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Homem que salvou taekwondo na Rio-2016 ainda pena para competir na elite

Maicon Andrade comemora conquista da medalha de bronze no taekwondo das Olimpíadas do Rio - AP Photo/Marcio Jose Sanchez
Maicon Andrade comemora conquista da medalha de bronze no taekwondo das Olimpíadas do Rio Imagem: AP Photo/Marcio Jose Sanchez

Léo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/07/2019 04h00

Homem que praticamente salvou o taekwondo brasileiro ao conquistar uma medalha de bronze inédita (para os homens) na Olimpíada do Rio de Janeiro-2016, Maicon Andrade, 26, ainda tem dificuldade para competir na elite. Não que lhe falte talento - no ano passado, pelo Mundial em Manchester (ING), voltou a subir ao pódio. Os bons resultados apenas não são suficientes para revolucionar uma rotina de restrição financeira na hora de definir seu calendário.

"Ainda passo um aperto ou outro. Não posso ficar focado totalmente na competição", afirmou. "A confederação [CBTKD] não patrocina atleta. A função dela seria pagar passagens, inscrições em eventos, mas nem isso. Este ano tem um calendário cheio, e aí você paga uma passagem e tem de segurar outra. Perdi duas competições por isso". Maicon, de qualquer forma, assegurou sua viagem para disputar os Jogos Pan-Americanos de Lima, pela categoria acima de 80kg. Ele luta na segunda-feira (29).

O mineiro de Justinópolis chegou aos Jogos Olímpicos, em 2016, como azarão. Passou pela repescagem e ganhou o bronze, igualando feito de Natália Falavigna em Pequim-2018. "Fiz as duas lutas como as últimas da minha vida. Fiz o que aprendi desde pequeno: enfiar a porrada", disse.

O desempenho pode não ter lhe dado autonomia para definir onde e quando competir. Mas a medalha pode muito bem ter garantido sobrevida a toda a seleção brasileira em novo ciclo rumo a Tóquio-2020. "Graças a Deus eu trouxe a medalha. Falavam que não iam mais investir no taekwondo. Nossa modalidade estava barrada pela Justiça por causa de problemas com a confederação", disse o atleta, que hoje conta com verba de Bolsa Pódio, patrocínio da Petrobras e ainda faz parte da equipe da Força Aérea Brasileira (FAB).

Meses após a disputa da Olimpíada, o Tribunal de Justiça do Rio determinou o afastamento de toda a diretoria da CBTKD à época. As acusações foram de superfaturamento, fraudes em licitações, falsidade ideológica e desvio de recursos públicos. O ex-presidente da entidade, Carlos Fernandes, foi condenado em 2018 em primeira instância a seis anos e quatro meses de prisão em regime semiaberto.

"Como um empresário da Petrobras, eu não ia colocar minha marca numa entidade envolvida com corrupção. Então, como eu poderia pedir dinheiro ou patrocínio sem a medalha? Iríamos ficar sem nada. Seria difícil até para o COB intervir. Para o Mundial de 2017, o comitê nos ajudou com passagem. Isso porque eu trouxe a medalha", afirmou Maicon.

A adversidade fora dos ginásios e academia, diga-se, não chega a ser uma novidade para o mineiro. Para chegar à elite da modalidade, já teve de dividir seu tempo de atleta com trabalho semanal de pedreiro e bicos de garçom aos sábados. O pódio olímpico ao menos propiciou ao brasileiro a construção de um patrimônio: "Comprei meu terreno, meu carro. Também reformei a casa da minha mãe toda".

Agora Maicon só espera poder montar seu calendário de modo adequado. Pensando longe, até pensa em ser presidente da CBTKD para tenta resolver a situação nos bastidores. "Você vira o ano sem conseguir se planejar para o ano seguinte. Não temos plano de carreira", disse. Para 2019, porém, o que resta é tentar competir por uma nova medalha.