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Mundial de judô do Rio banca 100 ônibus por dia para evitar baixo público

Os setores destinados aos jovens do projeto Lotação Esgotada são os únicos cheios do evento - Rodrigo Paradella/UOL
Os setores destinados aos jovens do projeto Lotação Esgotada são os únicos cheios do evento Imagem: Rodrigo Paradella/UOL

Rodrigo Paradella

Do UOL, no Rio de Janeiro

30/08/2013 06h01

Diante do desafio de evitar imensos clarões nas arquibancadas do Maracanãzinho durante os sete dias do Mundial de judô, a organização do evento resolveu não poupar esforços para levar público ao ginásio. O comitê que promove a competição no Rio de Janeiro usa 100 ônibus por dia para transportar ao local quatro mil jovens de escolas públicas, ONGs e projetos sociais da região metropolitana do estado.

Além de arcar com o deslocamento de estudantes com idade entre 10 e 17 anos, o Mundial ainda oferece lanches aos jovens e uma ajuda de custo aos voluntários, que ajudam na circulação da garotada durante o evento. Respeitando o horário das aulas, os alunos só comparecem ao torneio no período da tarde, quando são realizadas as finais da competição.

"Os ônibus buscam as crianças nas escolas ou instituições e as deixam próximas daqui, na Quinta da Boa Vista, já que não dá para todos pararem ao lado do ginásio. De lá, os trazemos para cá em outro ônibus. Aqui, eles recebem biscoitos, sucos...Enfim, tudo o que for necessário, tirando o almoço", explicou Daniel, um dos voluntários do evento.

Ao todo, foram mais de cem escolas públicas inscritas no projeto, que leva o nome sugestivo de “Lotação Esgotada”. Além dos ingressos, do transporte e do lanche, a garotada ainda leva para casa camisas dos parceiros do Mundial, que, mesmo que indiretamente, são os responsáveis por viabilizar o programa. Sadia, Bradesco e Petrobras - todos patrocinadores da Confederação Brasileira de Judô - , por exemplo, têm setores reservados nas arquibancadas.

Não fosse o projeto, o Mundial teria público bastante inferior. Os quatro mil jovens por dia representam mais de 80% das pessoas presentes ao ginásio, que tem todos os seus ingressos distribuídos de forma gratuita e ainda assim não ficou lotado sequer uma vez nos primeiros quatro dias de competição. Isso tudo mesmo com Sarah Menezes - uma das atletas mais festejadas pelo público - subindo no tatame logo na segunda-feira.

O Mundial foi bastante democrático na escolha dos colégios participantes: além das escolas, ONGs e projetos sociais indicados pelo governo e pela prefeitura do Rio de Janeiro, foram aceitos pedidos espontâneos de instituições através do site da própria competição. Ao todo, são esperadas 30 mil crianças na soma dos sete dias de competição.

  • Rodrigo Paradella/UOL

    Uma das caravanas que estiveram presentes ao Maracanãzinho durante o Mundial de judô

Os jovens participantes do programa são bastante distintos do resto dos presentes ao torneio. Além da garotada, quase todos os outros espectadores são ligados de alguma forma aos atletas: familiares, amigos, parceiros de clube, companheiros de seleção ou convidados do evento, como dirigentes ou astros do esporte, como os brasileiros Aurélio Miguel, Rogério Sampaio e João Derly.

Jovens desconhecem regras do esporte

Embora animação não falte, as caravanas de estudantes acabam fazendo confusão na hora de torcer. Nas lutas de brasileiros, os jovens vibram com quedas que claramente não serão computadas pela arbitragem.

“[Nós] conhecemos pouco da regra do judô, mas torcemos muito pelos brasileiros. Foi muito emocionante a vitória da Rafaela Silva”, disse Ana Costa, de 13 anos, que acompanhou de perto a conquista do ouro inédito da judoca na última quarta-feira.

Um momentos mais marcantes do Mundial até aqui envolveu os jovens do programa: a sonora vaia à judoca do Kosovo Majlinda Kelmendi, que derrotou Érika Miranda na decisão da categoria até 52kg, na última terça-feira. Eles não entenderam a reação eufórica da atleta, a primeira campeã mundial pelo país em sua curta história (a nação se tornou independente da antiga Iugoslávia em 2008, embora ainda não seja reconhecida pela ONU).

"É a primeira vez que o meu país conquistou uma medalha tão importante, de ouro, em uma competição mundial.Eu estava tão feliz pela vitória, nem lembro do que fiz depois. Quando você está feliz, não consegue controlar as emoções. Até vi que a torcida me vaiou, mas isso é normal", minimizou a judoca.

Em outro momento, os torcedores mirins protagonizaram momento de êxtase. Carregada por um mascote, a judoca Sarah Menezes foi agarrada pelos jovens e precisou até da ajuda do boneco para conter tamanha empolgação das crianças da arquibancada.