Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Relembre cinco modelos cruciais na história da Jeep, que completa 80 anos
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(SÃO PAULO) - Em 4 de abril comemora-se mundialmente o Jeep Day, data alusiva à tração 4x4, principal característica desses carros. Era um tanto informal até 2016, quando passou à celebração oficial. Ocasião devida para relembrar as raízes da marca e cinco modelos cruciais em sua história.
Tudo começou quando os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial para reforçar o time dos Aliados, composto por Reino Unido, França e União Soviética; contra o Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão.
Em meados de 1940, o Exército americano solicitou que 135 fabricantes se apresentassem para desenvolver um veículo militar inédito. Leve, ágil, capaz de carregar quatro soldados e armamentos, versátil para inúmeras conversões (ambulância, por exemplo) e com tração nas quatro rodas, substituiria motocicletas e cavalos.
Certos requisitos estabelecidos pelo Exército eram irreais, como o peso máximo de 454 quilos e o prazo de 49 dias para construírem um protótipo e mais 70 veículos de teste em 75 dias. Quase ninguém atendeu ao "convite", exceto Bantam e Willys-Overland - e posteriormente a Ford.
No fim das contas, a urgência em pôr o utilitário no combate relaxou algumas exigências, o carro acabou ficando maior e o peso máximo permitido subiu para 986 kg. A cada uma das três fabricantes foram encomendados 1.500 veículos, que seriam testados na vida real: o da Bantam era o mais econômico, o da Willys - batizado de Military A, sucessor das duas unidades montadas do protótipo Quad - o mais potente e o da Ford o mais fácil de guiar.
Ocorre que três jipes diferentes demandariam três suprimentos de peças, três times de engenheiros para reparos, três vezes mais isso e aquilo. Decidiu-se então padronizar o veículo, que basicamente era uma junção das melhores soluções das três fabricantes. Em meados de 1941, o Willys MB (sucessor do MA) começou a ser fabricado. No fim daquele ano, a Ford fora chamada para incrementar a produção com seu GPW.
Mas todos eram tratados por "jeep", cujo significado admite duas versões. Uma explica que o nome vem de GP, abreviação de "general purpose", resumindo a ideia de um veículo de propósitos diversos. A outra se refere a "Eugene, the Jeep", aquele do desenho do Popeye, que tinha o poder de ir a qualquer lugar num passe de mágica, o que simbolizava as intenções do veículo militar. Jeep se tornaria marca registrada pela Willys-Overland apenas em 1950, após longa disputa judicial com a nanica Bantam.
Ao fim do combate, a Willys produzira 283 mil exemplares e a Ford, 237 mil. À Bantam coube fabricar carretas, rebocadas pelos jeeps.
Willys MB
O protótipo Quad pode ser considerado a gênese da marca. Mas o Willys MB é o carro que transmitiu o conceito de carro compacto desbravador ao redor do mundo. É tido com um dos heróis da Guerra: Dwight D. Eisenhower, general do Exército Americano durante o combate e posteriormente presidente dos EUA (1953 - 1961), elencou o veículo como um dos componentes que garantiram a vitória das Forças Aliadas.
Num artigo de 1943, o jornalista correspondente de guerra Ernie Pyle escreveu: "eu não acho que poderíamos continuar a guerra sem o jeep. Ele faz tudo. Vai para todo lugar. É fiel como um cão, forte como uma mula e ágil como um cabrito. Carrega constantemente o dobro do que foi projetado para e ainda continua funcionando".
Brandt Rosenbusch é historiador da Jeep e resumiu a esta coluna a dimensão do Willys MB. "Acredito que alguém teria inventado algo pelo menos semelhante, mas naquele momento o mundo precisava de algo que não tinha visto antes. Muitas mentes começaram a criá-lo com um propósito: ganhar uma guerra. E o MB deixou uma marca tão forte nas Forças Armadas e no mundo que o governo o desejou em mãos civis o mais rápido possível", avalia.
CJ-2A
E a Willys-Overland começou a projetar essa versão civil já em 1943, tendo recebido a permissão para a produção em 17 de julho de 1945, quase um mês antes do fim oficial da guerra. "O CJ-2A foi usado para uma incrível variedade de trabalhos: na agricultura, como veículo de entrega e até serviço florestal. Ele atendia todas as necessidades. A Willys chegou a comercializá-lo como o "Universal", porque era muito versátil", explica Rosenbusch.
