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Mariana Belmont

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Voar com os pés bem fincados no chão

Mari Belmont e Tony Marlon - Arquivo pessoal
Mari Belmont e Tony Marlon Imagem: Arquivo pessoal

16/12/2021 06h00

Eu ia escrever sobre outra coisa, ia falar desse mundo que todos os dias nos desafia para a sobrevivência. Foi isso que Tony também me instigou a formular quando me convidou para ser colunista aqui em Ecoa. Um desafio a partir do meu olhar: dizer o que eu esperava ou achava sobre o mundo, sempre em conexão com o coletivo.

O Tony é ponte e eu só fui perceber isso depois de uma conversa com o querido André Gravatá. Ele me explicou o que era ser ponte possível entre mundos, entre gentes diferentes, para algo que a gente podia não entender, mas ajudava a criar nessa imensidão.

E Tony é ponte desde o dia em que o encontrei pela primeira vez, quando, com a voz calma e firme, levou ao palco uma construção coletiva. Eu era aquela aluna da mesma universidade que a dele, que estava ali na plateia sonhando e desejando coisas coletivas para salvar um mundo, mesmo que fosse um mundinho.

Uma vez o Emicida me disse isso em um áudio "juntos vamos salvar o mundo, ou pelo menos um mundinho, que talvez seja o que a gente consegue dar conta". Acho que é isso.

Quis escrever sobre essa imensidão e força no mundo chamada Tony, porque é ele que ouve e só diz se achar que faz sentido. Ele que assiste às séries mais surreais com a gente e que conecta naturalmente quem precisa se conhecer e construir juntos. É uma zona sul do mundo, um país chamado Campo Limpo, para todas as nações.

Tony morou comigo duas vezes. Em ambas acho que ele mais me salvou de mim do que veio dividir aluguel. A generosidade, as conversas longas, as perguntas sobre como estávamos naquele dia, "vamos pedir comida?", "vamos tomar um vinho?", "tô precisando de uma cerveja". Tudo junto com amor e cuidado. Um sábado inteiro vendo clipe no YouTube e tomando cerveja, dançando e, no final do dia, indo dormir bêbados de alegria sobre apenas estar e ser.

Viver com Tony é fácil, mas é complexo pelos contornos. A gente junto olha para quem a gente foi, como era e como vamos avançar sem medo.

Quando Tony me convidou para cá, eu ouvi uma certeza na voz dele, ele acreditava em mim e nas coisas que eu formulava sem muito método. Escritas que são alma e coração, mas sobre o que a gente vive todos os dias em diferentes lugares deste país. Nem eu acreditava tanto em mim daquele jeito, mas hoje sim.

Estar com Tony é voltar ao nosso lugar, saber quais são nossos territórios de afeto, aquele lugar que construímos vínculos que viraram amor e política. A gente pode rodar o mundo, mas seremos sempre o lugar de onde viemos.

E Tony agora vai para outros cantos, outras aventuras e horizontes de trabalhos, mas sempre estará pertinho e construindo junto. Ele ama fazer as coisas juntos, ama ouvir e ser com a gente. Um livro que nunca acaba, um podcast longo, um filme de muitos roteiros incríveis e uma longa viagem para nos encontrarmos com os pés na areia.

É um texto para dizer que te amo, Tony. E agradeço pelos shows do Emicida, as lágrimas ouvindo "Mãe", aquele final do show dos Racionais ouvindo o KL Jay discotecando sozinho. Tá valendo a pena demais viver no mesmo tempo que você, construir com você e partilhar sonhos, risadas e lágrimas.

Sempre vai rolar espaço em casa para você, sempre vamos pedir aquela cerveja gelada e assistir ao filme do Jordan Peele que dá medo, inclusive "vem aí". Sempre vamos ter tretas para resolver com medo, mas verdade sobre o que achamos certo.

Tony, de onde eu te vejo, eu vejo o planeta todo da generosidade e dos contornos da vida, do jeito que a vida dá jeito. Um mundo inteiro na boniteza das palavras, dos abraços e das conversas que transformam. Uma aventura, que a gente descobre que os planos nunca funcionam como a gente acha. Uma aventura que pode ser aqui, ali pra cima do mapa ou do outro lado do mundo.

Obrigada por construir pontes, por nos provocar a olhar para dentro, por trazer pausas no caos. Mesmo tudo sendo urgente. E como diz Peu: "O melhor jeito de voar é com os pés bem fincados no chão".

Voa, libriano urgente, estaremos aqui sempre!