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Eliana Alves Cruz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Menos de 100 dias para os Jogos Olímpicos: Lições da Água

Odaiba Marine Park, local de competição da maratona aquática e do triatlo - Issei Kato/Reuters
Odaiba Marine Park, local de competição da maratona aquática e do triatlo Imagem: Issei Kato/Reuters

14/04/2021 19h02

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"Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um profundo grotão (...)"
Planeta Água - Guilherme Arantes

Ontem (14), faltavam 100 dias para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Quando este texto for publicado faltarão 99. O tempo escorre feito rio ligeiro e ela, a água, tem lições a nos ensinar. Represadas em piscinas, domadas em raias de remo, vela ou maratonas aquáticas, o meio líquido oferece desafios aos atletas e à humanidade desde sempre. O primeiro deles: respeitá-lo.

Despoluir tem sido a tarefa a ser enfrentada por todas as cidades que se candidatam a sediar disputas em que o corpo está totalmente vulnerável, à mercê da natureza e seus caprichos. Despoluir tem sido a tarefa enfrentada por todos no ocidente, no oriente, acima e abaixo da linha do Equador.

O planeta convulsiona em agonia por nossa ação predatória e os Jogos Olímpicos, o maior de todos os eventos, acendem holofotes para as condições ambientais. Pequim, Londres, Rio de Janeiro, Tóquio... grandes cidades turísticas, cenários deslumbrantes e, em muitos aspectos, insalubres. Não adianta dinheiro sem consciência coletiva e ecológica.

Há cinco anos, os japoneses começaram a encarar o trabalho de despoluir as águas do Odaiba Marine Park, banhado pela Baía de Tokyo. Na época, Toshiro Muto, diretor-geral do comitê, falou sobre o assunto depois de uma reunião do órgão, no qual foi firmado o compromisso para a utilização de "telas subaquáticas filtrantes especiais" para ajudar no processo que visava despoluir o máximo possível as águas da baía da capital japonesa.

Em 2020, ano em que os Jogos oficialmente aconteceriam, as condições do local ainda preocupavam pelos níveis instáveis de coliformes fecais. Repito: Coliformes fecais, bactéria Escherichia Coli...em 2020. O fato é que as competições de águas abertas e triatlo vão acontecer e, esperamos, o problema estará ao menos temporariamente controlado.

A questão é: Se a tecnologia permitiu tantos avanços, por que ainda sujamos tanto? Por que não respeitamos o meio líquido tão essencial para nossas próprias vidas? Por que é preciso um evento de magnitude planetária para que se olhe para as condições climáticas e das águas?

A pandemia do século 21, tragédia que enlutou os corações em todo o globo, mostrou como a natureza pode ser muito mais poderosa que qualquer um de nós. Ela foi um alívio para o meio ambiente. Diversas espécies se sentiram à vontade para finalmente voltar a transitar em seus habitats. Aves e peixes desaparecidos foram vistos. A Terra e a água nos dando mais uma lição: Ela não precisa de nós para nada, pois se recupera. Nós é que precisamos dela.

Daqui a pouco tempo acompanharemos, afinal, o que nossos atletas conseguiram fazer com o ano mais louco da história recente da humanidade. Uma superação dentro de outra tarefa de superar por excelência, que é o treinamento de alto de rendimento. Por enquanto, vamos nos espantando com feitos como o da holandesa Sharon van Rouwendaal, campeã olímpica dos 10 km nos Jogos do Rio de Janeiro 2016 nadando em Copacabana. Sharon não apenas estará outra vez na disputa da prova que lhe deu o ouro cinco anos antes, como conseguiu o índice para nadar em piscina nas difíceis provas de 200 m costas e 400 m livre. Talentosa demais como também é a nossa campeã Ana Marcela Cunha. Estas preciosidades merecem água pura...pura água.

A terceira lição da água é que ela é nossa primeira casa e também primeiro campo para vencer etapas, pois o útero não deixa de ser uma linda piscina.