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Rúgbi em cadeira de rodas lida com preconceito por jogo bruto entre deficientes

Rúgbi sobre cadeira de rodas estará presente nos Jogos Paraolímpicos do Rio em 2016 - Wheelchair Rugby Metro Cup 2013/Divulgação
Rúgbi sobre cadeira de rodas estará presente nos Jogos Paraolímpicos do Rio em 2016 Imagem: Wheelchair Rugby Metro Cup 2013/Divulgação

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

15/07/2013 06h00

Os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, apresentarão ao público do país com mais detalhes o rúgbi em cadeira de rodas, modalidade já popular no universo paraolímpico há mais de dez anos. No Brasil a prática ainda se desenvolve, procura adeptos e sofre contra o preconceito externo por convidar deficientes físicos para um jogo de natureza assumidamente bruta.

Presente no programa das Paraolimpíadas desde 1996, em Atlanta, a modalidade nasceu com a alcunha de Murderball (bola assassina), por seu caráter agressivo, mas com regras muito mais parecidas com o basquete em cadeira de rodas. No entanto, adotou o nome "rúgbi" por uma finalidade midiática, também por ser uma prática essencialmente de choque. De similaridade com o esporte da bola oval, exalta ainda o cavalheirismo de tratamento entre os adversários.

No entanto, a natureza do esporte inspira confronto ideológico que parte de alas ligadas a reabilitação clínica de deficientes. Os adeptos da modalidade têm enfrentado os questionamentos com argumentos de respostas positivas de atletas cadeirantes na incursão ao rúgbi.  

"Existe um embate com o pessoal de reabilitação. Existe o preconceito, de gente que vê o tetraplégico como coitadinho, por achar que é um esporte violento. Costuma-se encaminhar os deficientes mais para esportes individuais, tem uma dificuldade por causa disso. Existe a percepção do risco à saúde dos atletas. Mas falta informação, de uma forma geral. Tem o aspecto agressivo, sim. Mas o rúgbi em cadeira de rodas traz muito mais benefícios do que malefícios. Nunca vi ninguém machucar a coluna de novo neste esporte, que é o principal medo deles", afirma Rafael Botelho, assistente técnico da seleção brasileira e treinador do Gladiadores, time de Curitiba.

"É um esporte que tem um contato, só não pode ter contato físico, mas de cadeira o contato é muito grande. Mas com equipamento específico. É um esporte violento, de certa forma. Mas é um esporte com um processo de reabilitação muito grande. Vejo com bons olhos, com pessoas evoluindo fisicamente graças ao esporte. Os atletas estão bem à frente fisicamente em relação a pessoas com a mesma deficiência que não praticam esporte", endossa Moises Batista, jogador da seleção, mas com participações em duas Paraolimpíadas na natação e uma medalha para pan-americana nas piscinas.  

O técnico Rafael Botelho diz ver em exemplo da falta de informação sobre o esporte no fato de a cidade de São Paulo não contar com um time da modalidade: "tem o maior número de deficientes do país, mas nenhum time".

O membro da comissão técnica da seleção ainda aponta para a raridade de mulheres em ação na modalidade no país: "se já existe o preconceito com homens, imagina com as meninas, que geralmente já lidam com a superproteção de famílias. Só tenho conhecimento de três jogando no Brasil, uma Campinas, outra em Brasília e uma aqui em Curitiba".

JOGO TEM BOLA REDONDA E REGRAS QUE LEMBRAM O BASQUETE

Apesar da referência ao rúgbi de campo, a modalidade sobre rodas apresenta regras de disputa bem distintas. A bola não é oval, mas redonda, parecida com a usada no vôlei, para facilitar a manipulação de jogo por parte dos atletas deficientes.

As regras de disputa se assemelham com as do basquete para cadeirantes. Os times têm 12 segundos para ultrapassar a linha de meio-campo e 40 segundos para concluir a jogada.

Não existem categorias por nível de deficiência, mas os jogadores são avaliados por cotas funcionais (de 1,5 a 3,5 pontos), de acordo com o tipo de limitação. Cada equipe pode usar quatro atletas em quadra por vez, desde que a soma da cota deles não ultrapasse 8 pontos, por uma questão de equilíbrio coletivo.

SELEÇÃO BRASILEIRA LUTA PARA IR AO MUNDIAL

O time masculino do Brasil acaba de voltar de uma excursão à Polônia, onde saiu com a oitava colocação na Wheelchair Rugby Metro Cup 2013. O torneio serviu de preparação para o país, com vistas ao Pan-Americano da modalidade, que acontece de 12 a 20 de outubro, nos Estados Unidos.

Em setembro, os convocados vão se reunir para uma semana de treinamentos em Niterói. Atualmente o grupo trabalha em Saquarema, em cessão temporária do centro da Confederação Brasileira de Vôlei. Tudo em parte do cronograma de preparação para o grande objetivo do ciclo, os Jogos do Rio daqui a três anos.

"Temos três anos e meio anos para preparar o pessoal, mas enfrentaremos times com mais de 20 anos de estrada. Os Estados Unidos são sempre os favoritos, pelo sistema de reabilitação fantástico que têm. Acho que podemos pensar em até um 5º lugar. Ainda é cedo para pensar em uma medalha internacional", diz Rafael Botelho, da seleção brasileira.