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Corte de Benzema traz de volta maldição da Bola de Ouro na Copa

Karim Benzema levou a Bola de Ouro 2022, mas acabou cortado da Copa do Mundo por lesão - FRANCK FIFE / AFP
Karim Benzema levou a Bola de Ouro 2022, mas acabou cortado da Copa do Mundo por lesão Imagem: FRANCK FIFE / AFP

Diego Garcia e Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, em Doha e Barcelona

20/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Chegar à Copa como melhor jogador do mundo e conquistar o título. As duas coisas parecem ter uma relação direta, mas a história do futebol diz o contrário. Jamais um jogador que conquistou a Bola de Ouro imediatamente antes do Mundial ficou com o título. A Copa do Qatar nem começou, mas a maldição já foi confirmada mais uma vez na noite de sábado, com o corte de Karim Benzema pela seleção francesa.

O atacante do Real Madrid é mais um nome em uma lista que tem alguns dos maiores jogadores de todos os tempos. Di Stéfano, Cruyff, Ronaldo, Ronaldinho, Messi, Cristiano Ronaldo? Ninguém escapa da maldição da Bola de Ouro.

Di Stéfano UCL Real Madrid - Seção "Que Fim Levou?"  - Seção "Que Fim Levou?"
Di Stéfano (dir.) ergue a taça da Liga dos Campeões pelo Real Madrid
Imagem: Seção "Que Fim Levou?"

O prêmio é dado pela revista France Football desde 1956 e, até 1994, incluía apenas jogadores europeus. O primeiro premiado em um ano pré-Copa, em 1957, foi Alfredo Di Stéfano, argentino naturalizado espanhol que era ídolo do Real Madrid. Mesmo com Don Alfredo no time, a Espanha não se classificou para a Copa de 1958, que acabou vencida pelo Brasil e projetou Pelé, que mais tarde se tornaria o "Rei do Futebol".

Na Copa de 1962, quem chegou como dono da Bola de Ouro foi Omar Sívori, da Juventus. No Mundial, ele passou em branco, e a Itália caiu ainda na fase de grupos, em uma chave com Alemanha Ocidental, Suíça e o anfitrião Chile, surpresa daquele torneio.

Quatro anos mais tarde, o português Eusébio era quem chegava à Inglaterra como detentor do prestigiado prêmio. O Pantera Negra foi o artilheiro do Mundial com 9 gols e levou Portugal ao terceiro lugar, mas o título de 1966 ficou com os anfitriões, em final dramática e polêmica contra a Alemanha, em Wembley.

Para a Copa de 1970, as estrelas premiadas eram os italianos. Gianni Rivera, do Milan, havia conquistado a Bola de Ouro de 1969; e Gigi Riva, do Cagliari, fora o segundo colocado. Os dois estavam em campo quando a Itália caiu diante do Brasil de Pelé, Tostão, Rivellino e Jairzinho, por 4 a 1, na histórica final no Estádio Azteca.

Outro que chegou ao Mundial como ganhador do prêmio e acabou vice-campeão foi Johan Cruyff. Vencedor em 1973, ele viu sua Holanda perder de virada para a Alemanha na decisão. Curiosamente, Cruyff voltaria a ganhar o prêmio em 1974, já depois da Copa, mesmo sem o título.

A Bola de Ouro de 1977 premiou o dinamarquês Allan Simonsen, vice-campeão europeu com o Borussia Mönchengladbach. A seleção dinamarquesa só disputaria seu primeiro Mundial oito anos depois, em 1986 (com o atacante na reserva). Em 1978, Simonsen viu pela TV o primeiro título da Argentina de Mario Kempes, com o troféu ao lado da France Football na estante.

Chegamos a 1982, e novamente o dono do prêmio da temporada anterior sofreu. Karl-Heinz Rummenigge havia sido o melhor jogador europeu de 1981 e chegou ao Mundial como grande esperança da Alemanha. O atacante do Bayern de Munique entrou no sacrifício na semifinal contra a França, marcou um golaço e levou a Mannschaft à final. Só que a Itália de Paolo Rossi venceu por 3 a 1.

Platini 1986 - AFP PHOTO/GEORGES GOBET - AFP PHOTO/GEORGES GOBET
A França de Platini eliminou o Brasil em 1986, mas acabou em terceiro lugar
Imagem: AFP PHOTO/GEORGES GOBET

A Copa de 1986 foi de Diego Armando Maradona e da Argentina. Mas, em um mundo em que apenas os europeus competiam pela Bola de Ouro, o dono do prêmio quando o Mundial começou era Michel Platini. A França fez boa campanha e eliminou o Brasil nos pênaltis, mas acabou em terceiro lugar.

Em 1990, o grande jogador europeu era o holandês Marco Van Basten. Autor de gol antológico na final da Eurocopa de 1988, ele chegava ao Mundial da Itália com dois prêmios da France Football consecutivos. Mas, na Copa, o artilheiro do Milan sumiu. A Holanda caiu nas quartas de final contra a futura campeã Alemanha. Van Basten passou em branco, e encerrou a carreira sem jamais ter feito um gol em Copas.

