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Doc mostra ascensão e queda de Boris Becker sem poupar o ídolo

Poster do documentário "O Mundo x Boris Becker" - Divulgação / Apple TV+
Poster do documentário "O Mundo x Boris Becker" Imagem: Divulgação / Apple TV+

Colunista do UOL

04/04/2023 04h00

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O cenário recente do streaming deu vida a uma quantidade exagerada de supostos documentários que se parecem mais peças de propaganda do que filmes baseados em fatos. Relatos contados quase sempre em primeira pessoa, em tom exageradamente dramático, e sem contraponto, mas fontes de dinheiro fácil para celebridades - inclusive esportivas - com certo nível de fama.

"O Mundo x Boris Becker" ("Boom! Boom! The World vs. Boris Becker" no título original), que vai ao ar a partir desta sexta-feira, na Apple TV+, passa longe disso. Trata-se de um documentário old school, digamos. Mostra o bom e o ruim; a ascensão, a queda e a condenação à prisão de Boris Becker. Sem vitimismo exagerado, com contrapontos e até questionamentos sobre a veracidade de um par de declarações do antigo fenômeno do tênis.

O filme, dirigido por Alex Gibney e produzido por John Battsek - ambos vencedores de Oscars - é um intrigante relato da vida, não só da carreira de Becker, e tem como ponto de partida duas entrevistas com o ex-tenista. Uma em 2019, quando Boris começou a ter problemas com a lei, e outra em 2022, dois dias antes de ele ser condenado.

Além das duas conversas acima, o doc contém muitas entrevistas antigas de Becker e depoimentos atuais de gente como Novak Djokovic, John McEnroe, Bjorn Borg, Stefan Edberg, Nick Bollettieri e a ex-esposa Barbara Becker. No meio disso tudo, uma trilha sonora de valor, ainda que um tanto inconsistente, indo de Ennio Morricone (Il Mercenario) a John Lee Hooker (Boom Boom) e encerrando com Warren Zevon (Lawyers, Guns and Money).

O doc é dividido em duas partes. A primeira, chamada "Triunfo", aborda sobretudo a ascensão do alemão nas quadras, mas sem deixar de citar seus problemas de motivação, estresse e até com uso indevido de um remédio para dormir. É uma metade que prepara o terreno para mostrar como o passado assombra o presente de Boris.

A segunda metade, "Desastre", traz a derrota para Michael Stich na final de Wimbledon, o início do relacionamento com Barbara, a rivalidade com Agassi e a reta final da carreira. Em seguida, vêm a filha fora do casamento, o divórcio e o segundo casamento. Daí em diante, o doc salta para o período em que Becker foi técnico de Djokovic com incrível sucesso.

Os problemas financeiros são mencionados aqui e ali, mas só ganham o foco do documentário na última meia hora, que é quando Becker deixa todo vitimismo de lado. "Eu me culpo", diz após explicar que muitos atletas não ajustam seu estilo de vida quando param de competir. Ele dá sua versão do que aconteceu, mas o filme também traz um depoimento da promotoria. A sequência relata as dívidas, os empréstimos e até a história do cargo diplomático e do passaporte falso da República Centro-Africana antes de chegar à sentença.

No geral, é um documentário mais do que recomendável, com todos os elementos de uma boa peça do gênero. Depoimentos antigos e atuais, relatos confirmados e questionados, e mais de uma versão de vários eventos citados no filme. Vale para quem quer apenas saber mais sobre a carreira de Boris Becker, mas é indicado sobretudo para entender a história de um campeão que perdeu o rumo de suas finanças e pagou a conta com sua liberdade.

Coisas que eu acho que acho:

- Minha frase preferida vem logo no começo, quando Becker lembra que seu filho mais velho, pouco antes da condenação, perguntou o que o pai tinha aprendido com todo o imbróglio. Boris respondeu: "Filho, cuide de sua própria merda."

- Para quem não lembra ou não sabe: em abril de 2022, Becker foi condenado no Reino Unido a dois anos e meio de prisão por não declarar em seu processo de falência, bens e empréstimos feitos. Ele foi solto em 15 de dezembro do ano passado e imediatamente deportado para a Alemanha. Pelas leis locais, Becker só pode voltar à Grã-Bretanha em 2024. Ele comentou o Australian Open para o Eurosport (baseado na Alemanha), mas não retomará em 2023 a função de comentarista da BBC para Wimbledon.

- Reforço: "O Mundo x Boris Becker" passa longe de ser uma peça publicitária como alguns filmes caça-níqueis que foram lançados como documentários nos últimos anos (alguns, inclusive, sobre tenistas). Gostem ou não, é inegável que ele segue um modelo sóbrio e com contrapontos, ainda que a maioria dos depoimentos seja dada pelo próprio Becker.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: Boom Boom, de John Lee Hooker, brilhantemente escolhida pelo doc para ilustrar o momento em que Becker levanta o troféu de Wimbledon pela primeira vez na carreira.

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