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Mariana Belmont

Eleições e a oportunidade de criar cidades com justiça social e ambiental

08/10/2020 14h58

Estamos há 38 dias das eleições. Sim, no dia 15 de novembro, a gente sai de nossas casas, com máscara e álcool gel para escolher nossos representantes. No caminho até a zona eleitoral, ônibus, metrô e trem estarão cheios, afinal, além de ir votar, muita gente trabalha aos domingos e segue para seu trampo no transporte lotado.

Não sei como é no seu bairro, mas no meu sempre choveu em dia eleição, é tradição. Aí a gente mergulha nas ruas alagadas com o adicional de folhetos de candidato coronel jogados pelas ruas. Uma grande cena deplorável.

Inclusive vou aproveitar e fazer um lembrete, e vou fazer aqui porque vou mandar esse texto lá para o meu padrinho e para minha família toda ler na Colônia (Parelheiros, extremo sul da cidade de São Paulo). Vou pedir para ninguém fazer, ou deixar o vizinho fazer, o movimento de pegar santinho do chão e votar em qualquer pessoa que disputa espaço do asfalto sujo para ganhar e não fazer absolutamente nada durante os quatro anos.

Eu gosto de uma música do Emicida, que chama "Cananéia, Iguape e Ilha Comprida", é linda, mas eu sou suspeita. Ela me veio agora na cabeça: é sobre a realidade e sonhos, sobre esse encontro. Será que dá para sobreviver nas mais diversas periferias das cidades e sonhar por bairros e ruas melhores? Com qualidade de vida? Eu gosto muito de pensar que sim.

"No paralelepípedo, trabalhador intrépido
O motor está no ímpeto onde começa tudo

O vento acalma o rápido, pra todo som eclético
Vitrolas cantam clássicos num belo absurdo
Metrópoles sufocam, são necrópoles que não se tocam
Então se chocam com o sonho de alguém
São assassinas de domingo a pausar tudo que é lindo
Todos que sentem isso são meus amigos, também..." - Emicida

É muito importante que a gente amplie a discussão sobre a cidade que queremos, sobre os espaços comuns e, sobretudo, sobre nossa participação efetiva na construção das cidades mais justas e humanas, que façam sentido para nossos pais, avós e irmãos. É sobre buscarmos um futuro, sobre podermos ter a capacidade e o olhar para sonharmos com mais que o básico. E é muito difícil, com ou sem pandemia, porque a falta do básico, a falta de direitos em nossos territórios é constante.

Além da movimentação de ocupar os espaços de decisão, tem uma porção de gente que toma a frente e coloca o próprio corpo e força em lutas diárias diárias de salvar as cidades do poço sem fundo cheio de homens brancos coronéis. Eu boto muita fé em um tanto enorme de nomes.

Cadê nossas agendas? Nossos planos de cidade? Planos de bairro? Nossa mão nos orçamentos? Teremos! E o passo é replicar informações e abrir espaços para somarmos força e construirmos, juntas e juntos, horizontes. E para pensar futuro, a gente precisa trazer a pauta climática, o combate ao racismo ambiental e a falta de qualidade de vida que ocorre em muitos territórios do Brasil, para dentro do debate e das nossas escolhas.

E se a gente tivesse uma Agenda Urbana do Clima?

Essa semana mais de 20 organizações da sociedade civil e outras instituições se uniram para produzir, coletivamente, uma agenda urbana mínima do clima, que lista 10 ações prioritárias - e URGENTES - a partir da realidade das cidades brasileiras. A iniciativa também propõe desdobramentos e caminhos para implementação destas ações, sempre considerando os impactos das mudanças do clima nos centros urbanos. A Agenda Urbana do Clima já tem site e já está no mundo, aqui: http://www.agendaurbanadoclima.com.

Para democratizar a informação, promover a melhoria da qualidade de vida da população, combater as desigualdades sociais e orientar - e comprometer - candidatas e candidatos nas eleições municipais de 2020, a Agenda Urbana do Clima reúne diretrizes para a formulação de políticas públicas de desenvolvimento urbano.

O contexto amplia a responsabilidade para que as políticas de desenvolvimento urbano promovam justiça social e ambiental. Candidatas e candidatos a cargos de prefeitos e vereadores que disputam as eleições precisam, mais do que nunca, construir agendas de recuperação econômica e social que busquem o equilíbrio ambiental e considerem os impactos das mudanças do clima. Preservar e investir no meio ambiente gera oportunidades, aumenta a competitividade econômica e promove a inclusão social nos grandes centros urbanos.

Os impactos sociais e econômicos da pandemia da COVID-19 tornam ainda mais estratégica a colaboração entre sociedade civil e governos locais para uma recuperação econômica inclusiva, ambientalmente responsável e socialmente justa. Para isso, de maneira prioritária, tal colaboração deve levar em conta famílias em situação de vulnerabilidade, trabalhadores, territórios periféricos, agricultores familiares, comunidades quilombolas e povos indígenas, que são os mais afetados pela atual crise e por uma emergência climática.

É essencial que esse documento seja acessado, compartilhado entre as candidaturas das cidades, mas também é fundamental que a sociedade civil incorpore as ações. A pauta das mudanças climáticas precisa ser de todas as organizações, todas as pessoas, e precisa ser colocada como pauta prioritárias na imprensa e nas discussões de associações de bairro, cursinhos populares, organizações de base e coletivos dos mais diversos territórios.

É fundamental que a agenda climática seja também conversada, debatida e aprofundada pela maior parte da população, precisamos com urgência ultrapassar esse obstáculo e dar prioridade para construção de cidades para as pessoas. Eu acredito que esse documento dá um passo muito importante nessa discussão, para que nossas famílias saibam, para que a comunicação seja atravessada por essa urgência.

E se aproxima o dia 15 de novembro, e, com ele, as eleições municipais, momento de escolhermos candidatas e candidatos que também escolham fazer uma gestão com as pessoas, com você e com seus vizinhos. E temos muita pressa por lugares que nos façam respirar e viver melhor. Eu tenho pressa.