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Caxumba: Médicas indicam isolamento que tiraria Richarlison da Copa América

Afastado ontem, jogador deveria ser isolado por um período de até dez dias; final da Copa América acontece em 7 de julho - Lucas Figueiredo/CBF
Afastado ontem, jogador deveria ser isolado por um período de até dez dias; final da Copa América acontece em 7 de julho Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

28/06/2019 12h00

A notícia de que o atacante Richarlison foi afastado da seleção brasileira pegou muita gente de surpresa ontem. No início da tarde da última quinta-feira (27), a CBF anunciou que o jogador foi diagnosticado com caxumba - e, por isso, cortado da partida Brasil x Paraguai pelas quartas de final da Copa América, em Porto Alegre.

Ele segue isolado e inicialmente não seguirá com a delegação para Belo Horizonte, palco da semifinal da próxima terça-feira (2), contra o vencedor de Argentina x Venezuela.

A doença, segundo o Ministério da Saúde, é uma infecção viral aguda e contagiosa, transmitida principalmente por via respiratória. E diante do elevado risco de contágio, a comissão técnica não apenas decidiu afastar o jogador como também anunciou que o restante da delegação - atletas e demais profissionais - receberia vacinas após o jogo de ontem.

As medidas, segundo médicas procuradas pelo UOL Esporte são corretas. "A caxumba é um vírus. Não tem um tratamento contra o vírus. Trata-se (sintomas como) a dor, hidrata e tudo. Tem que manter afastado por nove dias desde o aumento da parótida (uma das glândulas salivares). Tem que afastar e repousar, porque existe uma chance de a caxumba descer para o testículo", alertou Elisa Miranda Alves, médica infectologista da DaVita Serviços Médicos, em São Paulo.

No entanto, a ideia da comissão técnica é isolar Richarlison inicialmente por menos tempo: cinco dias. O período pode ser insuficiente para uma melhor recuperação do atacante.

"O período de maior transmissibilidade é de dois antes a cinco dias após o início do principal sintoma, que é o aumento das glândulas salivares. Por ele estar concentrado, qual é o perigo aos outros jogadores? Existe um período de incubação, em média, de 16 a 18 dias, variando de 12 a 25, da doença estar incubada", avisa Melissa Palmieri, coordenadora médica de vacinas do Grupo Pardini e integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Imunizações (Regional São Paulo).

"Aí, há uma questão pior, pensando nos outros jogadores. O modo de transmissão é por secreção respiratória. Pode acontecer por contato direto, por gotículas da secreção da garganta. Qual é o grande perigo agora? É que de 30% a 40% dos indivíduos que são infectados não vão ter uma infecção aparente - ou seja, não vai dar aquele aumento da glândula, e a pessoa continua disseminando a doença", completou.

O ideal, segundo as profissionais de saúde procuradas pela reportagem, seria um afastamento de Richarlison por dez dias. Como a final da Copa América acontece em 7 de julho, isso afastaria o atacante de toda a competição, mesmo em caso de título da seleção brasileira.

"Para essa doença específica, o tratamento é isso: repouso e isolamento. O isolamento costuma ser de nove a dez do início dos sintomas. Depois, ele pode até ter convívio com outras pessoas, embora mantendo repouso", explica Melissa.

Controle de surto

Para evitar este caso de contágio de mais jogadores, a CBF confirmou a vacinação da delegação. É a chamada vacinação de bloqueio, que as duas médicas garantiram ser bastante eficiente no controle.

Segundo Melissa, uma dose adicional de vacina é uma das recomendações em casos do tipo. Trata-se da medida para controles de surtos, já que a caxumba é combatida com a aplicação das vacinas tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola, dada em geral aos 12 meses de vida) e tetra viral (contra sarampo, caxumba, rubéola e catapora, cuja dose é aplicada em geral aos 15 meses). Por isso, é importante que as duas doses da vacina estejam atualizadas

"Há estudos nos Estados Unidos que comprovam que, em situações de surtos escolares, surtos em locais de confinamento, mesmo que existam pessoas com a vacinação adequada (duas doses), uma terceira dose é muito eficaz para a contenção de surto em ambiente de confinamento. Provavelmente essa estratégia de controle deve estar sendo adotada pela área médica (da seleção)", disse a médica, destacando que se trata de uma "estratégia pontual".

"Quando você tem um caso de sarampo, rubéola ou caxumba, você faz uma vacinação de bloqueio. As pessoas vão fazer anticorpos rapidamente contra a vacina, então isso é eficaz na maioria dos casos", concordou Elisa Miranda Aires, que também indicava o afastamento de Richarlison por mais tempo. "A partir do momento em que foi diagnosticado, você conta nove dias do aparecimento do inchaço. Depois de nove dias, a pessoa não infecta mais."

Risco raro de sequelas

Em homens, o principal risco da doença é a chamada orquite, quando ocorre a descida da infecção para os testículos. Em um atleta de alto rendimento, a possibilidade é a mesma; no entanto, em caso de sequelas mais raras, um atacante poderá ter problemas nas articulações, por exemplo.

"É muito importante saber que é uma doença que tem um curso benigno e que tem mortalidade muito baixa. Apesar do caráter da doença ser sistêmico, que acomete frequentemente outros órgãos e outras estruturas, na grande maioria das vezes ela vai evoluir sem complicação ou sequela. Menos de 10% dos casos vão ter sintomas de infecção no sistema nervoso central; tem também uma inflamação frequente dos testículos do homem após a puberdade, e um risco raro de acontecer uma esterilidade", explicou a médica Melissa.

"Há outras complicações que são raras - por exemplo, uma artrite, inflamação de articulação. Isso prejudica o jogador de futebol. Também pode dar inflamação da tireoide, do músculo cardíaco, e perda auditiva. As complicações são raras, mas se acontecer com um profissional de alto rendimento, prejudica a vida dele. Por isso, é importante enfatizar: todos os profissionais deveriam estar em dia com a vacinação", acrescentou.

A possibilidade de sequelas aumenta, segundo a médica Elisa, no caso de problemas de imunidade. "Se uma pessoa tem a imunidade comprometida, pode ter um quadro mais grave", explica.