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Lugano diz que Ceni faltou à aula de 'encantador de serpentes'; entenda

18/05/2017 10h27

O São Paulo tem recorrido a seus líderes para aliviar a crise publicamente. Nesta quinta-feira, o ídolo Diego Lugano conversou com os jornalistas. O novo capitão Pratto, o zagueiro Rodrigo Caio e o volante Jucilei também falaram após a terceira eliminação no ano. E o uruguaio saiu em defesa do técnico Rogério Ceni, que tem recebido críticas em meio ao cenário ruim.

Para analisar Ceni, Lugano evocou novamente o termo "encantador de serpentes", que já tinha usado para analisar Tite, técnico da Seleção Brasileira. Segundo o zagueiro, Ceni faltou nessa aula. Ele abordou dessa maneira ao elencar as virtudes e defeitos de seu treinador.

- Todo mundo sabe da metodologia de trabalho moderna, exigente, dinâmica para os jogadores. O mesmo que era como atleta, é como treinador. Muito direto, honesto, frontal. O vestiário geralmente valoriza um treinador que, mesmo na hora ruim, publicamente protege o atleta. E na intimidade, que haja cobrança, claro. E jogador condena treinador que fala mal. A imprensa que condena treinador que publicamente não fala mal dos seus companheiros, e valoriza os que jogam seus jogadores para os leões. Falei para ele: "Você faltou na aula mais importante do treinador, que é ser encantador de serpente". Essa parte deveria fazer melhor - afirmou o uruguaio.

Mas o que é ser encantador de serpentes? Lugano deixou no ar.

- Prefiro que vocês utilizem sua imaginação e interpretem minhas palavras. Não adianta eu explicar, se você (jornalista) já têm suas manchetes, não vai mudar o que você pensa. Então utilizem minha metáfora como vocês quiserem - disse o uruguaio, quando perguntado.

Para Lugano, encantador de serpentes é um elogio. Diz respeito ao modo como o treinador trabalha sua imagem e blinda certas críticas com jogo de cintura. Passa por bom relacionamento com a imprensa. Na visão dele, Ceni é tão honesto consigo mesmo que não vê a necessidade de adaptar seu pensamento para agradar à crítica. E poderia fazer diferente para evitar ser perseguido.

No mais, o zagueiro abordou o mau momento do São Paulo e mais da situação de Rogério na coletiva. Só não quis falar da renovação de seu contrato, que vence em 30 de junho. Disse que seria egoísmo, em meio à crise por que passa o clube. Confira abaixo a entrevista coletiva do ídolo Diego Lugano, que fez seis jogos nesta temporada apenas:

Como o Rogério está armando o time?

A gente teve folga ontem, e terça os jogadores que não jogaram fizeram um coletivo. A partir de hoje começará a desenhar o time para segunda-feira.

Renovação

Por enquanto, não é momento para falar de mim porque tem uma situação coletiva mais importante. Seria egoísmo de minha parte. Nesse momento tem de focar toda a energia de sair dessa fase complicada, dificílima. Todo o São Paulo está focado nisso

Como fazer para sair da crise?

Eu tenho a receita sozinho, não conheço outra. Foi um pouco do que falamos outro dia. Quando o resultado não vem, um time grande como o São Paulo, está precisando urgentemente de um título. Óbvio que a pressão, a emoção do torcedor, fica mais sensível. É momento de ter humildade, de fechar a boca, ouvir, apanhar. E com nobreza, tentar melhorar. Ser auto-crítico, saber que a gente não consegue ter o resultado que pretende, que a gente acha que tem potencial, então alguma coisa está faltando porque não está vindo. Todo mundo melhorar um pouco e ajudar no coletivo. Se você tiver outra receita, você me passa e escuto com muito carinho. Estamos precisando. Fazer trabalho no dia a dia, com seriedade.

Como está o Rogério neste momento?

