Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Sem querer, jogador revela misoginia escancarada dentro da CBF

Yan Couto disse a Yara Fantoni, do UOL, que a CBF recomendou que ele tirasse a cor rosa do cabelo porque era coisa de vacilão. Ele não concordou com a crítica, mas acatou.

Vamos analisar o caso de forma bem didática, como me pedem para fazer os que não curtem feministas raivosas porque acreditam que mesmo dentro dessa sociedade que nos mata, abusa, estupra e assedia em doses diárias nós devemos ser meigas e doces.

O que querem dizer com rosa ser coisa de vacilão? Que a cor é coisa de gente fraca? Que pertence às fraquejadas? Que é menor? Que é coisa de mulher?

E por que ser coisa de mulher é ruim?

Vamos ao B-A-Bá da misoginia. Primeiro, a definição: misoginia é qualquer atitude que coloque tudo o que é da ordem do feminino como menor, diminuto, menos importante, inferior, ridículo, debochável.

Por que exatamente um cabelo cor de rosa seria coisa de vacilão? Por que ser mulher é menor do que ser homem?

É a única explicação, não é mesmo?

Bem, temos aí a definição de misoginia seguida da prática da mesma. Vinda do interior da CBF.

Símbolos importam e a CBF acaba de dizer o que pensa sobre mulheres. Se você acha que a cor rosa, diretamente associada às mulheres, é coisa de vacilão o recado é: o que é da ordem do feminino é inferior e não devemos nos conectar a isso. Se é inferior então pode ser silenciado, abusado, assediado, dilacerado, executado. É isso. O entendimento é bastante simples, na verdade.

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E sempre bom lembrar que a misoginia é a ação em si e não se define pelo objeto. Portanto, dizer que cabelo cor de rosa é coisa de homem vacilão é misoginia sim senhor.

Se a CBF não compactua com esse pedido feito por alguém em seu nome a Yan Couto, ela pode tomar algumas medidas. A primeira: dizer formal e publicamente que esse pedido é um absurdo. A segunda: dizer que vai tomar providências. A terceira: revelar o nome de quem o cometeu essa desfaçatez contra Yan Couto e então providenciar uma aulinha a respeito da violência que a misoginia carrega.

Investir no futebol feminino é, com todo o respeito, obrigação ética e moral. O investimento inédito não basta para que a CBF se considere antimachista. Ela não é, como ficou claro com os episódios de Robinho e Daniel Alves. Foi preciso que Leila Pereira colocasse as coisas em perspectiva para que o presidente da Confederação então se manifestasse, e mesmo assim de forma protocolar.

O episódio do cabelo cor de rosa de Yan Couto entra para a lista das coisas perversas que o futebol faz com as mulheres.

A CBF, até agora, não se manifestou, o que revela, de forma triste, que ela não se importa ou até concorda com o pedido. Se a CBF resolver falar eu incluirei aqui.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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