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Hamilton agradece apoio após sofrer racismo e critica 'narrativas arcaicas'

lewis hamilton bandeira brasil cidadania honoraria - Reprodução/Instagram
lewis hamilton bandeira brasil cidadania honoraria Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

30/06/2022 11h52

Lewis Hamilton falou publicamente pela primeira após ser alvo de racismo por parte de Nelson Piquet. O piloto da Mercedes agradeceu o apoio que vem recebendo e voltou a criticar "mentalidades arcaicas" depois de ter sido chamado de "neguinho" pelo brasileiro.

O heptacampeão da F1, que já havia usado o Twitter para pedir uma "mudança de mentalidade", relembrou do protesto antirracismo que protagonizou em 2020, antes do GP da Áustria.

"Sou incrivelmente grato a todos aqueles que apoiaram o esporte, principalmente os pilotos. Já se passaram dois anos desde que nos ajoelhamos na Áustria. Claro que ainda enfrentamos os desafios. Eu tenho sido alvo de racismo, narrativas negativas e arcaicas e tons de discriminação. Não sei por que continuamos a dar uma plataforma a essas pessoas mais velhas. Eles estão falando sobre o esporte, mas estamos procurando ir em uma direção diferente. É a imagem maior. Agora é uma reação imediata de empresas de todo o mundo."

Após a repercussão da entrevista de Piquet, Hamilton recebeu apoio da F1, da FIA e da Mercedes, que criticaram a fala do brasileiro. "Provavelmente todos eles já têm um roteiro pronto para esse gerenciamento de crise. Não é suficiente. Agora é sobre ação. Essas vozes antigas concordam subconscientemente ou conscientemente que pessoas como eu deveriam estar no esporte. Precisamos mais do que nunca unir as pessoas. Não ajudam os comentários que estamos vendo dessas pessoas."

O que aconteceu?

Em entrevista ao jornalista Ricardo Oliveira, em novembro de 2021, o ex-piloto Nelson Piquet usou um termo considerado racista para se referir a Lewis Hamilton ao comentar um acidente entre o britânico e Max Verstappen no Grande Prêmio de Silverstone, na temporada de 2021 da Fórmula 1.

Piquet chama Hamilton de "neguinho" ao comparar os acidentes envolvendo Ayrton Senna e Alain Prost, em 1990, na largada do GP do Japão, e o que ocorreu 31 anos depois, no GP da Inglaterra. O trecho da entrevista foi publicado pelo canal Enerto, especializado em automobilismo, e repercutiu nas redes, com críticas ao tricampeão, que teve a fala apontada como racista.

"O neguinho [Lewis Hamilton] meteu o carro e não deixou [desviar]. O Senna não fez isso. O Senna saiu reto. O neguinho meteu o carro e não deixou [Verstappen desviar]. O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro [Verstappen] se fodeu. Fez uma puta sacanagem", afirmou o tricampeão mundial".

Na terça-feira (28), Hamilton recorreu ao Twitter para responder o brasileiro e em português escreveu: "Vamos focar em mudar a mentalidade".

"É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação", continuou o piloto britânico, em inglês.

Em comunicado, a F1 disse que "linguagem discriminatória ou racista é inaceitável de qualquer forma e não deve fazer parte da sociedade. Lewis é um embaixador incrível do nosso esporte e merece respeito".

A Federação Internacional de Automobilismo, que representa os interesses sobe o automobilismo, também prestou solidariedade a Hamilton e condenou as falas de Piquet. "A FIA condena veementemente qualquer linguagem e comportamento racista ou discriminatório, que não tem lugar no esporte ou na sociedade em geral. Expressamos nossa solidariedade com Lewis Hamilton e apoiamos totalmente seu compromisso com a igualdade, diversidade e inclusão no esporte a motor", disse a entidade.

Em meio à repercussão, Nelson Piquet se desculpou por meio de um comunicado e disse que não teve intenção de ofender o britânico.

"O que eu disse foi mal pensado, e eu não vou me defender por isso, mas eu vou deixar claro que o termo é um daqueles largamente e historicamente usados de forma coloquial no português brasileiro como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa' e nunca com intenção de ofender. Eu nunca usaria a palavra que estou sendo acusado em algumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestão de que a palavra tenha sido usada por mim com o objetivo de menosprezar um piloto por causa de sua cor de pele. Eu me desculpo com todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um grande piloto, mas a tradução em algumas mídias e que agora circula nas redes sociais não é correta. Discriminação não tem espaço na F1 ou na sociedade e estou feliz em deixar claro meus pensamentos sobre isso".

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