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Zaidan: Retomada da Champions tem Neymar, Mourinho e Klopp na 1ª semana

Alisson abraça a taça da Liga dos Campeões após o título do Liverpool - Harold Cunningham - UEFA/UEFA via Getty Images
Alisson abraça a taça da Liga dos Campeões após o título do Liverpool Imagem: Harold Cunningham - UEFA/UEFA via Getty Images

16/02/2020 15h00

Duas partidas, nesta terça (18), abrirão as oitavas da Liga dos Campeões da Europa: o Liverpool, atual campeão, joga, na Espanha, contra o Atlético de Madri, e o Borussia Dortmund, na Alemanha, enfrenta o Paris Saint-Germain.

No início desta temporada, o Liverpool estava jogando menos do que pode. Parecia haver um esmorecimento, coisa natural na volta das férias posteriores ao título continental e com o desgaste acumulado de ir a duas finais seguidas na liga europeia — o que significa, é claro, lidas mais longas, esticadas ao limite. Mais: entre uma final e outra, além de enfrentar o excessivo número de jogos imposto aos clubes ingleses, grande parte do elenco disputou a Copa do Mundo na Rússia. Assim, no início do segundo semestre de 2019, o time estava longe de provocar empolgação.

Mas o técnico Jürgen Klopp compreendeu o que se passava, notou que seus principais jogadores estavam embrulhados na mistura de cansaço com sentimento de terem cumprido seus deveres. O alemão agiu com presteza e discursou as palavras certas. Os resultados vieram rapidamente: a equipe embalou, disparou no campeonato inglês, fez o suficiente em seu grupo na Liga dos Campeões e ainda faturou o Mundial. Klopp e seu elenco nunca admitiram publicamente que, excepcionalmente nesta temporada, a prioridade é o título nacional; afinal, eles já ganharam a Europa e sabem que seus torcedores anelam fervorosamente a conquista local, comemorada pela última vez em Anfield no distante 1990, portanto antes de os clubes fundarem a Premier League.

O que Klopp certamente não sabia é que o Liverpool, ao chegar às oitavas da Liga dos Campeões, estaria folgado na liderança do campeonato inglês. A situação é de tal maneira sossegada na competição nacional que, para não ser campeão, o time terá de sofrer um colapso técnico. Embora possível, é improvável que o Liverpool deixe escapar a oportunidade.

A tranquilidade no caminho para a conquista da liga inglesa, tornada prioritária nesta temporada, permite atenção total e confiança redobrada na defesa do título continental. O Atlético de Madri não tem jogado grande coisa. No campeonato espanhol, está dez pontos atrás do Barcelona, treze do Real Madrid, e ainda tem o Getafe à sua frente. A saída de Griezmann enfraqueceu o ataque, o meio-campo anda embrulhado em excessiva lentidão, Lemar não está em boa fase, João Félix tem oscilações típicas da pouca idade e ainda não realizou no Atlético o que mostrou no Benfica. Mas Simeone, que já arrancou seu time de situações piores, sabe trabalhar, tem apreço especial por disputas em dois jogos e pode, é claro, engendrar encrencas para o Liverpool.

Mas surpreender Klopp, treinador extraordinário, é tarefa difícil. O time inglês é melhor, assim como o Paris Saint-Germain, neste momento, tem mais qualidade, mais talentos, que o Borussia Dortmund. Ganhar a Liga dos Campeões é a meta primordial dos donos do Paris, é o que move os investimentos cada vez maiores do Catar no clube francês. Neymar e Mbappé foram contratados para a conquista da Europa; não seriam necessários na disputa pelo título nacional ou pelo troféu da Copa da França. Nas competições caseiras, o time já era suficientemente forte para garantir sua hegemonia.

O Dortmund, com as mudanças no regulamento, pode contar com Haaland na Liga Europeia desta temporada, mesmo com ele tendo participado do certame com a camisa do Salzburg, pelo qual fez oito gols na fase de grupos. Aliás, com a chegada de Haaland e de Emre Can, o Dortmund deve pelo menos terminar o campeonato alemão em posição que lhe garanta classificação para a Liga dos Campeões da próxima temporada — o mínimo que se espera de um elenco que tem Sancho, Reus e Hummels — e continuar para valer na disputa com Bayern e Leipzig pelo título nacional deste ano (O Moenchengladbach também não está descartado dessa corrida).

O Leipzig, além de manter-se firme na empreitada doméstica, almeja campanha histórica no continente. O crescimento do clube e a ideia de consolidar-se entre os grandes da Alemanha se fundamentam, claro, no orçamento generoso, mas o principal responsável pelo que o time tem feito nesta temporada é Julian Nagelsmann, técnico do Leipzig desde junho do ano passado, perto de um mês antes de ele completar 32 anos. Nagelsmann já havia feito trabalho brilhante no Hoffenheim, onde o Tim Wiese lhe apelidou de "pequeno Mourinho". Eis que, nesta quarta-feira, em Londres, Nagelsmann terá de lidar com o Mourinho genuíno, na partida contra o Tottenham.

O futebol tem suas estranhezas. Sob comando do Pochettino, o time londrino foi à final da edição passada da Liga dos Campeões; perdeu para o Liverpool, que contou com grandes defesas feitas por Alisson. Pochettino, antes da decisão, disse que, sem melhores investimentos na formação do elenco, campanhas como aquela não se repetiram facilmente. Para sua demissão, bastou um período de resultados ruins no campeonato inglês. O Tottenham buscou Mourinho, e sua história, e sua fama. O começo foi bom, mas os problemas do time, principalmente na defesa, reapareceram; o ataque, porém, com Son e Harry Kane, é ótimo.

Também na quarta, na Itália, Atalanta enfrentará o Valencia. É a primeira vez que o clube de Bergamo disputa a principal competição europeia. Conseguiu a vaga pelo terceiro lugar no Italiano da temporada passada, resultado do brilhante trabalho do técnico Gasperini, que lá está desde junho de 2016. Chegar às oitavas logo na estreia já é grande conquista, mas o sorteio feito pela Uefa não foi desfavorável para a Atalanta, ou seja, a classificação para as quartas de final é realizável. Muito mais longa é a história do Valencia na liga continental, o que inclui duas finais seguidas: na decisão de 1999- 2000, perdeu para o Real Madrid; em 2000-01, para o Bayern.

Desta vez, não há sinais de que o Valencia repetirá o feito; estar nas oitavas já foi, de fato, surpreendente. Quando o dono do clube se desentendeu com o treinador Marcelino Garcia Toral e o demitiu, parecia inevitável o retrocesso técnico. A missão de evitar uma derrocada foi entregue a Albert Celades, assistente de Lopetegui na seleção espanhola e no Real Madrid. Como jogador do Real, aliás, Celades foi campeão europeu em 2001-02.

A segunda rodada destes quatro confrontos será na segunda semana de março. Daqui a alguns dias, trataremos, aqui, das pelejas marcadas para a semana que vem: Napoli e Barcelona, Chelsea e Bayern, Lyon e Juventus, Real Madrid e Manchester City (com o clube inglês embrulhado: vencer na Corte Arbitral ou passar duas temporadas confinado aos certames caseiros).

Hora de oitavas da Liga dos Campeões: o certo é que serão jogos bons, embates difíceis, históricos.

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