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Seu voto não tem preço, e sim muito valor

Urna eletrônica que será utilizada nas eleições municipais neste fim de semana - Antonio Augusto/Ascom/TSE
Urna eletrônica que será utilizada nas eleições municipais neste fim de semana Imagem: Antonio Augusto/Ascom/TSE

12/11/2020 04h00

No próximo domingo (15), iremos às urnas para escolhermos prefeitos e vereadores nas eleições municipais. Este é o nosso momento de poder para mudarmos o cenário político do Brasil. Porém, ainda há muitos eleitores pessimistas que afirmam não acreditam ser possível escolher o destino da nossa nação por meio do voto porque consideram que a corrupção está impregnada na política nacional.

Costumo dizer que votar é semelhante a cobrar um pênalti em uma partida decisiva. O erro custa caro. A nossa próxima chance será só daqui a quatro anos. Não é à toa que o batedor de penalidades de um clube costuma estudar, treinar e analisar bem antes daquele momento decisivo. Para o voto, deveria valer o mesmo.

Diante deste cenário, é fundamental que o voto seja consciente, pois esse é um fator preponderante para alcançarmos o resultado satisfatório que almejamos nesta eleição. É de suma importância que o eleitor procure se informar a respeito das ideias do partido político ao qual o candidato está filiado e estar atento à atuação de cada pretendente ao cargo.

Claro que durante este processo de campanha sempre tem alguém para tentar comprar votos ou oferecer alguma vantagem em troca de apoio. Vou revelar uma coisa: já me ofereceram galeto pelo meu voto e eu aceitei.

Aceitei porque tinha fome. Então, eu te digo: se alguém te oferecer comida em troca do teu voto, aceita. Vai lá e come. Acaba com a dor da fome que não deixa nem pensar. Depois? Depois tu já sabes em quem não votar. Isso mesmo, em quem não votar. O teu voto vale muito mais do que um prato de comida. Teu voto vale a escolha de quem está pronto para trabalhar todos os dias para tu teres comida no prato todos os dias, e não apenas naquele momento de interesse alheio.

Eu vou escolher quem não compra voto, quem não some depois da eleição. Se antes eu tinha fome de arroz e feijão, agora eu tenho fome de justiça e honestidade.

Não é fácil declinar destas ofertas quando se tem necessidade. No passado, presenciei a minha mãe e a minha irmã mais velha chegarem em casa carregando algo que haviam ganho de um candidato. Por isso, até hoje eu digo: não te preocupa com isso, o teu voto é secreto. Tu não tens a obrigação de votar nele.

Na adolescência, eu fiz campanha. Caminhei de lá para cá vestindo camiseta, carregando bandeira e entregando panfletos. Era uma época de alegria para quem passava necessidade, pois torcíamos e esperávamos ansiosamente para a Kombi chegar no fim do dia para distribuir o sanduíche e o suco. Era o nosso momento de saciar a fome. Cheguei a fazer essa correia com mais de um candidato para levar também comida para casa. E até hoje não me arrependo.

Faria tudo de novo, porque encheu bem a minha barriga. Mas hoje, com a consciência social e política que tenho, com certeza não teria votado naquele candidato, como não votei porque não tinha idade para isto.

Mas esta prática também é comum no outro lado do balcão. Conversando com um amigo, ex-jogador que irá disputar a um cargo de vereador em Porto Alegre, ele me chamou atenção a um fato: o que ele iria dar em troca de um voto?

Ele me revelou que ao chegar numa comunidade para debater sobre as necessidades da população, como transporte, escolas, saneamento básico... o pessoal local já estava ciente das carências e para alguns o que importava eram os favores pessoais, ou seja, aquele determinado cidadão abandonou completamente a visão global da sua comunidade. Essa corrupção de compra de votos não vem mais apenas de cima para baixo. Isso já está nas entranhas da sociedade.

Não é fácil dizer à comunidade para não aceitar uma cesta básica num momento de perrengue, ainda mais num momento de crise como este que estamos passando devido à pandemia, com tantos desempregados e necessitados. Mas na hora de votar, é preciso ter um discernimento para entender as tuas necessidades como um todo, e não apenas naquele momento de fome.

Resistência à vida pública

Por eu estar ligado a várias ações sociais — mas sempre de forma privada, usando o meu próprio dinheiro ou verba de empresários e companhias parceiras que querem apoiar estas ações —, sempre me viram ligado à possibilidade de um dia me candidatar a um cargo público. Mas sou avesso a essa possibilidade.

90% das pessoas que não me conhecem pensam que o meu projeto do ônibus Fome de Aprender, que entrega cerca de 300 refeições ao dia para moradores de rua, tem como objetivo um cargo público. Obviamente, isso não ocorre apenas comigo. É uma das trocas que as pessoas mais fazem este link: se alguém está dando comida, é porque busca por votos.

Mas este não é o objetivo nem das pessoas que trabalham comigo nestas ações sociais. O Sandro Leote, meu amigo de infância e que é o meu braço direito para cuidar destes projetos, já foi sondado algumas vezes por partidos para se candidatar a algum cargo. Deixo claro que, se ele aceitar, a nossa parceria será automaticamente desfeita.

É de extrema importância que o aspirante ao cargo público esteja pronto para exercer esta função. Por isso, me alarma a grande quantidade de candidatos para as 36 vagas em disputa para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, pois são mais de 830 requerentes — pouquíssimos conhecem bem a cidade e sabem como pensar e agir pela sociedade.

Sem esquecer que cada um destes vereadores terá em média sete pessoas que irão integram o seu gabinete, ou seja, são 252 profissionais bancados pelo dinheiro público, verba arrecadada pelos impostos que pagamos. Nós que ficamos com a conta desta máquina pública repleta de cargos comissionados. E olha, nem sabemos quem são essas pessoas que estarão nos bastidores, porque a embalagem da apresentação da campanha é o candidato que aparece nos panfletos.

Por estas e outras, nunca pretendi me envolver na política porque não acredito como anda a engrenagem deste sistema. Cheguei até a ser vítima de fake news, quando em março aprendi na pele o que significava isso. Após ser convidado pelo ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, para debater sobre futebol e ações sociais, tive um encontro, que não estava na agenda oficial, com o presidente Jair Bolsonaro. Cheguei a ser convidado para ser secretário nacional do Futebol. Fiquei feliz por ter sido procurado devido a minha história, mas declinei apenas porque não tenho interesse de ingressar na política.

Não acho justo falar o que penso sobre partidos ou políticos porque posso influenciar e guiar alguém pelo que eu disser. Como também acho prejudicial a divulgação de pesquisas com intenção de votos na mídia porque influenciam os eleitores indecisos. O ser humano é condicionado a buscar o lado vencedor, ou seja, estes levantamentos sugestionam na tomada de decisões em momentos como este.

Agora, temos que focar na grande final deste domingo. Tu já treinaste o pênalti decisivo e estudou as possibilidades?

*Com colaboração de Augusto Zaupa