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Futebol se aproxima do debate político em Venezuela dividida

Irmão de Hugo Chávez e presidente do Zamora, Adelis Chávez ganhou uma camisa do Atlético-MG em 2014 - Victor Martins/UOL Esporte
Irmão de Hugo Chávez e presidente do Zamora, Adelis Chávez ganhou uma camisa do Atlético-MG em 2014 Imagem: Victor Martins/UOL Esporte

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

17/03/2019 04h00

Uma foto publicada pelo jornalista venezuelano Agustín Rodríguez colocou o futebol na rota dos debates políticos que envolvem a presidência da Venezuela. Rival do Atlético-MG na fase de grupos da Libertadores, o Zamora é presidido por Adelis Chávez, irmão do falecido ex-presidente Hugo Chavéz e, por consequência, apoiador do regime de Nicolás Maduro. Entretanto, nada menos que nove jogadores do clube postaram uma foto ao lado de Juan Guaidó, declarado presidente da Venezuela por um grupo opositor, que conta com o apoio dos governos dos EUA e do Brasil, entre outros.

O racha, ainda sem consequências determinadas dentro do clube, é mais um episódio da relação entre política e futebol que tem surgido no noticiário nos últimos dias no país vizinho. Na última terça-feira, a Federação Venezuelana de Futebol anunciou a paralisação do campeonato nacional por tempo indeterminado, alegando impossibilidade de realizar os jogos por conta do apagão de energia elétrica na Venezuela desde 7 de março.

Ainda nesta semana, o Deportivo Lara se viu impossibilitado de enfrentar o Cruzeiro pela Libertadores, sem conseguir deixar o país pelas dificuldades estruturais com aviões e aeroportos. A Conmebol remarcou o jogo de quarta para quinta, inicialmente, mas teve de remarcá-lo para 27 de março, no Mineirão.

A postura dos jogadores do Zamora reverberou pouco em uma Venezuela sob censura. Exceto pelo próprio Agustín, que se apresenta no Twitter como "venezuelano e livre", e pelo jornal El Nacional, um dos poucos focos de oposição a Maduro a seguir ativo, a imprensa não debateu o tema - cabe ainda dizer que o futebol não é o esporte número um do país, papel que cabe ao beisebol.

O UOL Esporte conversou com um jornalista venezuelano que pediu para não ser identificado na reportagem, sob temor de sofrer represálias. "Há uma mensagem (na foto): todos estão cansados do Chavismo", disse à reportagem. No descritivo do cenário do país vizinho, os veículos nacionais, todos estatizados, não acompanham as manifestações contra Maduro. Há programas de rádio censurados, os serviços básicos não funcionam, falta comida, saúde e "os salários não duram nada".

Questionado se apoiaria uma intervenção americana ou mesmo brasileira na Venezuela, o jornalista foi taxativo: "Não. As intervenções sempre trazem efeitos colaterais, muitos inocentes pagam [o preço]. O que acho é que a pressão internacional deve continuar, que o Tribunal de Haya tome ações contra os governantes. A corrupção é o que tem no país: roubaram tudo".