Adryan cita erros e comparação com Zico: 'Queria ter feito mais pelo Fla'

Joia do Flamengo na base, Adryan abriu o coração sobre a carreira. Aos 29 anos e sem clube, o meia falou ao UOL sobre as comparações com Zico na época da base, a vontade de ter dado mais ao clube onde foi criado e os erros que cometeu ao longo da carreira.

Queria mais no Flamengo

Adryan é torcedor do Flamengo desde criança. Ele teve a oportunidade de jogar no clube do coração logo cedo e aos 16 anos estreou pelo time profissional.

Ele garante não ter sentido a pressão quando jovem, mesmo sendo tido como um dos "novos Zicos" criados pela base do Flamengo. "Eu sei que é um peso jogar no Flamengo, mas era um garoto quando comecei no clube. Já tinha a dimensão da importância, mas eu nunca tive a dimensão de ser comparado ao Zico. Hoje com 29 anos vejo a grandeza, mas naquela época conseguia tirar o peso das minhas costas."

Mesmo assim, lamenta não ter feito mais pelo Fla. Adryan ficou de 2011 a 2014 no Fla e foi emprestado a Cagliari, Leeds e Nantes. Em 2016 voltou e no ano seguinte deixou o clube carioca. "Estou realizado com o Flamengo, mas gostaria de ter proporcionado mais, alcançado as expectativas das pessoas. Fico triste, mas ao mesmo tempo feliz de poder ter feito parte desse clube, poder ter sido campeão, mas eu sempre tenho gosto de que podia e gostaria de ter feito mais."

Adryan viveu um Fla menos badalado e com estrutura pior. Na época, os jovens que subiam da base tinham enorme expectativa e muitas vezes eram lançados antes da hora. "Era conturbado. Ainda não era o Flamengo de hoje, mas estava se reestruturando. O clube sempre me abraçou de uma forma tão boa, mas infelizmente a fase que o time vivia não era a ideal.

"Hoje tem que ganhar Brasileiro, Libertadores. Na minha época brigava às vezes para não cair, ficava no meio de tabela, de vez em quando, raramente, beliscava a Libertadores. Muita gente me fala que se estivesse no time do Flamengo hoje seria outra história. Dá dor no coração falar isso, mas foi o que eu pude viver naquela época. Dei meu melhor sempre", disse.

Adryan acabou deixando o Flamengo de graça em 2017. Um ano antes, ele pediu para ser negociado com o Nantes, onde viveu o melhor momento da carreira. A falta de acordo financeiro, porém, colocou o negócio a perder. A partir daí, o meia quase não teve espaço.

Quando fui profissional eu tive muitas sondagens. Joguei pela seleção de base, fiz bons jogos, ganhei prêmios. Muitas coisas surgiram, mas nunca foi minha vontade sair do Flamengo novo, ser vendido antes de jogar pelo profissional. A minha vontade sempre foi jogar no Flamengo. Quando voltei do empréstimo em 2017, poderia ter sido negociado com o Nantes, disse que gostaria de continuar na Europa, mas não acordaram o valor e fiquei.

Adryan

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Erros na Suíça

Adryan ficou de 2017 a 2019 na Suíça, mas preferia não ter ido. Ele admitiu que, se pudesse, apagaria esse momento da carreira. "Por causa do momento. Hoje, por exemplo, eu voltaria para a Suíça, mas no momento que escolhi ir para a Suíça, não foi o ideal. Foi meio que isso", explicou.

As lesões e a falta de foco o atrapalharam. Ele, porém, revela que faltava estrutura ao clube. "Era muito ruim. O vestiário do Sion era no subsolo de um hotel que era do presidente, um dos caras mais ricos da Suíça. Cada hora treinava em um campo diferente. Poderia ter feito uma escolha um pouco melhor, talvez."

Ele garante não ter arrependimentos, mas acha que poderia ter tido uma postura melhor. "Eu não ter focado realmente em mim. Era para ter dito 'é o que tem, então vamos'. Fui levando e quando vi... nunca tive uma lesão muscular. Quando eu fui para o Sion tive muitas. Não sabia antes o que era dor muscular. Foi complicado, mas era para ter sido dessa forma. Agora estou me reestruturando."

No Sion eu tive muita lesão. É um clube legal para quem está começando, mas para o meu momento não era o clube ideal. Tive muitas lesões, muitos problemas, não era a estrutura que eu achava que fosse. Mas dependeu muito de mim também. Não vou dizer que era um clube amador, era legal de se trabalhar, mas não tinha a estrutura que eu estava acostumado. Desandou um pouco. Acabei me desvencilhando da carreira, não estava focado. Não era uma cobrança alta, eu acho que eu errei nessa escolha.

