Topo

Após enchentes, catadores correm risco de ficar sem salário. Ajude!

A Cooperativa Maranata, em Caraguatatuba, perdeu tudo com a chuva e teve R$ 20 mil de prejuízo - Jamilly Manso
A Cooperativa Maranata, em Caraguatatuba, perdeu tudo com a chuva e teve R$ 20 mil de prejuízo Imagem: Jamilly Manso

Rebeca Freitas

Colaboração para Ecoa, em Bertioga (SP)

28/02/2023 06h00

A Cooperativa Maranata, em Caraguatatuba, teve três toneladas de materiais recicláveis perdidos em razão das chuvas torrenciais que atingiram o litoral norte do estado de São Paulo no último sábado (18). Doze pais e mães que tiram o sustento de suas famílias do trabalho com resíduos sentiram o risco de ficar sem salário no próximo mês.

A iniciativa de uma cooperativa vizinha, no entanto, fez toda a diferença para trazer esperança a esse cenário de dor. Os colaboradores da Cooperativa Coco e Cia, localizada na cidade vizinha de Ubatuba (SP), organizaram uma vaquinha online e criaram uma rede social para a Maranata. O intuito das arrecadações é conseguir pagar o salário dos funcionários no mês de março.

A cooperativa Maranata existe desde 2015 em Caraguatatuba. Seus trabalhadores contribuem com a extensão da vida útil de embalagens e outros resíduos por meio da separação e fornecimento de matéria-prima secundária para a indústria. Ela fica em um espaço cedido pela prefeitura da cidade, a apenas 10 metros do Rio Santo Antônio, no bairro da Ponte Seca, um dos mais atingidos pelas chuvas em Caraguatatuba.

A diretora financeira da instituição, Jamilly Manso, relata que com o temporal, o rio vizinho à cooperativa transbordou e inundou o espaço.

A água chegou a subir 2,40 metros, atingindo nossos dois pavimentos. A parte do escritório terá que ser demolida e reconstruída, pois metade já foi derrubada pela água. Perdemos computador, telefone e uma das nossas três prensas vai precisar de reparos, pois não está mais funcionando.

Jamilly Manso, cooperada da Maranata

As três toneladas de materiais perdidos representam 90% do que havia sido coletado no mês. A cooperativa estima um prejuízo de, no mínimo, R$ 20 mil. "Fiquei apreensiva, pois estamos a duas semanas do quinto dia útil. A cooperativa é de onde tiramos nosso sustento e vários cooperados pagam aluguel", diz Jamilly. Ela conta que já enfrentaram inundações na cooperativa, mas nunca nesta proporção.

Recuperação

Cooperativa - Jamilly Manso - Jamilly Manso
As três toneladas de material perdido representam 90% do que havia sido coletado no mês
Imagem: Jamilly Manso

Todos os colaboradores da Maranata se mobilizaram para fazer a limpeza do local na última sexta-feira (24), junto com uma equipe enviada pela prefeitura. A previsão é de que eles retornem ao trabalho em duas semanas. Enquanto não podem retomar as atividades, colegas da cidade vizinha, Ubatuba, ajudaram na captação de recursos, para que ninguém da Maranata fique prejudicado.

A socióloga e cientista política Flávia Rossi presta consultoria para cooperativas por meio do Sebrae e foi responsável por criar a vaquinha online. A meta inicial de arrecadação era de R$ 20 mil e até o fechamento desta reportagem a arrecadação tinha atingido R$ 18 mil, somando o que chegou pela vaquinha e o que foi doado diretamente via PIX da cooperativa.

Flávia contou a Ecoa que grande parte dos recursos foram doados por políticos e empresários da região diretamente para a cooperativa. "Não esperava que fosse ter uma adesão tão grande com essa rapidez. Estamos perto de bater a meta inicial com apenas cinco dias de criação."

Invisibilidade da classe

Além do trabalho com reciclagem, a cooperativa Maranata participa de eventos especiais em Caraguatatuba, como a Semana do Meio Ambiente, na qual colabora com a limpeza da praia. Apesar de toda a sua importância, a classe de cooperados ainda enfrenta invisibilidade.

Cooperativa - Jamilly Manso - Jamilly Manso
Com as perdas, ao menos 12 famílias correm o risco de ficarem sem salário no mês de março
Imagem: Jamilly Manso

Para Simone Godoy, diretora operacional da Coco e Cia, de Ubatuba, as cooperativas exercem um papel de relevância na sociedade civil e no meio ambiente. "O catador não é um ninguém, ele tem um papel extremamente importante no espaço em que vive. Através dele, o resíduo que iria para um transbordo acaba indo para uma cooperativa e isso poupa recursos naturais. As pessoas que trabalham nas cooperativas movimentam a economia da cidade, pois o que elas ganham com a venda do resíduo acaba voltando para o município", diz.

O administrador Cláudio Mano, também da cooperativa Coco e Cia, atuou na criação de um perfil nas redes sociais para a Maranata, a fim de gerar mais alcance para a campanha de arrecadação de fundos. "A gente sabe da injustiça que esse pessoal sofre. Dói muito, são nossos irmãos. A iniciativa de ajudar veio justamente do sentimento de coletividade, pois entre as cooperativas não tem ninguém que se destaca, é um coletivo", ressalta o voluntário.

Para ajudar a Cooperativa Maranata, é possível doar recursos por meio do link da vaquinha. Ou ainda contribuindo diretamente no pix: 20.780.799/0001-93. Para mais informações sobre a cooperativa, acesse o perfil do Instagram