Foi, portanto, o primeiro veículo de tração nas quatro rodas produzido em massa disponível ao público. Antes disso, caminhões de baixo volume ou veículos militares eram os únicos 4x4.
Baterista d'Os Paralamas do Sucesso, João Barone é referência não apenas quando o assunto é música, mas também veículos militares. "O Jeep é uma espécie de ovo de Colombo: alguém descobriu que um veículo 4x4 é pau pra toda a obra. Independente do conforto, vai a qualquer lugar. No Brasil, onde até hoje tem lugar sem estrada direito, ele se adaptou muito bem, sobretudo nas áreas rurais. E, além do Fusca, muita gente aprendeu a dirigir em um jipe", me explicou certa vez.
Por aqui, começou a ser montado em 1954 em São Bernardo do Campo (SP) pela Willys-Overland do Brasil, passou a ser produzido em 1957 e seguiu até 1983, quando a Ford - que comprara a conterrânea em 1967 - o descontinuou.
O CJ (abreviação de Civilian Jeep, ou jipe civil) também foi o primeiro a exibir a grade dianteira com sete fendas (duas a menos que no MB), marca registrada dos veículos da Jeep. Em 1986, com mais de 1,5 milhão de unidades fabricadas, o CJ abre caminho para o Wrangler.
Willys Wagon
Logo a Willys apostou que haveria forte demanda por variantes daqueles utilitários e em julho de 1946 lançou aquele que seria o parâmetro para os próximos SUVs. Se antes da Guerra modelos similares tinham parte da carroceria em madeira, esta era toda em aço - imune às intempéries, descascamentos e rangidos eram vantagens alardeadas à época, bem como a escotilha na porta traseira.
Capaz de levar sete ocupantes, ganhou tração nas quatro rodas em 1949. Considerando os anos de produção da Rural - sua versão brasileira - foram 35 anos em produção.
Cherokee
O Jeep Wagoneer abriu a estrada dos SUVs de luxo em 1966, mas foi o Cherokee quem asfaltou, iluminou e sinalizou o caminho a partir de 1974. Virou uma espécie de Rocky Balboa do universo automotivo: já foi imbatível um dia, inspirou muita gente a se aventurar no esporte e hoje é um ídolo do passado - mas que todo mundo respeita e venera.
E pensar que começou como um SUV de duas portas na primeira geração - justamente como uma versão rejuvenescida e esportiva do Wagoneer. Em 1984 apareceu a segunda geração, que apresentou o Cherokee ao mercado brasileiro, icônica com seu estilo quadradão.
No Salão de Detroit de 1992, o que seria a terceira geração acabou sendo a primeira do Grand Cherokee, que se apresentou ao mundo atravessando uma vidraça no Cobo Center, o centro de convenções do evento. Talvez um tanto exagerado, mas o novo modelo acabou bancando todo o estardalhaço com os prêmios de SUV do ano que abocanhara no decorrer do ano.
Merece destaque a versão SRT8 e seu 6.1 V8 HEMI, de 420 cv. Tal legado de esportividade (ou seria insanidade?) foi continuado pelo Cherokee Trackhawk, da quinta geração - que acaba de passar o bastão para a sexta encarnação, a primeira com três fileiras de assento.
Wrangler
A herança do CJ não é apenas visual. Desde 1986 até hoje, o Wrangler carrega os conceitos do primeiro Jeep civil, como valentia, versatilidade e a certeza de uma viagem que será cumprida. Porém, tecnicamente, há uma grande distância entre ambos, sendo o Wrangler mais confortável e, equipado e urbano.
A geração YJ já é um clássico que começa a despontar - embora seus faróis retangulares não tenham agradado os puristas. Na fase TJ, que estreou em 1997, o modelo se consagrou 4x4 do ano, não por ter resgato o estilo do CJ, mas pela desenvoltura on road aliada à capacidade off road.
A versão JK expandiu as possibilidade de carroceria, oferecendo inclusive um modelo e quatro portas - e até o teto podia perder, dependendo da aventura. A fase atual, JL, manteve o estilo brucutu, mas é o mais dócil dos Wrangler. E recentemente ganhou uma versão elétrica.
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