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Por onde anda

Adryan está há quatro meses sem jogar profissionalmente. Ele diz que chegam algumas possibilidades, mas está analisando com o estafe a melhor. "Estou aberto para a primeira oportunidade legal que aparecer. Estou preparado, treinando bastante".

O último clube foi o Brescia, da Itália. Depois que deixou o Sion, Adryan ainda jogou pelo Kayserispor, da Turquia, voltou ao Brasil para atuar pelo Avaí e em fevereiro deste ano assinou com o clube italiano, onde ficou até o fim da temporada.

Eu sou muito pé no chão, para ser sincero. Sei que é um momento ativo, ainda mais no futebol. Hoje eu preciso voltar ao mercado, independente de qual seja. Preciso desempenhar um futebol que talvez nunca tenha desempenhado na minha carreira. Buscar força, treinar. Quem sou eu para dizer que eu não vou encerrar no Flamengo ou que vou? Posso ter ambição em dizer que, para onde eu for, vou dar meu melhor. O futuro só depende de mim. Se eu puder um dia voltar para o Flamengo, para mim vai ser talvez um sonho, por mais que eu já tenha passado por esse clube. Mas eu sei que eu tenho muito para dar ainda.

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Chegou a receber conselho do Zico?

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Teve uma época que a gente treinava no CFZ e a maioria dos dias o Zico estava presente. Sempre foi muito gostoso conversar com ele. É uma pessoa fantástica. Eu fazia escolinha do Zico antes, então já conhecia dessa época. Quando subi para o profissional a gente conversava sempre que tinha um tempinho. Falava pouco, né? Ele fala pouco, não é muito de ficar horas conversando, mas no pouco tempo foi bem produtivo, era bem legal.

Você acha que saiu cedo do futebol brasileiro?

Muito pelo contrário. Isso só me agregou para voltar com uma certa bagagem. Eu evoluí muito na Europa, para ser sincero. Foi quando realmente me tornei um atleta profissional. Costumo dizer que a vida é feita como ela é. Não tem como mudar uma vírgula, mudar um ponto, só depende da gente. Eu levei por esse caminho, saí cedo do Brasil, foi opção. Era a melhor coisa a ser feita e a gente tem que seguir os trilhos.

Teve algum jogador que te ajudou mais?

Mantenho contato com muitos, mas amigo de verdade acho que quando vai para fora acaba perdendo contato. É normal. Tenho o Vagner Love, por exemplo, converso até hoje. Mantenho contato com ele. Ele passava muitos conselhos quando subi no Flamengo. O Vagner sempre me ajudou muito. A gente estava subindo e ele deixava os garotos seguros, dizia para ir para cima mesmo. Aqueles toques para deixar a gente bem tranquilo, sentir confortável dentro de campo. Esse daí me deixava tranquilo, sentava, conversava, botava todas as responsabilidades nas costas e deixava todo mundo tranquilo.

Qual foi o momento mais alegre da sua carreira?

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O mais alegre da minha carreira, com certeza, foi no Nantes. Foi um dos lugares mais difíceis que joguei, muita força física, e onde desempenhei meu melhor futebol, tive mais sequência de jogos, fiz mais gols, dei mais assistências. Sou o primeiro jogador brasileiro da história do Nantes. Depois da minha passagem, eles contrataram um monte de brasileiros. Eu sempre tive uma relação muito boa com todos eles. Mantenho contato com alguns até hoje.

Teve algum momento que não superou?

Não. Eu não guardo esse tipo de coisa. Sempre quando está ruim, busco melhorar, olhar para frente. Não me apego ao passado. Por mais que eu tenha cometido muitos erros, acho que era para ser assim. Ainda dá tempo de mudar. Para mim é dessa forma.

E a memória mais feliz no futebol?

Foi no Flamengo. No Engenhão, primeiro gol no profissional. Aquele dia ali não dá para esquecer. Primeiro gol pelo Flamengo, 16 anos, surreal. Na época fiz um movimento igual ao Cano na final da Libertadores. Corri por dentro, vim para trás, peguei e bati de trivela no ar.

Qual a torcida que te tratou melhor?

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Leeds, na Inglaterra.

E qual mais "encheu o saco"?

Lá fora é mais tranquilo. Aqui no Brasil, Flamengo, com certeza. No início não ficava muito no pé, mas depois, assim, já jogando profissional, com certeza.

E qual é o melhor campo para jogar e o pior e por quê?

O melhor estádio que eu joguei é o Maracanã. O pior acho que foi o do Young Boys, que é sintético. Não curto muito. Mas hoje em dia a maioria dos times tem, precisa acostumar. Fico todo quebrado depois no outro dia. É difícil. Eu jogo tranquilo, mas é complicado.

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