Aqui ninguém gosta de perder, porque sempre está em jogo muita coisa. Ele sabe muito bem o risco que assumiu. Sabe que depende de resultados, e obviamente como qualquer treinador vencedor na vida, não aceita as derrotas e a gente vê nele o mesmo que a gente. A vontade de dar a volta por cima, não aceitar esse mal momento. São personalidades que identificam qualquer atleta de alto nível. Obviamente, afeta as derrotas.

Não tem atuado com frequência

Não tenho jogado porque tem companheiros que estão melhores. Por sorte, vocês vem aqui no CT sempre, e talvez seja o único jogador que não falta um treino, não me machuco. Tenho muitos defeitos, mas o máximo que tenho de fazer pelo São Paulo é estar todo dia dedicado, falando pouco, e dando exemplos. É a maneira melhor de passar as coisas. Porque as palavras no futebol muitas vezes são mentirosas, sem essência. E o exemplo que posso passar é como atitude. E obviamente se estou aqui hoje, a situação do clube não é ideal. O São Paulo está precisando de um título, e ficamos três vezes fora no ano. Obviamente, não é melhor, e os jogadores mais experientes e identificados são os mais responsáveis. Falo pouco, mas quando falo tem que ser assim.

Rogério e o peso de ser ídolo

A figura dele é muito importante para o mercado do futebol brasileiro. Muitas pessoas querem o êxito dele, e o fracasso. Até para mim que tenho identidade, a figura dele ajuda, porque absorve muita a pressão. Como Maradona quando a Argentina poderia ficar fora do Mundial. Isso é um pacote do Rogério, que a personalidade dele ajuda bancar. O resto depende dos resultados, de nós jogadores. O treinador pode ser o melhor do mundo, mas se a gente não fizer nos 90 minutos, de nada adianta. Isso que estamos tentando. O time está se doando por completo. Hoje tem GPS, a gente corre o dobro do adversário. Mas está faltando auto-crítica, sabemos que falta alguma coisa

Críticas foram exageradas?

Não escuto muito a imprensa. Mas acho que foi muito pela aula que ele faltou, para ser treinador, em um mundo tão midiático, que é esse do futebol.

Próximos jogos

Na situação que a gente está, como eu falava para vocês, uma sequência no Morumbi, a médio prazo, é bom. Mas temos de pensar dia a dia, senão a ansiedade, a cobrança, pressão que vem de fora, acaba jogando contra. Você tem que tentar absorver o peso que a derrota traz, e dia a dia. Tem que ser sempre o último jogo. E tentar conseguir os resultados. Não adianta ficar pensando muito agora. São Paulo tem elenco bom, forte. E quando mudar a energia, deixar de fazer gol contra, a sorte muda. O adversário faz gol contra, por exemplo. Tem como brigar, no mínimo, por Libertadores. Não somos um time de estrela, mas somos muito competitivos. Temos de fazer o mais difícil, fazer mudar a energia a fazer do São Paulo.

Episódio da prancheta, entre Ceni e Cícero: alguém está vazando informações para prejudicar o São Paulo?

Como falou Marcelo Bielsa, a mesma notícia na derrota é usada como uma condenação. Na vitória, seria de outra forma. Imagina um vestiário que se você tem uma derrota no clássico e não tem cobrança. Imagina o que vocês estariam falando se o São Paulo empatasse esse jogo. Até criou chances. Se a gente empata, Rogério passaria a ser mais do que mito. A liderança, a forma que os jogadores assimilam as coisas dele. Acho subjetivo, mentiroso. Mas é a realidade. Foi como teve no ano passado quando cheguei. O vestiário do Brasil são mais parecidos do que reality show, todo mundo filmando, muita gente, redes sociais. Não quero passar por cara muito velho, mas não é assim, no Uruguai não é assim, na Argentina, na Europa também não é um pouco assim. E qualquer comentário pode virar uma bola de neve. Essa cena poderia passar como uma página de glória do São Paulo, mas como perdeu...