Topo

Tinga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Furacão tem varrido a mesmice do futebol brasileiro

Nikão comemora um dos seus gols na vitória do Athletico-PR contra o Flamengo, pela volta da semifinal da Copa do Brasil - Thiago Ribeiro/AGIF
Nikão comemora um dos seus gols na vitória do Athletico-PR contra o Flamengo, pela volta da semifinal da Copa do Brasil Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Com Augusto Zaupa

30/10/2021 04h00

Às vésperas dos jogos que iriam definir os finalistas da Copa do Brasil, muito se debateu se o Athletico pode ser considerado um dos 12 maiores clubes do Brasil. Mas o que define a grandeza de um time? Títulos, torcida, estrutura, tradição, recentes campanhas de destaque? Isto tudo o Athletico tem.

O Furacão tem batido de frente e superado, no mínimo, há uma década clubes gigantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Profissionais que vivem internamente o futebol profissional têm preferido firmar acordos com o Athletico por toda a infraestrutura e seriedade nos projetos que são oferecidos e respeitados.

Este comprometimento com o traçado tem nome e sobrenome: Mario Celso Petraglia. Não conheço este homem que está à frente da equipe paranaense há mais de 20 anos. É comum ouvirmos que o Red Bull Bragantino é atualmente o único clube-empresa do país, mas podemos dizer que há um sentimento de "dono", de posse do controle no Athletico nas mãos do Petraglia.

Temos uma visão pejorativa no Brasil que ser "dono" de uma instituição é algo maléfico. Infelizmente, em qualquer área, trazemos o lado negativo. Mas um negócio que tem dono e é bem administrado tem potencial de sucesso, tanto que o Athletico tem demonstrado isso dentro de campo ao ser finalista da Copa do Brasil e da Su-Americana nesta temporada, além dos títulos destes torneios que conquistou em 2019 e 2018, respectivamente. Essa visão macro que parte da diretoria facilita, e muito, o apagar dos incêndios nos vestiários sem grandes alardes, como troca de treinadores e saídas de atletas importantes.

Não tive a oportunidade de vestir a camiseta do Furacão nem fui sondado para que isso se concretizasse, mas quando decidi me aposentar e ir em busca de aprendizados em outras áreas, o William Thomas (voltou ao clube para atuar como gerente executivo) abriu as portas da Arena da Baixada para que eu pudesse aprender um pouco sobre gestão no futebol.

Atlético-PR comemora título da Copa Sul-Americana 2018 - Divulgação/Twitter/AtléticoPR - Divulgação/Twitter/AtléticoPR
Jogadores do Athletico-PR festejam o título da Copa Sul-Americana 2018
Imagem: Divulgação/Twitter/AtléticoPR

Nestes dias em que vivi a rotina interna do clube, ministrei palestras às categorias de base e testemunhei de perto o quanto o Furacão é diferenciado. Presenciei vários pontos semelhantes ao que atestei na Europa. O Paulo Miranda (ex-meia de Vasco, Flamengo, Bordeaux-FRA e do próprio Furacão), quando estava prestes a assumir função nas categorias de base do Athletico, chegou a me ligar para eu passar o que havia apreendido quando exerci cargo na diretoria de futebol do Cruzeiro.

Sem surpresas

É por estas e outras que eu não me surpreendi ao ver o Athletico eliminando o poderoso time do Flamengo na semifinal da Copa do Brasil, aplicando 3 x 0 em pleno Maracanã. O Furacão já havia batido os cariocas nas quartas de final de 2019 para depois se sagrar campeão do mata-mata sobre o Internacional, no Beira-Rio lotado.

Esta discrição, calma na tomada de decisões, olhar macro sobre a gestão e profissionalismo são fundamentais para que o Athletico siga na briga por dois importantes títulos nesta temporada, consolidando a sua marca também no mercado internacional, visto que o Furacão é temido e respeitado por outras potências da América.

As decisões não são tomadas por acaso, a paixão clubista fica de lado. O fato de colocar o time sub-20 para disputar o Estadual demonstra planejamento e foco no que realmente importa, no que irá dar mais vitrine ao time. Não é o temor de inovar, de ir contra a direção que todos costumam rumar.

Já temos um modelo de clube-empresa, que é o Red Bull Bragantino, e talvez o modelo do Athletico seja o ideal para a realidade do futebol brasileiro, pois nem tudo que vem da Europa terá sucesso garantido aqui no nosso país.