Atleta paralímpica do Brasil vence câncer de mama para brilhar
Quem conversa por pelo menos cinco minutos com Jane Karla Rodrigues mal imagina a quantidade de provações que ela já enfrentou na vida. A poliomielite aos três anos de idade, que prejudicou os movimentos de suas pernas, talvez nem tenha sido a maior delas. Afinal, em 2010, veio um dos maiores baques: a descoberta de um câncer de mama, meses após a constatação desse mesmo problema em sua mãe. Mas o riso, a fala tranquila e a desinibição para comentar a luta contra tal doença deixam bem claro o resultado de mais essa batalha na vida da paratleta, atualmente competidora do tiro com arco. Nada melhor do que contar tal história no Dia Internacional da Luta contra o câncer de mama, que ocorre nesta quarta-feira.
- Não coloquei o câncer como uma sentença de morte. Encarei como se fosse uma gripe forte, que iria passar, e eu continuaria a fazer o que sempre fiz. O esporte me ajudou muito. Chegava no limite durante a quimioterapia, não conseguia nem calçar um sapato, mas ficava treinando saque. Não aguentava fazer muito exercício, então, ia para o Nintendo Wii praticar, tentava manter a cabeça em outro foco. Busquei ao máximo mostrar essa outra parte para minha mãe - afirmou ao L! a brasileira, que na época quando descobriu a doença ainda praticava o tênis de mesa paralímpico.
Aos 41 anos e natural de Aparecida de Goiânia, Jane lembra bem da época em que precisou enfrentar o tumor. Atleta da Seleção Brasileira paralímpica de tênis de mesa, ela estava se preparando para um Campeonato Mundial, quando descobriu o câncer. O primeiro sinal veio durante um treino de musculação, ao ficar com um incômodo abaixo do seio. Mas o alerta foi ligado mesmo um pouco depois, ao abraçar o marido e sentir uma forte dor:
- Aquilo me assustou. Comecei a apalpar o seio e senti um carocinho. Procurei um médico, e ele falou que era um problema hormonal. Então, busquei um mastologista para ter outra opinião. Os exames não davam nada de concreto, e a única forma de tirar isso da cabeça era com uma biópsia. Viajei para competir e, quando voltei, ele falou que estava com o câncer.
Com a doença em estágio inicial, Jane passou por uma cirurgia para retirar o tumor e seguiu o tratamento com sessões semanais de quimioterapia. Nesse meio tempo, voltou às competições do tênis de mesa. Em 2011, se classificou para o Parapan de Guadalajara (MEX), conquistou a medalha de ouro e foi a porta-bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento. Um ano depois, esteve em sua segunda Paralimpíada, em Londres-2012 (participou também em Pequim-2008). Nesse mesmo ano, no entanto, sua mãe, Maria Helena, morreu por complicações do tumor, que atingiu o cérebro.
- Foi uma perda muito dura. Começamos o tratamento juntas, mas o dela era muito agressivo, ela teve mais complicações - disse a atleta.
Assim como em seu tratamento, Jane teve no marido, o alemão Joachim Gögel, seu principal companheiro para passar por um novo momento ruim. E também por conta dele, trocou de esporte. Como a Seleção Brasileira de tênis de mesa passaria a treinar em Piracicaba (SP) e competidora mora em Goiânia (GO), ela achou complicado deixar a família para trás. Então, buscou uma nova modalidade até encontrar a nova paixão no tiro com arco.
Nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em setembro, caiu nas quartas de final. Mas nada que a desanime.
- Tinha expectativa de medalha, mas não fiz o ciclo todo. Agora, farei um trabalho mais focado. A vida é muito bacana, temos muito o que pensar no que desejamos - disse a arqueira, que faz questão de citar a importância de campanhas de prevenção do câncer de mama e do Outubro Rosa:
- Acho muito bacana. É uma forma de mulher se conscientizar. As mulheres tinham medo de fazer o exame por preconceito, receio de o marido abandonar. Isso gera um constrangimento, um medo. A mulher vai se recuperar caso tenha a doença. Essa informação e divulgação é importante.
OUTUBRO ROSA
A Campanha
O Dia Mundial de Combate ao câncer de mama é celebrado em 19 de outubro, no mês que ficou conhecido como Outubro Rosa, por meio de uma campanha para conscientização das mulheres sobre a importância da realização do exame de mama. Isso possibilita um tratamento mais eficiente, pois facilita a descoberta da doença logo no estágio inicial. O rosa é utilizado no laço que simboliza o combate contra o câncer de mama. Esse movimento nasceu nos Estados Unidos em 1990, e hoje é popular no mundo todo.
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