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Como família Collor ajudou carreira de bicampeão brasileiro pelo São Paulo

Rubens Cavallari/Folhapress
Imagem: Rubens Cavallari/Folhapress

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

04/05/2019 04h00

Bicampeão brasileiro pelo São Paulo, Souza ainda pretende disputar mais um Campeonato Brasileiro. Aos 40 anos, o meia recordou em conversa com o UOL Esporte que teve ajuda da família do ex-presidente Fernando Collor no início da carreira e que a transferência para o time do Morumbi teve participação decisiva do ex-goleiro Rogério Ceni, atual treinador do Fortaleza.

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Natural de Maceió, Souza se profissionalizou no CSA, onde foi campeão alagoano em 1999. As boas atuações despertaram o interesse de clubes da elite do futebol brasileiro e o jogador acertou a ida para o Botafogo no ano seguinte. Foi então que ocorreu a curiosa participação de um membro da família Collor para que o atleta fosse atuar no Rio de Janeiro. Foi Arnon de Mello, filho do ex-presidente da República, ex-dirigente do clube alagoano e atualmente executivo da NBA para a América Latina.

"Eu estava me destacando bastante no CSA e tinha vários clubes interessados. Um cara que era muito amigo do filho do ex-presidente Fernando Collor de Mello, o Arnon de Mello, me ofereceu ao Botafogo. Um empresário foi atrás do presidente do CSA, que era amigo do filho do Fernando Collor. O filho do Fernando Collor tem uma importância na minha carreira. Mas toda a galera que eu trabalhei na base do CSA e mesmo nos campos de pelada de Maceió também tem uma importância muito grande na minha carreira", recordou.

A passagem pelo Botafogo, no entanto, foi apagada. Após rodar por alguns clubes, inclusive pelo Libertad do Paraguai, Souza acabou na Portuguesa Santista. No time do litoral paulista voltaram as boas atuações. Naquele Campeonato Paulista, em 2003, a Briosa foi a sensação do Estadual ao chegar à semifinal, mas acabou eliminada pelo São Paulo.

Apontado como destaque do time da Baixada Santista, ao lado do atacante Rico, Souza despertou o interesse do São Paulo. Mas engana-se quem acha que a contratação do meia partiu de um pedido do então treinador Muricy Ramalho ou do então vice-presidente de futebol Juvenal Juvêncio.

"Quem me observou foi o Rogério Ceni. Eu fiz um jogaço contra o São Paulo pela Portuguesa Santista [empate por 1 a 1, no Morumbi]. Eu acabei fazendo um gol de falta e fiz um monte de jogadas bonitas. No intervalo para segundo tempo, o Rogério me elogiou bastante e perguntou com quem eu trabalhava. O interesse surgiu daí", comentou Souza.

Elogios a Muricy Ramalho
Muricy Ramalho, técnico do São Paulo, orienta sua equipe no clássico contra o Corinthians, no Itaquerão - Eduardo Anizelli/Folhapress - Eduardo Anizelli/Folhapress
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Apesar de ter conquistado inúmeros títulos pelo São Paulo - Paulistão, Libertadores da América, Mundial de Clubes (todos em 2005) e Brasileirão (2006 e 2007) -, Souza teve dificuldades para se adaptar e receber oportunidades no time titular. A chance veio com a saída de Cicinho para o Real Madrid.

Para isso, o treinador Muricy Ramalho o deslocou para atuar na lateral-direita. "Se tem uma coisa que eu me orgulho foi de ter aprendido muita coisa com o Muricy. Ele é um cara muito leal e honesto. Ele foi um cara que me ajudou bastante, me fez crescer muito como ser humano", elogiou o jogador, que ainda fez uma analogia ao treinador Luiz Felipe Scolari para que o São Paulo mantivesse no topo por temporadas consecutivas.

"No Brasileiro de 2006, a gente tinha um time muito consistente. Além disso, éramos bastante amigos. A galera era muito amiga e isso é muito importante no futebol. Não basta ser só um time, tem que ter aquele ditado do Felipão, da família Scolari. Isso é uma verdade. Nós montamos uma família verdadeira e aí deu no que deu. Nos 38 jogos foi muita consistência", analisou.

Polêmico rebaixamento com a Lusa
08.jun.2013 - Volante Ralf (d), do Corinthians, disputa posse de bola com meia Souza, da Portuguesa, durante jogo pelo Campeonato Brasileiro - Reinaldo Canato / UOL - Reinaldo Canato / UOL
Imagem: Reinaldo Canato / UOL

Após deixar o São Paulo, Souza defendeu Paris Saint-Germain, Grêmio, Cruzeiro e Fluminense. Em 2013, fechou contratado para atuar na Portuguesa no Campeonato Brasileiro. Aquela edição do torneio ficou marcada pelo polêmico rebaixamento da Lusa à Série B devido a escalação irregular do meia Héverton, que deveria ter cumprido suspensão na última rodada contra o Grêmio. O atleta, no entanto, foi a campo nos minutos finais da partida.

Devido à irregularidade, a Lusa foi punida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva e acabou rebaixada. Comedido, Souza fez críticas veladas a diretores do clube da época.

"É um sentimento de impotência. Até onde eu sei, foi bem provado que teve irregularidade de algumas pessoas influentes do clube. Não vou entrar neste mérito. Mas acabaram com a história de um clube bem tradicional de São Paulo, que revelou grandes jogadores para a seleção brasileira e para o mundo. Eu nunca vi, nunca presenciei alguém vender resultado. Nunca ninguém falou ou expôs isso", declarou.

Souza, no entanto, revelou que presenciou um caso de suborno ao juiz uruguaio Gustavo Mendez, antes da primeira partida entre São Paulo e River Plate, pela semifinal da Libertadores de 2005.

"O Juvenal chegou antes do jogo e falou que o juiz estava comprado. Esse foi banido do futebol. Eu tenho essa lembrança. Mas vender um jogo ou fazer corpo mole para o outro ser campeão, nunca aconteceu isso comigo. Não adiantou nada porque ganhamos do River no Morumbi, por 2 a 0, e na volta, no Monumental de Nuñez, voltamos a ganhar por 3 a 2. Não adiantou nada. Esqueceram de comprar a gente", brincou o jogador.

Planos para mais um Brasileiro

Após defender o Grêmio Bagé na Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho nesta temporada, Souza ainda pretende disputar mais uma edição do Brasileirão para, enfim, encerrar a carreira aos 40 anos. Depois disso, o meia pretende utilizar as duas décadas dedicadas ao futebol para gerir a carreira de atletas profissionais.

"Nenhum clube ainda me procurou. O meu objetivo ainda é disputar um Brasileiro. Estou estudando. Depois disso, tenho no meu coração a vontade de cuidar de atletas. No futuro, posso ser um empresário ou treinador. Vivi a minha vida toda dentro do futebol", comentou.