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Mariana Belmont

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Racismo e mentiras: a verdade sobre o discurso do ministro do Meio Ambiente

Joaquim Álvaro Pereira Leite, ministro do Meio Ambiente - Marcos Oliveira/Agência Senado
Joaquim Álvaro Pereira Leite, ministro do Meio Ambiente Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Mariana Belmont

11/11/2021 06h00

Chegamos quase ao fim da COP26, e estamos exaustos. Por questões pessoais não estive em Glasgow, correndo o risco da covid-19 me pegar. Mas daqui de casa, passei raiva.

Tive a honra de acompanhar de perto todas as atividades e ações da Coalizão Negra Por Direitos durante a Conferência e em outras agendas. Momento histórico importante, já que foi a primeira vez que uma comitiva do movimento negro esteve em uma Conferência das Partes. Participação que sempre foi fundamental, mas que para os governos e organizações brancas nunca foi importante e essencial.

Conferências como essa deveriam ser em grande maioria lideradas por movimentos que lutam historicamente por sua sobrevivência no planeta. Povos originários, movimento negro e comunidades pobres de todo o mundo deveriam estar nesse espaço, feito só para os homens brancos. Negociações de homens brancos com comida boa, muitos empregados e whisky.

Bom, o papel do Brasil não surpreendeu, né? Ainda teremos muitas análises nos próximos dias, mas todos os dias o governo brasileiro passa uma vergonha diferente. Mas até aí, sem novidades. Um governo administrado por negacionistas, mentirosos e devastadores do meio ambiente só poderia se comportar assim.

E dos mesmos criadores de "aproveitar para ir passando a boiada e mudando o regramento", por Ricardo Salles, agora temos o "reconhece que onde existe muita floresta também existe muita pobreza", por Joaquim Leite. Dois Ministros do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, que cumprem direitinho, sem nem ao menos titubear, o plano de governo da destruição e da violência contra os povos da floresta.

Nos deparamos então com uma uma fala racista do ministro do Meio Ambiente. Vale comentar o uso da palavra "muita floresta", em uma óbvia demonstração da visão deste governo federal sobre o meio ambiente como prejuízo. Podemos dizer então, senhor ministro, que você prefere dizer "onde existe pouca floresta não existe pobreza"?

Floresta em pé é gente viva, ministro!

São povos originários, comunidades tradicionais e quilombolas que vivem na floresta. São as verdadeiras riquezas do Brasil. São os guardiões da floresta, que seguram nas mãos o desafio de sobreviver ao desenvolvimento que mata, desmata e expulsa. Em carta lançada na COP26, a Coalizão Negra Por Direitos destacou o papel dos territórios quilombolas como estratégias para o desmatamento zero. Algo que o governo finge querer apoiar em discursos como este, com a intenção de construir a imagem de um país à venda. É mentira desde o primeiro dia da Conferência.

O discurso para o mercado inclui "Programa Nacional de Crescimento Verde" e "geração de empregos verdes". Mas qual crescimento, Jair? Precisamos pensar em um novo ciclo econômico que não repita os mesmos processos históricos de carbonização do Planeta, que impactou, majoritariamente, as populações periféricas, negras e os povos originários. O que é atingir essas metas, considerando um país de violências históricas, como o racismo ambiental? É uma crise humanitária e as respostas têm que vir nessa mesma direção. Mas os direitos humanos não existem no governo Bolsonaro.

Essa fala é mais um exemplo racista deste governo, que não enxerga aqueles que vivem na floresta e construíram o Brasil até aqui. É mais uma estratégia de invisibilização por parte do Estado brasileiro. A realidade da população negra brasileira e dos quilombolas é fruto do planejamento equivocado do Brasil e do racismo ambiental.

O pessoal do Observatório do Clima fez a verificação do discurso do ministro, vale dar uma olhada na ladainha que não engana ninguém. Mente sobre ambição de meta climática do Brasil e faz ligação inexistente entre floresta e pobreza. Vendedores de enganação.