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Entenda o que o novo tipo de contrato com a Crefisa muda para o Palmeiras

24/01/2018 08h00

Por determinação da Receita Federal, Palmeiras e Crefisa tiveram de fazer alterações nos contratos que registram os aportes da empresa para compra de jogadores. Isso resultará em mudanças importantes. O LANCE! explica abaixo.

O que mudou?

Até o fim do ano passado, funcionava da seguinte forma: a Crefisa comprava uma propriedade para expor suas marcas (a carteirinha dos sócios-torcedores, por exemplo) e o clube usava o dinheiro para adquirir o jogador. Ou seja, as partes firmavam contratos de compra e venda.

- Quem paga a aquisição é o Palmeiras. A Crefisa e a FAM adquirem propriedades de marketing, geram recursos, e com esses recursos o Palmeiras pode comprar jogador, reformar o clube social ou o que achar prioridade no momento. Nós temos essa possibilidade de, com a venda de propriedades, usar o recurso até para compra de atletas, que é o que temos feito. É uma oportunidade que contribui muito para a saúde financeira do clube, e é exatamente por isso que fazemos. Essas propriedades que vendemos são várias: imagem de atleta, placas na Academia, TV Palmeiras - explicou o presidente Maurício Galiotte, em entrevista ao LANCE! no ano passado.

Quando o atleta fosse vendido, o Palmeiras repassava à patrocinadora exatamente o valor aportado. Se o atleta saísse de graça ao fim do contrato ou se fosse vendido por menos do que custou, o prejuízo seria da empresa.

Agora, os valores colocados pela parceira são considerados "empréstimos". Isso significa que o Palmeiras precisa devolver o dinheiro de qualquer maneira.

O clube, então, assume os riscos das operações.

Por que mudou?

Em sua contabilidade, a Crefisa colocava os valores usados na compra de atletas como "despesa". Como esse dinheiro seria devolvido na hora da venda dos atletas, a Receita entendeu que não se tratava de "despesa", mas de "empréstimo". O que muda é a tributação. A empresa levou uma multa superior a R$ 30 milhões em setembro do ano passado (já quitou).

Como funciona a devolução do dinheiro?

Agora, o dinheiro precisa ser devolvido com uma pequena correção. A taxa será baseada no CDI, bem abaixo dos juros bancários.

O Palmeiras precisa devolver todo o dinheiro aportado pela patrocinadora para compra de jogadores, mas só quando eles forem vendidos. Se não forem vendidos até o fim do contrato ou se saírem por valor menor do que o investido, o clube terá dois anos para ressarcir a Crefisa. Se houver lucro na operação, ele ficará com o Verdão.

Quem são os jogadores pagos pela Crefisa?

Os jogadores que o Palmeiras comprou com dinheiro da Crefisa são: Luan (R$ 10 milhões), Fabiano (R$ 6,7 milhões), Bruno Henrique (R$ 14 milhões), Guerra (R$ 10 milhões), Thiago Santos (R$ 1 milhão), Borja (R$ 33 milhões), Deyverson (R$ 18 milhões), Dudu (R$ 10 milhões) e Lucas Lima (R$ 17,5 milhões). O valor total é R$ 120,2 milhões.

Há ainda o caso de Juninho: a Crefisa abriu mão de receber os R$ 5 milhões a que teria direito na venda de Vitor Hugo e autorizou o Palmeiras a utilizar esta quantia na compra do zagueiro do Coritiba (bancou metade do valor).

Todos estes contratos já estão nos novos moldes.

O efeito nos cofres

Este novo modelo de contrato não é, a princípio, catastrófico para o Palmeiras. A situação financeira do clube é boa: as receitas de 2017 superaram os R$ 500 milhões, o superávit beirou os R$ 60 milhões e foi possível reduzir drasticamente a dívida com o ex-presidente Paulo Nobre (caiu de R$ 146 milhões para cerca de R$ 20 milhões). Zerar as dívidas do clube é uma promessa de Maurício Galiotte.

Na prática, porém, o Palmeiras agora tem uma nova dívida, superior a R$ 100 milhões. O credor é a Crefisa. Isso pode ser um problema no futuro, principalmente se o presidente que estiver no cargo não for aliado político de Leila Pereira.

Como agora corre o risco de ter prejuízo nas operações, o clube deve colocar o pé no freio na hora de fazer contratações conjuntas com a patrocinadora. Por enquanto, o único reforço para 2018 contratado com dinheiro da Crefisa foi Lucas Lima. Em contrapartida, as demais dívidas estão perto do fim. Cada vez mais, o clube pode centralizar suas receitas no futebol.

Obviamente, só foi possível reduzir tanto a dívida com Nobre e ao mesmo tempo montar um time estrelado porque a patrocinadora colaborou para trazer os reforços. Com seus recursos próprios, mesmo o patrocínio máster exorbitante, não seria possível fazer as duas coisas simultaneamente.