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Copa vê tendência de atacantes-defensores 4 anos após sacrifício de Jesus

Richarlison em ação pela seleção brasileira contra a Coreia do Sul - Francois Nel/Getty Images
Richarlison em ação pela seleção brasileira contra a Coreia do Sul Imagem: Francois Nel/Getty Images

Rodrigo Mattos e Thiago Arantes

do UOL, em Doha (QAT) e Barcelona (ESP)

08/12/2022 21h30

Classificação e Jogos

Quando a seleção brasileira foi eliminada pela Bélgica, nas quartas de final da Copa de 2018, a busca por culpados encontrou em Gabriel Jesus um alvo fácil. O atacante havia se tornado o primeiro da posição a não fazer gol em um Mundial pela seleção brasileira. Tite saiu em defesa, disse que o jogador, então no Manchester City, ajudava taticamente marcando os zagueiros e laterais adversários. Foi motivo de piada.

Quatro anos depois, as palavras de Tite para Gabriel Jesus na Rússia podem ser repetidas por vários treinadores da Copa do Mundo para seus atacantes. Os números da Copa do Qatar mostram algo que os principais técnicos do mundo repetem à exaustão, especialmente desde 2018: os atacantes são os primeiros defensores.

A seleção brasileira é um bom exemplo. Para jogar com um time mais ofensivo, com apenas Casemiro como volante de origem, Tite precisa de atacantes que ajudem na marcação. Tornou-se cena comum ver Vini Jr. e Raphinha correndo até a área de defesa na marcação dos pontas e laterais adversários. Richarlison, o camisa 9, é o jogador brasileiro mais envolvido em ações de pressão defensiva: foram 151 vezes que ele tentou tirar a bola dos rivais.

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Müller caiu com a Alemanha, mas liderou ajudas na marcação
Imagem: Ina Fassbender / AFP

Em Portugal, a mesma estatística é liderada por Bernardo Silva, um meio-campista de caráter muito mais criativo que marcador. Foram 188 vezes que o jogador do Manchester City brigou pela bola com jogadores rivais.

Na seleção de Gana, eliminada na primeira fase, quem mais pressionou foi Mohammed Kudus, artilheiro do time no torneio, com 144 ações. O mesmo aconteceu no Irã, de Mehdi Taremi (3 gols, 203 recuperações). Camarões, que venceu o Brasil na terceira rodada da fase de grupos por 1 a 0, teve como líder na estatística outro atacante: Éric-Maxim Choupo-Moting (123 ações defensivas).

Uma das melhores partidas do Mundial até agora, a vitória da Suíça por 3 a 2 sobre a Sérvia, no mesmo grupo do Brasil, também mostrou bem a nova tendência. Quem mais pressionou pela Sérvia foi o ponta-direita Andrija Zivkovic, com 35 ações; o segundo colocado da Suíça foi o ponta-esquerda Ruben Vargas, com 30 tentativas de ganhar a posse de bola rival.

Fenômeno parecido aconteceu em Alemanha 1 x 1 Espanha, outra partida que foi elogiada como aula de futebol moderno. Os dois alemães que mais tentaram pressionar para encerrar as longas posses de bola dos espanhóis não foram volantes ou zagueiros: Thomas Muller (62 ações defensivas de pressão) e Jamal Musiala (53) lideraram o time na estatística.

Mudança de conceito

A pressão desde as primeiras linhas é uma estratégia dos treinadores para tentar diminuir o tempo de recuperação da posse de bola. A comissão técnica da seleção brasileira trabalha com o conceito de "rec5": tentar retomar a posse até 5 segundos depois de perdê-la. Essa nova dinâmica em que todos defendem é parte da modernização do jogo, segundo alguns dos principais treinadores do Mundial.

"Não é mistério. O futebol se desenvolveu, todos os jogadores têm trabalhado para a equipe. Todo mundo tem que trabalhar para defender e atacar", explicou Lionel Scaloni, treinador da Argentina, que enfrentará a Holanda às 16h por uma vaga na semifinal.

lvg - GARETH BUMSTEAD/REUTERS - GARETH BUMSTEAD/REUTERS
Louis Van Gaal admite que o futebol mudou
Imagem: GARETH BUMSTEAD/REUTERS

Aos 71 anos, o comandante holandês Louis Van Gaal também admite que o jogo de hoje é outro, bem diferente de outros tempos. "O futebol não é mais um esporte jogado como em 1998 ou 2002. Na época, era um jogo aberto. Mas ainda pode ter momentos decisivos. E nos lembraremos desses momentos para sempre", afirmou o veterano treinador.