Baggio 1994 - Reprodução - Reprodução
Baggio perde pênalti no final da Copa do Mundo de 1994
Imagem: Reprodução

A maldição da Bola de Ouro atingiu o seu ápice nas duas Copas seguintes, envolvendo protagonistas não apenas do torneio, como das finais. Em 1994, Roberto Baggio chegou aos Estados Unidos com o status de melhor do mundo, conquistado um ano antes. Depois de carregar a Itália até a final, com gols decisivos em todos os jogos do mata-mata, ele jogou a decisão no sacrifício e errou o pênalti decisivo que deu o tetracampeonato mundial ao Brasil.

Ronaldo 1998 - Oliver Berg/picture alliance via Getty Images - Oliver Berg/picture alliance via Getty Images
Ronaldo na final da Copa do Mundo de 1998, contra a França
Imagem: Oliver Berg/picture alliance via Getty Images

Com a abertura do prêmio para não-europeus em 1995, o Brasil teve seu primeiro Bola de Ouro em 1997: Ronaldo. O atacante da Internazionale chegou ao Mundial de 1998 no topo do mundo e foi um dos responsáveis por levar a seleção brasileira até a decisão, contra a anfitriã França. No dia da final, uma crise convulsiva horas antes da partida mudou o roteiro daquela Copa. Com um Ronaldo apático, o time comandado por Zagallo foi derrotado por 3 a 0.

A redenção de Ronaldo em Mundiais viria com o título em 2002. Nas quartas de final, a seleção brasileira venceu sua partida mais complicada naquela Copa: superou a Inglaterra por 2 a 1, de virada. A estrela dos ingleses era Michael Owen; o dono da Bola de Ouro de 2001.

Em 2006, pela segunda vez, o Brasil chegava à Copa com um jogador como melhor do mundo. Ronaldinho havia conquistado o mundo do futebol no Barcelona, mas não brilhou na Alemanha. A seleção brasileira, cheia de estrelas, acabou eliminada nas quartas de final pela França, e o título ficou com a Itália.

Então, veio a Era Messi-Ronaldo. Entre 2008 e 2017, uma década, o argentino e o português revezaram-se no alto do pódio da premiação, com cinco bolas de ouro para cada um. Nas três Copas deste período, a maldição se manteve.

Messi e Ronaldo - AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI - AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI
Durante dez anos, Messi e Cristiano Ronaldo dominaram a Bola de Ouro, mas jamais a Copa
Imagem: AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI

Messi, premiado em 2009, viu a Argentina cair nas quartas de final em 2010, goleada por 4 a 0 diante da Alemanha. Cristiano Ronaldo, que ficou com os troféus de 2013 e 2017, teve ainda pior sorte -- Portugal não passou da fase de grupos em 2014 e caiu nas oitavas em 2018, eliminado pelo Uruguai.

A Copa do Qatar, pela mudança nos calendários do Mundial e da Bola de Ouro, é a primeira em que o vencedor mais recente recebeu o prêmio no mesmo ano do torneio. De volta à seleção francesa e campeão da Champions League pelo Real Madrid, Karim Benzema era forte candidato a romper o encanto e finalmente ganhar o título sendo o melhor do mundo. Mas a lesão na coxa, no treinamento de sábado, mudou o rumo da história.

Caso a Copa-2022 fosse disputada em junho e julho, como nas edições anteriores, o premiado mais recente teria sido Messi, que levou a Bola de Ouro em 2021. A mudança de datas salvou o argentino e colocou o peso sobre Benzema. Com a lesão do francês, a maldição continua. Pelo menos até 2026.

Deschamps treino - Liu Lu/VCG via Getty Images - Liu Lu/VCG via Getty Images
Didier Deschamps, técnico da França, durante treino no Qatar
Imagem: Liu Lu/VCG via Getty Images

França tem que definir novo convocado até segunda

E a atual campeã França ainda fica em situação delicada antes mesmo de entrar em campo no Mundial do Qatar. A equipe já havia perdido Ngolo Kanté, Paul Pogba, Presnel Kimpembé, Mike Maignan e Chrisopher Nkunku por lesão.

Agora, fica a expectativa sobre um eventual substituto para Benzema. O titular deve ser Olivier Giroud, que fez parte da equipe em 2018 e foi campeão mesmo sem fazer um único gol.

O técnico Didier Deschamps também pode convocar outros atacantes. Wissam Ben Yedder, do Monaco, e Martin Terrier, do Rennes, surgem como opções principais, ou até Hugo Ekitiké, do PSG.

O treinador tem até a próxima segunda-feira (21) para definir quem será chamado. O único requisito é que o jogador esteja em uma pré-lista de enviados pela Federação Francesa à Fifa.

Mas, de qualquer maneira, o corte de Benzema caiu como um balde de água fria entre os franceses no Qatar. A atual campeã ainda lamentava os demais desfalques antes que o astro se machucasse.

A lesão ocorreu em treino realizado no estádio do Al Sadd, no centro de Doha. Nos 15 minutos abertos à imprensa, Benzema estava sorridente e correndo com os companheiros. Benzema se machucou durante a parte da atividade que foi fechada para os jornalistas.

Direto de Doha, capital do Qatar, o UOL News Copa traz notícias sobre a Sérvia, primeiro adversário do Brasil, fala da recepção da Seleção, dos desfalques da França e tudo sobre o primeiro dia da Copa! Confira: