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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

União e transparência são fundamentais para nova Liga

Troféu do Campeonato Brasileiro - Fernando Torres / CBF
Troféu do Campeonato Brasileiro Imagem: Fernando Torres / CBF

18/06/2021 04h00

Menos de dez dias após o afastamento de Rogério Caboclo da presidência da Confederação Brasileira de Futebol, praticamente todos os clubes da Série A do Brasileirão assinaram compromisso para fundar uma Liga independente e tirar todo o poder que hoje está nas mãos da CBF. Esta almejada Liga é extremamente legítima e de suma importância para o futuro dos nossos clubes, mas o mais importante desta iniciativa é quem irá gerir e inspecionar este novo torneio.

Encontramos atualmente no nosso país uma escassez muito grande de confiança, independentemente da qual seja a área. Talvez este seja o maior desafio, buscar personagens que realmente entendam de futebol, sejam íntegros e que passem confiança em um processo com transparência.

Construir uma Liga não é simplesmente discutir calendário e buscar melhores resultados financeiros. É preciso pensar no macro: como ampliar a visibilidade, como pagar as contas em dia e como será a coesão da junta diretiva, além de evitar clubismos, entre outros pontos.

É de extrema importância num país de dimensão territorial e com mais de 650 times — segundo dados oficiais da Fifa, o Brasil é a nação com mais equipes profissionais de futebol do mundo, enquanto o segundo colocado México tem pouco mais de 240 times — que tenhamos uma Liga autônoma, pois não é aceitável que apenas a CBF fique a cargo de tudo.

Mas não podemos nos apegar ao fato que esta iniciativa só foi tomada devido ao momento tenso da CBF, visto que, se formos analisar o histórico da entidade nas últimas décadas, a crise sempre esteve presente na sua rotina, tanto que os últimos quatro presidentes — excluindo o mandato tampão do Coronel Nunes — foram acusados de alguma irregularidade (Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del acabaram banidos do futebol pela Fifa).

Como havia escrito aqui neste espaço, na semana passada, agora é o momento para dar espaço aos ídolos e verdadeiros porta-bandeiras do nosso futebol mundo a fora. Além deles, há inúmeros profissionais capacitados, tanto na área técnica como administrativa, que podem contribuir com este futuro projeto, alguns até formados em cursos ministrados pela própria CBF.

Há necessidade que os gestores que irão conduzir a Liga apresentem uma ficha limpa perante ao futebol e demonstrem as suas contas. A integridade destas pessoas é que irá passar credibilidade aos torcedores. Também é preciso analisar todo o processo de integração entre as quatro divisões do Campeonato Brasileiro para que o precipício financeiro e técnico entre os clubes brasileiros não aumente ainda mais.

Esta movimentação dos clubes já despertou a fúria das federações estaduais, que temem perder a sua soberania perante aos times. Estas entidades reagiram e exigiram do presidente interino da CBF, Coronel Antônio Nunes, uma posição firme sobre o assunto. Pelo estatuto da confederação, no Artigo 12, ela detém a exclusividade na organização de competições nacionais (dirigir, organizar e ordenar, no território brasileiro, todos os assuntos e questões relacionados com o futebol, de forma independente, prevenindo quaisquer ingerências políticas ou de terceiros).

Rodolfo Landim e Guilherme Bellintani, presidentes de Flamengo e Bahia, falam sobre criação da Liga de clubes - Igor Siqueira/UOL Esporte - Igor Siqueira/UOL Esporte
Rodolfo Landim e Guilherme Bellintani, presidentes de Flamengo e Bahia, falam sobre criação da Liga de clubes
Imagem: Igor Siqueira/UOL Esporte

Mas não cabe a CBF aceitar ou não a Liga, além de ouvir as lamúrias das federações estaduais. Os futuros destes clubes cabem a eles. Esta iniciativa pode até ajudar a CBF, tirar toda a responsabilidade dos seus ombros, pois ela não consegue ter um olhar amplo sobre tudo e todos.

O mais importante nisto tudo é que haja sinergia entre clubes e CBF. Quando disputei a Bundesliga — uma das Ligas mais lucrativas do mundo —- pelo Borussia Dortmund, não via diferenças. Tudo é muito bem organizado e com responsabilidades bem divididas. Não há quebra de braço entre a Liga e a Federação Alemã de Futebol (DFB). Não pode haver rixas entre os lados, pois quem sairá perdendo será a seleção brasileira.

Porém, existe a necessidade de diálogo para evitar situações como estamos vivendo neste momento, com a Copa América em andamento na nossa casa sem que o Brasileirão fosse paralisado. Tem que ser automático: quando a seleção for jogar, interrompam as Séries A e B do Nacional para que nenhum clube, emissora de TV ou patrocinador seja prejudicado.

Estou ansioso para ver quais serão os próximos passos nesta nova Liga. Espero que os esforços sejam destinados ao resultado global, e não o individual.

*Com colaboração de Augusto Zaupa