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Mariana Belmont

Candidatas e candidatos, a pandemia não acabou

15/10/2020 04h00

Estou há duas semanas escrevendo sobre nossas eleições municipais, momento essencial para as cidades desenharem projetos de futuro com novas e novos prefeitas e prefeitos, vereadoras e vereadores. Momento em que podemos escolher como vamos caminhar nos próximos quatro anos.

Hoje completamos 215 dias de pandemia, são sete meses de crise sanitária, econômica, social e política. Não que antes estivesse bom, não estava, mas o coronavírus veio para escancarar - sem dó, nem piedade - a desigualdade e violência social em que vivemos. Ultrapassamos a marca de 150 mil mortos, perdemos amigos, família e pessoas próximas. Perdemos referências, mestras e mestres. Só perdemos.

Minha família segue em quarentena lá em Parelheiros, de forma bem mais flexível, mas segue lá e eu sigo aqui, há sete meses sem encontrá-los. Tô com bastante saudade do meu padrinho, da minha tia, do meu afilhado e dos meus amigos. Mas meu padrinho já é um senhor idoso, ele vai me matar se ler isso, e minha tia uma pessoa linda que está com problemas sérios de saúde e é diarista, e precisa ficar em casa para não pegar esse vírus aí.

Pensando nessas pessoas - como meu padrinho e minha tia - a sociedade civil organizada precisou reforçar ainda mais o trabalho nos territórios periféricos. O Estado que já não habitava o imaginário de solução das pessoas, de novo não deu conta de atender as pessoas desde o dia um de pandemia. E sim, poderia ter sido ainda pior sem o SUS, serviço mais do que essencial e fundamental para salvar as pessoas, e que precisa ser mais valorizado e receber mais investimento com urgência.

Enfim, eu falei nesta coluna, uns amigos escreveram, tá colocado todo o caminho que percorremos até aqui nesse caos, nessa ansiedade de sobreviver todos os dias, principalmente quem não tem o privilégio de ficar em casa trabalhando. Pessoas que perderam emprego ou que precisaram continuar pegando ônibus cheio para trabalhar.

Mas Mariana, seu texto não era sobre eleições? Sim, é que não dá pra desvincular uma coisa da outra. Vejam, desde que começaram as especulações se ia ou não ter eleição, se íamos ou não mudar de data, o que mais me atravessava e o que conversava com parceiros de trabalho, amigos e em reuniões de articulações da sociedade civil, era como ia se dar uma campanha eleitoral que precisa essencialmente estar nas ruas, durante a pandemia?

Como sairíamos para panfletar e conversar com as pessoas, numa tentativa de ir além das redes sociais que nos limitam em bolhas? Como reunir pessoas para falar das propostas? Como?

Eu assumo que até agora não sei qual é o caminho e não vi nada de excepcional que nos ajudasse com um novo jeito. Talvez ele não exista.

E eu entendo, de verdade, que precisamos forçar a barra, pedir voto para os nossos candidatos, para quem a gente acredita, uma força coletiva para que os espaços de decisão mudem de cara, nome e sobrenome. Sonhamos que pessoas diversas ocupem a política institucional. Não queremos - não dá mais - que esses espaços sejam preenchidos somente por famílias historicamente profissionalizadas, aparelhadas e amparadas pelo modelo da velha política...

Mas é um ano atípico, é um momento confuso e com Coronavírus. Uma grande amiga perdeu as duas irmãs em menos de uma semana. Uma tristeza atravessa essa família que zero merece passar por isso. Todos nós de alguma forma perdemos alguém próximo, conhecido e amado. Se não perdeu, agradeça e se cuide.

Tenho visto e acompanhado os candidatos pelas redes sociais, de vários partidos e lados - isso para quem gosta de definir a política em dois lados. As postagens retratam o irretratável: aglomeração, abraços, um monte de gente na rua, encontros grandes em espaços pequenos, chamados para sair nas ruas, carreatas e tantos formatos que eu acho que mais confundem o eleitor do que qualquer outra coisa.

Estamos há meses pedindo para que todos se cuidem, usem máscara, lavem as mãos, fiquem em casa se puderem e tantas outras orientações. É claro que não tô comparando com o presidente da república, que desde sempre não respeita o momento difícil que o país está passando, e ainda espalha informações que não ajudam em nada a diminuir o número de mortes.

Não é a hora da gente liberar geral, de aglomerar e incentivar encontros, não é hora de uma campanha como em outros anos. Ainda estamos em pandemia. Parece simplório demais dizer isso, mas as pessoas continuam morrendo, muitos países da Europa estão voltando a restringir atividades sociais e determinando isolamentos após registros de aumentos recordes de casos.

Isso também serve para os amigos que estão se encontrando no bar, no samba, no showzinho e em churrascos. Mas claro, eu imagino e sei que tá difícil, duro ficar tanto tempo em casa, sem ver as pessoas, e com tanta restrição. É péssimo mesmo e todo mundo já cansou e não aguenta mais.

Mas ao mesmo tempo sinto mais gente próxima morrendo. Então, meu pedido nesse texto é mais sobre cuidado, sobre se cuidar individualmente para que o outro também esteja protegido. As campanhas estão mais difíceis, mas precisamos entender as dinâmicas para proteger. Não dá pra fazer carreata com cinquenta pessoas, chamar para colar em uma praça, incentivar a sair de casa para alguma conversa pública, as pessoas precisam usar máscara e serem incentivadas a isso, não encher ainda mais os lugares em que as pessoas na verdade estão sendo obrigadas a estar, porque precisam trabalhar.

Enfim, candidatas e candidatos, cuidado nas ruas ao fazer campanha. A pandemia não acabou e é seu papel, como futuro gestor, incentivar o cuidado e segurança e assegurar a saúde das pessoas.

Precisamos estar vivos para enfrentar o autoritarismo, o fascismo, e combater o contexto social e ambiental que se caracteriza em uma imensa desigualdade social nas cidades, sejam elas em ambientes rurais e urbanos. Precisamos estar vivos!