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Zarlenga retorna para investir na cadeia automotiva

Marcelo Justo/UOL
Imagem: Marcelo Justo/UOL

Colunista do UOL

07/10/2021 04h00

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Carlos Zarlenga renasceu para o mundo automotivo exatamente 43 dias após ter renunciado à posição de presidente da General Motors para a América do Sul, cargo que ocupou nos últimos cinco anos.

Mas engana-se o leitor ao imaginar que ele retornou à liderança de outra fabricante de veículos, ou até para o ramo de autopeças. Zarlenga fundou um escritório de investimentos e operações para adquirir empresas na indústria da transformação, a Qell Latam Partners, ou QLP.

Um dos sócios de Zarlenga é Barry Engle, ex-Ford, ex-GM e CEO da Qell SPAC, fundada por ele mesmo em setembro de 2020, em São Francisco, nos Estados Unidos, uma empresa de capital aberto na Nasdaq que tem como objetivo a aquisição de ativos e a execução de investimentos dedicados ao desenvolvimento da mobilidade.

A expansão desse novo modelo de negócios para o setor industrial aqui no Brasil terá, também, Fernando Valim, experiente executivo com passagens por diversas empresas brasileiras e multinacionais, como um dos fundadores e sócio da QLP.

Na prática Carlos Zarlenga terá que inovar, propor novas alternativas às já conhecidas maneiras de conduzir os negócios e estabelecer planejamentos de longo prazo a partir da aquisição de empresas, sobretudo da cadeia automotiva.

Trabalhar na gestão e criar o que ele chama de plataformas, ou o agrupamento de mais de uma organização, será uma das etapas dessa nova forma de empresas atuarem em conjunto para gerar maior eficiência e valor de mercado.

"Estamos olhando para aquisições em operações regionais das multinacionais de grande porte, que possam valer de US$ 500 milhões a US$ 3 bilhões."

Zarlenga se divertiu com as especulações nesses últimos quarenta dias de que poderia assumir a presidência de outra fabricante de veículos: "Não sairia de uma montadora para pegar outra".

Confira alguns trechos da entrevista. O conteúdo completo está no site de AutoData.

Qual foi a motivação para mudar radicalmente a sua carreira profissional?

Eu gosto muito da GM, aprendi muito lá, criei grandes amizades dentro e fora da empresa, foi uma experiência sensacional. Mas também sempre gostei de observar os movimentos de toda a cadeia industrial e de entender como ela é e como poderia ser. Neste momento temos uma diferença no timing das coisas que acontecem na América do Sul e lá fora.

Enquanto em 2030 diversos países terão 60% das vendas concentradas em veículos mais modernos de emissão zero, aqui serão 15%. Essa transição que já está acontecendo é três, quatro vezes mais lenta na América do Sul. 80% das empresas do setor automotivo na região são multinacionais, que estão focadas na transformação que ocorre em suas matrizes. Então há pouco espaço para construir soluções locais, de ponta, realmente novas.

Outro problema é que essas operações não estão olhando para o longo prazo dos mercados sul-americanos. Essa é a oportunidade que queremos trabalhar: ir até o headquarter dessas empresas e adquirir as operações no Brasil para criar plataformas grandes com outras empresas nacionais e gerar eficiência, reduzir custos, trazer engenharia para cá, desenvolver tecnologias que vão nos acompanhar por muito tempo.

É um momento único na indústria. Eu quero ficar no Brasil, gosto muito daqui e da indústria automotiva e acho que é o momento ideal para lançar uma empresa de aquisições que possa gerar maior valor. Sinceramente, são tantas motivações que não foi uma decisão muito difícil.

Quem foi atrás do outro primeiro? Você ou Barry Engle?

(risos) Nós nos conhecemos há muito tempo, mas a decisão foi minha e uma vez que tomei a decisão procurei o Barry.

Qual o objetivo das aquisições de empresas? Melhorar essas operações, conectá-las em plataformas e depois se desfazer do negócio para obter algum retorno?

Não é possível fazer aquisições na indústria automotiva com mentalidade de curto prazo. Evidentemente no longo prazo há oportunidades para fazer muitas coisas com essas empresas, IPO, dentre outras opções. O ponto é que somos investidores de longo prazo. Vamos buscar os ativos que eventualmente não fazem mais sentido para as multinacionais e que sejam capazes de continuar gerando valor com uma gestão mais eficiente e em plataformas.

Queremos construir essas possibilidades, mas não ocuparemos qualquer posição executiva. Acreditamos no nosso potencial como empresa de investimentos porque podemos concentrar os esforços gerando mais competitividade quando o negócio principal é o que está operando aqui, e não perseguindo os objetivos globalizados como o das multinacionais. Todos olham as oportunidades na América do Sul sem necessariamente concentrar seus esforços nessa região.

Qual o capital financeiro que a Qell Latam Partners possui para fazer essas aquisições?

Também estamos construindo essa equação buscando interessados nos investimentos que estamos propondo. Posso dizer que temos capital no Brasil e internacional para fazer aquisição de empresas de grande porte, com valor de US$ 500 milhões a US$ 3 bilhões, que é o nosso foco. Fazemos três coisas aqui: a estratégia de investimento, o contato com investidores ou parceiros e trabalhamos na gestão para criar valor após a aquisição. Mas sem a estratégia os outros pontos não se conectam.

Sobre essa mudança radical na sua rotina como executivo: há diferenças na maneira de trabalhar numa estrutura como a da GM e, agora, numa empresa de aquisição e investimentos?

São coisas bem diferentes. Mas o que eu mais gostava na GM era justamente ter que usar a cabeça para solucionar problemas. E, aqui, o que fazemos o tempo todo é usar a cabeça para solucionar problemas (risos). As pessoas que se juntaram aqui são profissionais excepcionais. Estou aprendendo bastante e, também, estou muito empolgado com o que podemos fazer.