora isso, acho que nós temos ideias, criação e educação totalmente diferentes. Então a gente diverge no resto. Mas, como piloto eu o respeito muito, mas como pessoa, tenho minhas restrições".

Além das rivalidades nas pistas, Piquet e Senna eram desafetos fora dela. Senna chegou a processar o ex-piloto que fez comentários a respeito da sexualidade do rival, insinuando que ele era gay e que o casamento dele com Lilian Vasconcelos foi de fachada para enganar a mídia.

"Eles me processaram por difamação, levaram no advogado, me tomaram 100 mil dólares, aquela coisa. Meu advogado falou que a gente estava bem. Eu perguntei como. Ele me disse que descobriu que o Senna foi casado e que o casamento tinha sido anulado. E que anulação só acontece quando o casamento não é consumado ou quando tem traição com pessoa do mesmo sexo. Aí eu explodi e fui no box do Senna e pedi para ele explicar aquilo para todo mundo, joguei a m***** no ventilador", disse Piquet em entrevista concedidada em 2020.

Depois, a ex-esposa de Senna rebateu as insinuações de Piquet e explicou que o casamento não foi anulado. "Apenas nos separamos".

Além disso, Piquet também não compareceu ao funeral de Senna, morto em 1994, aos 34 anos, em um acidente em Imola.

"A morte do Senna foi uma perda muito grande. Isso foi reconhecido pelos brasileiros. Mas vi muita política no meio, e não fui porque não suporto funeral e não posso hoje ter a cara, na minha personalidade, de fazer como o Prost fez, que brigou com o Senna até o último dia na Fórmula 1, e depois foi no dia do enterro. É a maior demagogia. Não me achei no direito de ir ao enterro. Nunca fui amigo, vou ao enterro para aparecer?", disse Piquet depois ao justificar sua ausência.

Outra declaração de Nelson Piquet voltou a viralizar nesta semana. Ao ser questionado sobre quem teria sido o melhor piloto, o tricampeão respondeu: "Eu ainda estou vivo", em tom de piada.

Racismo contra Hamilton e declaração homofóbica

Nesta semana, Piquet voltou aos holofotes depois que um trecho de uma entrevista dela ao jornalista Ricardo Oliveira, em novembro de 2021, foi divulgado. O tricampeão chama Hamilton de "neguinho", termo considerado racista quando usado pejorativamente, ao comentar um acidente envolvendo o britânico e Max Verstappen no GP de Silverstone no ano passado.

Novo trecho da entrevista, divulgado nesta quinta-feira, mostra que Piquet se referiu a Hamilton como "neguinho" mais de uma vez e ainda fez declarações homofóbicas a respeito do piloto.

Piquet é perguntado sobre a temporada de 1982 e o que achava do campeão daquele ano, Keke Rosberg. Curto e grosso, ele afirmou que Keke 'era um bosta'. Em seguida, ele o compara com o filho, Nico Rosberg, campeão mundial de F1 em 2016.

"O Keke? Era um bosta, não tinha valor nenhum. É que nem o filho dele [Nico]. Ganhou um campeonato. O 'neguinho' devia estar dando mais c* naquela época, aí tava meio ruim", disse Nelson Piquet.

O heptacampeão se pronunciou em português nas redes sociais para rebater a fala racista usada pelo ex-piloto Nelson Piquet que repercutiu no início da semana.

"É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação", afirmou o piloto inglês.

Na última quarta-feira, Nelson Piquet havia divulgado um comunicado no qual se desculpava pelo uso do termo racista e afirmava que não teve intenção de ofender o britânico. Nesta quinta, o piloto Max Verstappen, que namora Kelly, filha de Piquet, afirmou que a fala racista do sogro havia sido uma 'escolha ruim de palavras.'

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