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Olhar Olímpico

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Danielzinho vence e faz índice olímpico na primeria maratona da vida

Daniel Nascimento - Divulgação
Daniel Nascimento Imagem: Divulgação

23/05/2021 13h37

Daniel Nascimento, 22 anos, fez história no atletismo hoje (23). Em sua estreia em maratonas, na Maratona do Bicentenário do Peru, sem adversários do mesmo nível em Lima, o garoto não apenas venceu como fez o índice olímpico para estar nos Jogos de Tóquio, completando em 2h09min04s. Agora ele é o dono do melhor resultado entre todos os maratonistas brasileiros em atividade, o sexto do ranking naciona em todos os tempos.

Não só isso. É a melhor estreia de um atleta sul-americano em maratonas, melhorando o que Ronaldo da Costa fez em sua primeira prova, em Berlim, em 1997 — também na capital alemã, que tem a prova mais rápida do mundo, Ronaldinho bateria o recorde mundial no ano seguinte. É também o melhor resultado feito na América do Sul por um corredor do continente.

No Brasil, especificamente, esse é a primeira vez que um maratonista do país corre abaixo de 2h10min em oito anos. No século inteiro, também só Marilson, cinco vezes, correu mais rápido que Daniel fez hoje. Na última década, só Marilson, em Londres.

A questão da idade também impressiona. O usual é os atletas primeiro consolidarem uma carreira nas provas de fundo do atletismo de pista para só depois dos 26, 27 anos, estrearem na maratona. Em 2019, por exemplo, só um não-africano de menos de 25 anos correu a distância em uma marca melhor do que Daniel fez hoje aos 22.

Some-se a isso o fato de Daniel ter corrido sozinho praticamente a prova toda. Bons resultados costumam sair quando há um pelotão puxando o grupo, pelo incentivo de correr ao lado de um adversário, e pela troca de posições que reduz o cansaço à medida que protege os corredores, de forma alternada, do vento na cara. Além disso, Daniel não contou com um "coelho" marcando o ritmo. O segundo colocado chegou quase cinco minutos depois.

Danielzinho, como é conhecido, era a grande promessa das provas de meio-fundo brasileiras em 2017, quando bateu o recorde sul-americano sub-20 dos 10.000m, treinado na época por Ricardo D'Angelo. Depois disso, porém, ele desapareceu do esporte e das redes sociais.

Reapareceu no final de 2019, correndo pela ABDA, de Bauru (SP), um clube voltado aos esportes aquáticos e treinado por Neto Gonçalves, com quem já estava treinando desde maio daquele ano. Em dezembro, surpreendeu ao ser o melhor brasileiro na São Silvestre. Poucas semanas depois, em fevereiro, venceu a meia-maratona de São Paulo.

Mas aí veio a pandemia e as competições foram suspensas. Apostando no potencial do garoto, a ABDA e duas empresas — Blu Logístics e Indel Bauru — pagaram para que ele fizesse um camping de treinamento no Quênia, à parte da programação da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e o Comitê Olímpico do Brasil (COB).

O investimento deu resultado. Ele correu a maratona abaixo da marca mínima necessária, 2h11min30s, apesar de não ter conseguido se inscrever em uma prova forte, uma vez que quase todas foram canceladas. Sobrou só Lima, hoje, no penúltimo domingo antes do fim do período de qualificação.

Além dele, o Brasil também tem Paulo Roberto de Paula e Daniel Chaves qualificados para a maratona em Tóquio. Os critérios de classificação para a Olimpíada apontam que só há 80 credenciais para a prova e, havendo mais com índice, como há, o ranking será usado. A CBAt, porém, tem a informação que todos os atletas com índice estarão em Tóquio.