Plano de fortalecer EUA e China deixa Audi atrás de rivais no Brasil
A Audi vive uma contradição perigosa. Seis meses após ter declarado sua intenção de retomar a produção no Brasil (releia aqui), ainda afirma o país é fundamental, mas não pode cravar que terá fábrica no Brasil, por questões internas e a preferência por fortalecer as vendas nos Estados Unidos e China. E por mais que seus executivos sejam só elogios ao potencial de nosso mercado, suas declarações perdem importância frente já que BMW (a primeira a se decidir) e Mercedes-Benz (bateu o martelo na abertura do Salão de Frankfurt) já confirmam fábricas e até modelos a serem feitos em nosso país.
Curiosamente, a marca de Ingolstadt e o Brasil estão na capa da edição desta quinta-feira (12) do jornal Börsen-Zeitung, de Frankfurt, que aponta o país como destino fundamental para os planos da marca. Atualmente, com carros chegando apenas por importação e interesse minguante frente aos rivais e até aliados (o novo Golf tem o mesmo nível de equipamentos, mais beleza e preço mais interessante), o país é só o 25º mercado para a marca premium, com meta de chegar a 7 mil emplacamentos este ano -- é quase o dobro de 2012, mas pouco no plano mundial.
Audi também mostrou A3 sem capota (acima) em Frankfurt e exibiu futuro com conceito Nanuk
Mas com produção local de modelos como o médio A3 e até mesmo um crossover como o Q3, o país poderia ajudar a marca a bater seu objetivo de entregar 1,5 milhão de unidades este ano, chegando a 2 milhões de carros em 2015 (antecipado em dois anos por conta da concorrência). Isso não fosse este plano tem como principais mercados China e EUA, que nada têm a ver com o Brasil e "roubam" as atenções da montadora.
"O Brasil é o maior país sul-americano, é rico em recursos e, economicamente, vai seguir tendo um desenvolvimento positivo nos próximos anos. Claro, estudamos a produção local, mas existem diversas possibilidades", afirmou o presidente da Audi, Rupert Stadler, em entrevista ao Börsen.
Foi exatamente a mesma resposta ouvida por UOL Carros de outros dois executivos de alto escalão da marca esta semana. "O desenvolvimento do mercado brasileiro é de fundamental importância nos próximos anos, o consumidor está mais informado e cobra mais, mas não podemos deixar de avaliar outras opções", afirmou Ulrich Hackenberg, membro do conselho do grupo Volkswagen e chefe de engenharia da Audi.
Para Luca de Meo, diretor de marketing global do grupo, a operação no país "é fundamental, tem chances de ocorrer com facilidade, uma vez que o grupo tem instalações funcionais disponível [trata-se da unidade da Volks em São José dos Pinhais, no Paraná, que já foi dividida pelas marcas nos anos 1990 e 2000 e está bem cotada para voltar a entregar os novos Golf e A3], mas não posso dizer que este é nosso único objetivo".
CONCORRENTES GLOBAIS
Para chegar à meta de 2015, a Audi conta com vendas polpudas na China, onde há inclusive a costura de acordos com o governo, uma renovação do potencial da unidade da Hungria (que entrega, por exemplo, o novo A3) e o fortalecimento do mercado americano, consumidor de A4, A6, A8 e dos SUVs Q5 e Q7, principalmente.
Do México e sua fábrica recém-erguida, sairá a nova geração do Q5 que deve abastecer os EUA. E este é o ponto-chave: os modelos a serem produzidos no Brasil teriam pouca relevância para os americanos, por exemplo, por serem considerados pequenos demais. Além disso, a falta de acordo comercial elevaria o preços das importações de modo crucial.
Resta saber se ficar atrás das montadoras rivais no maior mercado latino-americano não representa também um grande perigo.
Viagem a convite da Anfavea
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