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'Falta ar até dormindo': Zago hoje é técnico do Bolívar, a 3700 m altitude

Antônio Carlos Zago, técnico do Bolívar - Divulgação/Club Bolívar
Antônio Carlos Zago, técnico do Bolívar Imagem: Divulgação/Club Bolívar

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

16/04/2022 04h00

Na temida altitude de La Paz (BOL), 3700m acima do nível do mar, inúmeros times brasileiros sucumbiram aos efeitos do futebol em grandes altitudes. Antônio Carlos Zago, porém, desafiou o território mais hostil, biologicamente falando, do futebol sul-americano, subiu os Andes, estabeleceu residência e há quase um ano é técnico do Bolívar, o maior campeão nacional da nação andina.

Campeão da Série B com o Red Bull Bragantino, Zago deixou o clube paulista rumo ao Japão e passou dois anos no Kashima Antlers. Logo depois, recebeu o convite para integrar o grupo City, que tem como principal clube o Manchester City (ING). Zago foi designado para treinar o Bolívar em julho do ano passado.

"Tive dois contatos para treinar times do futebol brasileiro, mas optei pelo grupo City porque você acaba entrando em um grupo que tem uma metodologia, onde as pessoas trabalham com mais seriedade e dão mais tempo aos treinadores. Era a oportunidade que eu queria depois de sair do Red Bull Bragantino", contou, em entrevista exclusiva ao UOL.

Depois de pegar um trabalho pelo caminho, Zago teve a oportunidade de montar o time do Bolívar o novo ano e trouxe dois brasileiros que vem fazendo a diferença: o centroavante Chico e o atacante Bruno Sávio. O primeiro soma sete gols e cinco assistências em nove jogos, enquanto o segundo tem cinco gols e duas assistências em dez partidas.

Desempenho à parte, o técnico afirma que não há uma maneira de não sentir os efeitos da altitude. Por lá, como o ar é mais rarefeito, a quantidade de oxigênio é menor do que as pessoas que moram mais abaixo estão acostumadas.

Se adaptar é muito difícil para quem é de fora, você acaba sentindo o fator da altitude. Às vezes, mesmo dormindo falta um pouco de ar, mas é normal para quem é de fora. Dá para aproveitar isso, a maioria dos times que vem jogando aqui sentem, principalmente quem não é da altitude. Procuramos praticar um futebol de pressão, de afogar o adversário. São jogadores que vem fazendo a diferença para nós até agora".

Dos 14 times da primeira divisão do torneio nacional, nove tem sua sede em altitude menor do que La Paz, sendo que cinco mandam seus jogos abaixo dos 500m. Todos eles sentem quando atuam na capital.

Futuro ao City pertence

O sim de Antônio Carlos Zago para o Bolívar foi precedido de uma conversa sobre o futuro. Como é comum dentro do grupo City, o técnico pode entrar em um esquema de rodízio e comandar outro clube parceiro no futuro próximo. Mas antes, a ordem é conquistar a Bolívia.

"Título. Em qualquer lugar se fala de título e com eles não é diferente. Disseram que eu teria o ano passado para trabalhar e tentar neste ano conquistar o título até para, no final, ver se saio daqui também, vou para um outro clube. Questão de metodologia vai muito de país para país. Aqui na Bolívia não dá para jogar um futebol de posse de bola porque os campos são muito ruins. Isso foi conversado também e tenho total liberdade, mas sempre conversando com eles toda semana. Já fui uma vez para Manchester e esse ano devo ir novamente. Temos esse intercâmbio e trabalhamos muito em equipe. Montamos um time bom e acho que vai dar para ser campeão aqui", opinou.

O sonho de Zago é o Bahia. City e Tricolor de Aço tem conversas adiantadas, como publicou o UOL Esporte, mas a reportagem ouviu que ainda é cedo para discutir um treinador e que o nome de Zago tem pouca aceitação entre os baianos. "Tem a possibilidade de, no final do ano, eu sair daqui e ir para dois clubes, que já conversamos. Mas também tem a possibilidade de ficar aqui. Trabalho vem sendo bem feito, estão contentes. Esses dois clubes já existem dentro do grupo City, mas também por eu ser brasileiro tem a questão do Bahia num futuro. Quem sabe se isso não pode acontecer também? Mas [os possíveis destinos] são dois que eles já têm o controle", revelou.

O Grupo City (do inglês City Football Group) é uma holding com fundos vindos dos Emirados Árabes com sede em Manchester. É dono ou parceiro de 11 clubes, três deles nas Américas. O Bolivar, de Zago, o Montevideo City Torque, do Uruguai, e o New York City, dos EUA.