Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Primeiro dia da Copa feminina dá uma ideia do ódio dirigido às mulheres

A Cazé TV, que está transmitindo para o Brasil todos os jogos da Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, teve que desativar seus comentários durante a exibição da partida inaugural do torneio por causa da quantidade de ódio que estava sendo direcionado às mulheres.

Era de se imaginar que um jogo transmitido antes do nascer do Sol não fosse engajar tanta raiva, mas parece que muita gente acordou cedo para mandar mulher ir lavar louça, e esses eram os comentários mais brandos já que outros poderiam ser considerados caso de polícia.

A cultura heterossexual masculina não gosta de mulher. Essa verdade precisa ser estampada em letras garrafais por aí.

Claro que há homens que conseguiram se desvencilhar desse ensinamento.

Todas nós conhecemos muitos deles. O que estou dizendo é que a heterossexualidade normativa e hegemônica masculina detesta mulheres.

Essa heterossexualidade à qual me refiro gosta de homens.

Ela quer ver jogo de homem, quer jogar com homem, quer falar com homem, quer ir ao bar com homem, quer opinar para homens, quer a opinião de homens, quer ler homens, quer ser lida por homens, escutada por homens, vista e reconhecida por homens.

Essa heterossexualidade normativa e hegemônica admira e quer a admiração de homens.

Das mulheres, as pessoas que se encaixam nessa heterossexualidade querem sexo, silêncio, casa arrumada e comida na mesa.

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Não por acaso, essa masculinidade engajou tão fortemente com os valores Bolsonaristas e está disposta a acordar antes do Sol nascer para xingar muito nas redes sociais.

Por outro lado, é impossível deixar de notar que a partida de estreia da seleção australiana foi realizada num estádio com 80 mil pessoas presentes.

É impossível deixar de notar os altos índices de audiência registrados nas transmissões das partidas. O número elevado de programas de TV falando da Copa. A expectativa da Fifa para que haja dois bilhões de pessoas assistindo ao torneio por um monitor. A chegada em massa de patrocinadores. A premiação elevada e comparável à do masculino.

O que indica que a misoginia sentida na abertura da Copa é uma reação histérica daqueles que já não sabem mais seu lugar no mundo.

Um mundo em que mulheres opinam, reagem, lutam, jogam e, mais complicado ainda para eles, gozam.

Seria o caso de sentirmos pena dessas pessoas perdidas.

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Zumbis emocionais que vagam por aí à procura de uma sociedade que, como eles, já putrefou.

A Copa do Mundo de 2023 é um divisor de águas que mostrará ao mundo o tamanho do ódio dirigido a tudo o que é feminino, mas também, por outro lado, colocará em contexto as conquistas e o volume de amor envolvido nelas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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