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Brasileiros 'gringos' sofrem com falta de torcida e até gafe no Mundial

O judoca Victor Karampourniotis defendeu a Grécia no Mundial do Rio de Janeiro, mas é de São Paulo - Rodrigo Paradella/UOL
O judoca Victor Karampourniotis defendeu a Grécia no Mundial do Rio de Janeiro, mas é de São Paulo Imagem: Rodrigo Paradella/UOL

Rodrigo Paradella

Do UOL, no Rio de Janeiro

29/08/2013 15h00

Empolgada, a torcida no Maracanãzinho apoia os brasileiros que lutam no Mundial de judô do Rio de Janeiro. Mas nem todos: os atletas que nasceram no país e defendem outras bandeiras acabam passando batidos pelo público local. Ao contrário de Sarah Menezes, eles encaram o tatame sem ouvir gritos, a não ser dos familiares e amigos presentes. Além disso, são vítimas de gafes involuntárias da organização do evento.

Competidores da última quarta-feira, o “grego” Victor Karampourniotis e a “israelense” Camila Minakawa foram algumas das vítimas dessas dificuldades. Eliminado na estreia, o judoca chegou a ter seu nome inscrito de forma errada na competição por estar defendendo a bandeira do país europeu.

“O pessoal da organização me inscreveu com Viktor, com K, justamente por eu estar como atleta da Grécia. Acho que pensaram que assim seria o correto”, brincou Karampourniotis, mostrando bom humor diante da situação.

Mas o erro mais comum acontece na escolha da língua na hora de se comunicar com os “gringos”. Os dois foram criados no Brasil e se naturalizaram tardiamente por outros países. Victor é filho de um casal de gregos, enquanto a mãe de Camila tem dupla cidadania, o que serviu para que ela conseguisse o mesmo título. Ambos, portanto, falam normalmente o português.

“As pessoas chegam para falar com a gente já em inglês, como se fossemos estrangeiros mesmo. Mas aí falo em português e já quebro o gelo”, brincou Camila, que chegou a defender a seleção brasileira de judô antes de se mudar para Israel, em março deste ano.

“Tem gente que acha que não entendo o que eles estão falando, aí tomam um susto. Quando entrei para lutar, até ouvi um torcedor falando que não fazia ideia de como se pronunciava meu nome. Na mesma hora interrompi e o respondi”, contou.

Os judocas naturalizados têm histórias diferentes entre si. Alguns, como Viktor e o “canadense” Sérgio Pessoa, sempre lutaram por outros países, enquanto outros escolheram o caminho por conta das dificuldades em defender a seleção brasileira, como Minakawa e Taciana Lima, que disputou a competição por Guiné Bissau.

“Moro em São Paulo e sou atleta do Palmeiras, mas me federei pela Grécia aos 16 anos. Óbvio que sonho em defender o Brasil, mas não vejo problema em lutar pela terra dos meus pais”, disse Viktor, que tem história bem diferente de Minakawa, por exemplo.

“Fui morar em Israel no começo do ano porque precisava de mudanças na minha vida profissional e também na pessoal. Fiz uma nova vida lá”, contou Camila. Já Viktor raramente visita a Grécia.

  • Reprodução/Facebook

    Camila Minakawa (direita) ainda pelo Brasil, ao lado da técnica Rosicleia Campos (centro)

“Vou para lá uma vez por ano, em dezembro, para a seletiva da seleção. Fico na casa do meu tio, mas costuma ser uma viagem curta. Luto, garanto minha vaga na equipe e retorno. Nunca aconteceu de passar o Natal lá, por exemplo”, explica o filho de gregos.

Judocas minimizam falta de apoio das arquibancadas

Desconhecidos do grande público, os judocas naturalizados raramente têm seus nomes gritados no Maracanãzinho, a não ser pelos poucos familiares presentes. Ainda assim, eles garantem que a falta de apoio das arquibancadas não incomoda.

“Para mim não faz tanta diferença. Me concentro na luta, não consigo nem ouvir o que estão falando ou gritando de fora do tatame. Óbvio que seria um apoio a mais, porém não incomoda essa situação”, opinou Minakawa, que chegou às quartas de final da categoria até 52kg, mas ficou sem medalhas.

Diferentemente do futebol, o judô permite a troca constante de bandeiras por seus atletas. É comum ver judocas sem chances em seus países procurarem abrigo em outros, como no caso da própria Camila Minakawa, que integrou a seleção brasileira até o começo deste ano, quando era a terceira lutadora da nação em sua categoria.