Por que Claudia Leitte é acusada de intolerância religiosa por mudar letra?
Um vídeo de Claudia Leitte cantando "Caranguejo", em 2014, viralizou e virou assunto nas redes sociais nos últimos dias. O registro é retirado do DVD Axe Music: Ao Vivo no Recife e chama a atenção, pois a cantora mudou a letra do hit de sua ex-banda, o Babado Novo.
O que aconteceu
No vídeo, Leitte alterou o último verso da música e trocou "Saudando a rainha Iemanjá" para "Só louvo meu rei Yeshua". Iemanjá é uma orixá de religiões de origem africana, já Yeshua significa "Jesus" em hebraico.
Nas redes sociais, usuários apontam intolerância religiosa da artista, que é evangélica. A música foi cantada por ela pela primeira vez em 2004, quando ela ainda não havia se convertido e cantava com a letra original.
Quem a criticou argumenta que o Carnaval é uma manifestação cultural com inspiração nas religiões de matriz africana. A crítica aponta que artistas se "beneficiariam" da festa sem entender suas referências.
"Caranguejo" é uma composição de Alan Moraes, Durval Luz e Luciano Pinto, que trabalham há muitos anos com a cantora. Esta não é a primeira vez que Claudia Leitte faz a troca dos versos, como mostraram alguns seguidores.
Procurada por meio de sua assessoria, Claudia Leitte não respondeu aos questionamentos do UOL. Caso haja resposta, a matéria será atualizada.
"Só louvo meu Rei Yeshua"
-- Africanize (@africanize_) February 13, 2024
Claudia Leite simplesmente mudou a letra para não saudar Yemanjá. pic.twitter.com/TASUGA76tV
Afinal, qual a relação de evangélicos com o Carnaval?
A relação dos evangélicos com o Carnaval, historicamente, nunca foi das mais próximas, de um modo geral. Algumas igrejas entendem o Carnaval como símbolo de pecado e, por isso, acreditam que a festa não deveria ser frequentada, explica o pastor e doutor em ciências da religião Kenner Terra.
Ir ao carnaval configura um ato contrário aos costumes de certos grupos religiosos. Aliás, para a maioria das denominações, a conversão, entre outras coisas, é comprovada com o afastamento desses entretenimentos, considerados mundanos.
Kenner Terra, pastor e doutor em ciências da religião
O estudioso entende não haver pecado por simplesmente estar ou participar desses eventos. Segundo ele, se trata apenas "da participação em expressões da brasilidade", mas, para muitos evangélicos, essa relação ainda é um tabu.
Por outro lado, há evangélicos que veem o Carnaval como uma oportunidade de envolvimento evangelístico e testemunho. Em algumas comunidades evangélicas, tradicionalmente, igrejas organizam eventos alternativos durante o Carnaval.
Retiros espirituais, conferências, ou até mesmo blocos de carnaval gospel, em que se celebra a fé cristã consideradamente mais alinhado com as convicções religiosas, são alguns dos exemplos de relação de grupos evangélicos com esta época do ano.
'Macetando o Apocalipse'
Outra cantora evangélica, Baby do Brasil, também repercutiu neste carnaval. Em cima do trio, a cantora verbalizou: "Todos atentos porque entramos em apocalipse. O arrebatamento tem tudo para acontecer entre 5 e 10 anos. Procure o Senhor enquanto é possível achá-lo", declarou Baby, pedindo para que Ivete cantasse "Eva", canção de outros carnavais que, apesar do clima alegre, tematiza justamente o apocalipse.
"Eu não vou deixar acontecer, porque não tem apocalipse certo quando a gente 'maceta' o apocalipse", respondeu Ivete com choque e algum bom humor. A cantora preferiu não ir pelo lado apocalíptico e preferiu cantar seu novo hit, "Macetando", ao invés de "Eva".
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