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Chef deixa restaurante de luxo para cozinhar em escolas do Reino Unido

Estudantes participam do programa Chefs in School - Divulgação
Estudantes participam do programa Chefs in School Imagem: Divulgação

Antoniele Luciano

Colaboração para Ecoa, de Curitiba (PR)

30/12/2021 06h00

Criada na ilha de Malta, no Mediterrâneo, Nicole Pisani passou a infância vendo familiares gerenciarem restaurantes. Nenhum deles, no entanto, sabia cozinhar. Na escola, era comum que a comida oferecida não passasse de sanduíches de frango ou atum embalados em filme plástico. Quando se tornou adulta, a ideia de alimentar com qualidade outras pessoas se tornou um desejo forte na vida dela. Hoje, Nicole é criadora da Chefs in School, uma organização que busca melhorar a merenda escolar e capacitar os estudantes sobre nutrição e a origem dos alimentos. Mais de 20 mil alunos de 44 escolas do Reino Unido são abrangidos pela iniciativa por dia.

Até criar a Chefs in School, Nicole atuava no Nopi, restaurante renomado de Londres, pertencente ao chef e escritor israelense Yotam Assaf Ottolenghi. Ela cozinhava pratos requintados inspirados na cultura asiática, gerenciava uma equipe de 15 homens e ficava em pé cerca de 16 horas por dia. Mas, aos poucos, o trabalho que tomava em torno de 80 horas por semana da chef de cozinha foi perdendo o sentido para ela.

"A razão pela qual me apaixonei por comida foi para ver as pessoas gostarem e sentir que você está se conectando com alguém porque você cozinhou para elas. Mas, quanto mais tempo você passa em restaurantes, menos você tem essa sensação", contou Nicole ao site Positive News.

Escola comunitária

Depois de dois anos e meio, a chef decidiu deixar o trabalho no Soho e ir em busca de novos desafios. Foi quando viu um tuíte sobre uma escola primária no subúrbio de Londres que estava sem cozinheiro e se colocou à disposição.

Como chef nessa escola, Nicole passou a coordenar a alimentação de 500 crianças, com um orçamento de menos de 1 libra (R$ 7,57) por pessoa. O cardápio trazia ingredientes frescos e saudáveis, passando por brownies de beterraba e banana split, muffins de batata doce e espinafre e quiche de abóbora, receitas distantes dos cordeiros e linguados que Nicole preparava com ingredientes caros para seus clientes.

Chefs - Divulgação - Divulgação
Nicole Pisani, criadora do projeto Chefs in School
Imagem: Divulgação

A ideia era manter os alimentos que a escola tinha nas refeições, mas cozinhá-los de maneira diferente, com os pequenos se alimentando em pratos adequados, não em bandejas de plástico, e os cozinheiros trabalhando com roupas de chef, a fim de valorizá-los. "Nas cozinhas das escolas, a mentalidade é que eles são cozinheiros, não chefs. Mas seria muito bom ter pessoas que amam cozinhar nas escolas. Sempre adorei alimentar as pessoas. É gratificante", definiu ela.

Padrão de restaurante

A chef se empolgou tanto com o trabalho na escola comunitária que em 2018 criou a Chefs in School. A iniciativa conta hoje com 120 chefs treinados e tem sido replicada em regiões de Londres menos favorecidas socialmente. Além de ensinar os alunos a cozinhar, a cultivar hortas e a fazer compostagem, o projeto aplica padrões e técnicas de restaurantes nas escolas, orientando ainda a direção sobre como aprimorar suas cozinhas e refeitórios.

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O Chefs in School busca melhorar a merenda escolar e capacitar os estudantes sobre nutrição e a origem dos alimentos
Imagem: Divulgação

"Percebi que era muito mais do que um trabalho, havia tanto que eu poderia fazer no que diz respeito à comida e a toda a cultura escolar, ensinando de onde vem a comida e como fazê-la. Isso me permitiu ser criativa, projetar cardápios, escolher fornecedores, obter ótimos produtos e, em seguida, transformar isso em comida realmente boa", observou a chef.

Para Nicole, é preciso que a comida feita nas escolas também seja desejada. Se uma refeição não é aromatizada e temperada corretamente, não deveria ser servida para alguém, especialmente para uma criança. "Precisamos servir boa comida para crianças em todo o Reino Unido. Isso os beneficia, nos beneficia e, no final, beneficia a sociedade", disse.

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Para a criadora do Chefs in School, é preciso que a comida feita nas escolas também seja desejada
Imagem: Divulgação

Nova formação

Em 2021, a organização criou, em parceria com a Leap Federation, uma escola projetada especialmente para ensinar crianças em idade escolar a cozinhar, a Hackney School of Food. O próximo passo será lançar em breve uma formação de chefs escolares. O curso deve abordar aspectos como o tamanho das porções a serem servidas, como dirigir uma equipe de cozinha e evitar desperdícios de alimentos.